Samuel da Luz, conhecido como Samuka, nasceu em Caxias do Sul (RS), onde viveu até os 25 anos, quando se mudou para Florianópolis. Ele descobriu que era o primeiro atleta com deficiência visual a competir em uma prova de triatlo no estado quando entrou no mar para começar a disputa. Na dificuldade de nadar sem poder enxergar, ele desenvolveu um método adaptado, em que um companheiro de prova vai na frente com um sino preso no pé, e assim Samuel o segue pelo barulho.
“A prova foi boa, mas percebi que natação não era para mim. É difícil ficar escutando o sino com a cabeça dentro d’água, mas com a bike rola bem”, diz o atleta de 26 anos. A perda da visão foi um processo gradativo, que começou quando ele tinha dois anos. Com 11 anos, a situação se agravou. Os resultados dos exames foram enviados à Espanha, tratava-se de retinose pigmentar, doença que destrói as células sensíveis à luz na retina e pode levar à cegueira. Hoje Samuel tem 3% de visão, o que permite a ele apenas ter percepção de claridade.
No fim de 2015, Samuka voltou a pedalar e junto com seus colegas desenvolveu um método adaptado de mountain bike para uma pessoa com deficiência visual. “Meus amigos tinham um cincerro, esses sinos que vão no pescoço das vacas para que se localizem no meio do pasto. Então, ele colocou na bike dele e fomos para nossa primeira trip de bike com esse método. Eu ainda tinha 7% de visão, e isso ajudou, porque conseguia ver as roupas coloridas que eles usavam”, conta.
Enquanto alguém vai à sua frente com o sino, um ou dois colegas vão ao lado dele indicando o caminho, avisando sobre obstáculos, e, quando necessário, colocam a mão nas suas costas para orientá-lo. A última grande mudança de vida de Samuka aconteceu quando ele conheceu Capone, seu cão-guia. A dupla está junta há cinco meses. Tão logo a aliança foi formada, ideias de como pedalar em companhia do novo companheiro surgiram na cabeça do atleta.
No fim de 2019, o grupo que desenvolveu o método adaptado se reencontrou com um novo desafio: proporcionar um passeio em que o dono levasse Capone na bicicleta, em que adaptaram um carrinho feito para levar crianças na bicicleta. “Com o Capone, sinto que estou aprendendo a caminhar pela terceira vez”.
(Texto: Lyanny Yrigoyen com informações Folhapress)