Integração da pecuária e lavoura é o futuro para produção sustentável, diz Temple Grandin
Sumidade no quesito bem-estar animal, a pesquisadora americana Temple Grandin defendeu que o futuro da produção de alimentos no mundo com sustentabilidade depende da integração entre lavoura, pecuária e floresta. Ela esteve hoje (26) na unidade 2 da JBS, em Campo Grande, para conhecer as técnicas utilizadas nas plantas da gigante da proteína bovina durante o manejo dos animais antes do abate.
O trabalho de Temple é reconhecido internacionalmente. Ela desenvolveu corredores e currais redondos e circulares para diminuir a ansiedade dos animais antes do abate. O gado tem mais facilidade em percorrer caminhos curvos, já que não vê o que há no final do caminho ficando menos assustado e também porque o comportamento natural dos animais é andar em círculos.
A pesquisadora, que é autista, tem até um filme contando a sua história intitulado: Temple Grandin (2010). Durante um bate-papo super descontraído com os funcionários da JBS e à imprensa, ela elogiou as técnicas utilizadas dentro da empresa e apontou algumas melhorias que podem ser feitas. Muito interessada em conhecer e de uma simplicidade cativante, Temple até deitou no chão para explicar melhor o comportamento dos animais.
Ciente das mudanças climáticas e da necessidade da sustentabilidade ela afirmou que a monocultura de commodities é boa no curto prazo, mas devastadora no longo. “É preciso integrar lavoura e pecuária. A cultura de apenas um grão é muito prejudicial ao solo no longo prazo, o futuro está no manejo entre a pecuária e lavoura ocupando espaços unificados. Dá para produzir proteína animal sem destruir a terra”, disse. Ela também comentou que, mesmo com a crescente demanda por carne, é possível sim garantir o bem-estar animal.
Comentando a onda de veganismo crescente entre as pessoas, que prega alimentação sem sofrimento e um comportamento mais sustentável, Temple lembrou que produzir soja é tão, ou mais devastador para a natureza que a pecuária. “Campos e mais campos de soja, todos produzindo uma mesma cultura e matando o solo aos poucos. Carne feita em laboratório e outros, é preciso pensar o quanto se gasta para substituir a proteína animal”.
Autismo não limita
Sobre ser referência tanto no mundo agro, quanto no universo autista, Temple revelou que o caminho até chegar onde chegou não foi fácil e que nós precisamos estimular nossas crianças autistas. Gênios programadores, matemáticos, artistas plásticos, médicos e grandes líderes podem estar esperando um estímulo para descobrir seus talentos, basta ter respeito, carinho e paciência. “Nossas crianças autistas precisam de estímulo, grande parte dos gênios das ciências são autistas. Cada um no seu nível de desenvolvimento, com seu talento específico”, finalizou. (Texto: Marcus Moura)