Pela primeira vez desde 2014, o investidor brasileiro é maioria na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). No ano passado, com a queda na taxa de juros para o menor patamar da história, a participação do capital nacional no mercado de ações ultrapassou a do estrangeiro, diferença de 52% a 48% e sustentou a alta do Bolsa paulista. A expectativa para 2020 é que esse movimento se mantenha diante da crescente demanda interna, com investidores em busca de novas alternativas para remunerar o capital.
Os estrangeiros, por sua vez, pegaram o caminho inverso. Em 2019, diante de um cenário internacional mais adverso com a guerra comercial entre Estados Unidos e China e crises nos países latino-americanos, eles retiraram cerca de R$ 40 bilhões da Bolsa paulista, contrariando as previsões de que após a reforma da Previdência haveria uma enxurrada de dinheiro para o País. Neste ano, o movimento de aversão aos ativos brasileiros continuou com saída de R$ 16 bilhões até o dia 29.
Fundos. De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em 2019, a captação líquida dos fundos de ações cresceu quase 200%, para R$ 86 bilhões. Enquanto isso, a captação dos fundos de renda fixa ficaram negativas em quase R$ 70 bilhões. “Depois de décadas de retorno fácil, o investidor brasileiro está tendo de se acostumar com riscos novos. É uma revolução. Saímos de um mundo fácil para outro que tem de tomar risco”, afirma Campos Neto, da Tendências.
No caso do investidor pessoa física, a expectativa também é de forte crescimento. Hoje, diz o sócio da assessoria de investimentos Monte Bravo, Rodrigo Franchini, são 1,65 milhão de CPFs. Esse número, nos cálculos dele, deve saltar para 2 milhões de CPFs – avanço de 21%. Segundo o executivo, esse movimento mais forte do investidor local na Bolsa torna o mercado mais saudável e mais suscetível aos solavancos do mercado externo.
“Nesses casos, de estresse internacional, a Bolsa cai, mais sem desespero, pois o investidor local sustenta o mercado”, diz ele, que prevê o Ibovespa em 140 mil ponto no fim do ano. Franchini acredita que, com maior perspectiva de crescimento econômico e dissipação dos riscos do coronavírus, o investidor estrangeiro voltará ao mercado brasileiro.
(Texto: Lyanny Yrigoyen com IstoÉ)