Celebrada internamente, entre a direção da Gávea, e efusivamente pela torcida do Flamengo nas redes sociais, a inédita transmissão da FlaTV do jogo contra o Boavista, na última quarta-feira (1), promete ter sido o primeiro passo de uma transformação significativa na forma como o futebol brasileiro é promovido, transmitido e comercializado pelos clubes, e consumido pelos fãs.
Na visão de José Colagrossi, diretor-executivo do IBOPE, a experiência do Flamengo foi um “gol de placa”, com números expressivos, mas há ressalvas importantes a serem feitas, especialmente na comparação entre o alcance e penetração da transmissão digital e da transmissão “tradicional”, ou seja, pela TV aberta.
”Foi um extraordinário sucesso (a transmissão de Flamengo e Boavista). Não existe outra maneira de apresentar isso. Agora, dito isto, tem dois aspectos importantes: era de se esperar. Não deveria ser surpresa para ninguém. É uma torcida gigantesca, uma nação, que estava sem assistir jogos há mais de três meses, uma demanda reprimida extraordinária. Nem em Copa do Mundo isso acontece. O clube está vivendo seu melhor momento da história, comparável ao time do Zico e Andrade, quase ganhou o Mundial. No Brasil, ganhou tudo. É um momento extraordinário e uma torcida engajadíssima. Os números não devem ser surpreendentes. Era de se esperar” afirmou.
Além de destacar os resultados expressivos alcançados na transmissão da partida, válida pela Taça Rio, José Colagrossi fez uma comparação com a TV aberta no Brasil. Conforme o diretor do IBOPE explica, o alcance do digital ainda está distante. Como exemplo, Colagrossi usou o jogo entre Botafogo e Portuguesa, disputado na mesma hora que Flamengo e Boavista, e alcançou quase o dobro de espectadores. Isso sem ter sido transmitida nacionalmente.
”Há outro lado que é igualmente importante. Em relação a audiência, quantidade de pessoas e o tempo médio, ainda não há comparação entre TV e digital. O digital é super interessante, é novo, permite que a pessoa que não tem TV na hora assista da forma que quiser. Sou fã de carteirinha, mas não há como comparar a penetração e alcance do digital com a TV, especialmente aberta. A audiência de Botafogo e Portuguesa, em cinco praças (Grande Rio, DF, Grande Belém, e Grande Vitória e Manaus), nos lembra disso.”
”O jogo do Flamengo foi para o Brasil inteiro, e teve 2,1 milhões espectadores simultâneos de pico. O jogo do Botafogo foi de 3,9 milhões. Mesmo com toda preparação do clube e os aspectos (citados acima), a audiência da TV em um jogo modesto, com o Botafogo atrás da classificação, a audiência foi quase o dobro. Isso não é desmérito ao Flamengo, ao show que fizeram, muito menos da torcida, Isso mostra que a alcance e a penetração da TV é muito superior ao digital. Com o tempo, essa diferença tende a diminuir.” completou.
Na avaliação do especialista, a implementação da rede 5G no Brasil ajudará a equiparar o meio digital à TV aberta em relação ao seu alcance e penetração.
Colagrossi também ressalta que as transmissões digitais, por ora, estão limitadas a poucos clubes e jogos, apesar da Medida Provisória nº 984, publicada pelo presidente Jair Bolsonaro no último dia 18, garantindo aos mandantes os direitos sobre a transmissão. Afinal, a maioria dos clubes, inclusive o Flamengo, têm os direitos do Campeonato Brasileiro negociados até 2023. A grande mudança – para melhor ou pior – acontecerá a partir deste ano.
A transmissão de Flamengo x Boavista mostrou que o meio digital é um caminho para os clubes brasileiros?
Acho que, no médio prazo, sim. O problema é que, possivelmente, tem mais dois jogos na FlaTV. Há muita polêmica por conta da Globo, mas vamos assumir que terá mais dois jogos. E depois acabou. Só no Estadual de 2021. Hoje são poucos clubes que têm essa possibilidade.
O Red Bull, o Athletico… Três clubes, talvez quatro. Até 2023, quando os contratos atuais (de Campeonato Brasileiro do Flamengo com a Globo, por exemplo) expiram, essa realidade da transmissão própria é uma possibilidade muito limitada a poucos clubes e jogos. A partir de 2023, tudo isso vai mudar. Para melhor ou pior ainda é cedo para dizer.
Acredita que os números alcançados na transmissão de quarta-feira se repitam com frequência?
Foi uma tempestade perfeita, no bom sentido. Clube vivendo um momento histórico, 100 dias sem transmissão já que o jogo contra o Bangu passou… Ainda tem a questão com a Globo, que o torcedor adora a polêmica. Deu um atrativo maior ao espetáculo e chegou a 2,2 milhões simultâneos. É muita gente. Segundo o Youtube, é a maior audiência de uma transmissão esportiva do Brasil. É um contexto extraordinário. Se tiver jogo na FlaTV toda semana, não terá esse alcance todo.
(Texto: Lance!)