Respirando o campo desde os 13 anos de idade, Isadora Oliveira Rodrigues nunca pensou em outra coisa a não ser se tornar uma agrônoma um dia. Hoje aos 27, ela não é so a profissional formada pela USP (Universidade de São Paulo), mas também está por trás da empresa de consultoria especializada Agri Seiva – herança do pai, o pecuarista Élvio Rodrigues, e que faz questão de continuar. Está no sangue.
Vice-presidente da Coopsema (Cooperativa Agrícola Mista Serra de Maracaju), Isadora não só tem a atitude, mas a vontade de fazer mais. E não tem vergonha de dizer: “tenho sede de conhecimento, mas disposição de compartilhar. Todos temos a crescer juntos”. De acordo com ela, o futuro do agro regional não está só nas mãos das tecnologias de máxima eficiência, mas nas nossas próprias.
O Estado Play: Por que o foco do agronegócio deve ser o da formação de pessoas?
Isadora Rodrigues: Quanto mais você dividir conhecimento, mais ele se multiplica. Isso vale para qualquer área. Trocar experiências e difundir tecnologias é o caminho para um novo agronegócio. E quem trabalha com isso só tem a ganhar, não só em termos de profissionalização, mas em vivências práticas.
O Estado Play: Você diz em termos de experiências?
Isadora Rodrigues: Você só aprende de fato quando desenvolve habilidades. Uma coisa é você ter seu conhecimento técnico; já outra é ter o “pegar para fazer”. Aqui na Agri Seiva, sempre tivemos essa cultura de compartilhar. Eu, que tive experiência na academia, posso afirmar que por lá o conhecimento fica limitado. É importante praticar, e na nossa área o campo é a melhor sala de aula.
O Estado Play: O agronegócio sul-mato-grossense também tem essa cultura da qualificação profissional?
Isadora Rodrigues: Cada vez mais MS passa pelo processo de sucessão familiar, isto é, os filhos pegando para fazer acontecer. A nova geração vem com essa vontade. Até porque na pandemia o agronegócio não parou – e os números mostram isso. Já tem um tempo que essa mudança está em curso, digo, de que é preciso mais educação para as pessoas aqui dentro.
O agro é muito rotativo, e acredito que hoje já se entende melhor a importância de compartilhar conhecimento do que na geração anterior, que ficava muito presa no seio familiar. Só podemos crescer tendo pessoas qualificadas.
O Estado Play: É por isso que possuem um programa de estágio e trainee?
Isadora Rodrigues: Sim. Acontece todos os anos, sempre em outubro. Informamos no nosso perfil do Instagram a abertura do processo seletivo, que geralmente ocorre em outubro – começo da safra de soja. Então esse futuro profissional fica durante todo o período da safra, do plantio à colheita, tendo contato direto com a agricultura de precisão, que se faz presentes nos 35 anos da Agri Seiva. Ainda, consultoria rural e acompanhamento agrícola, isso presente em 17 municípios de norte a sudoeste de MS.
O Estado Play: E as mulheres estão mais inseridas no agro também?
Isadora Rodrigues: Eu diria que antes, as mulheres que exerciam atividades em agronomia foi por amor ou então pela dor: ou porque se casaram e assumiram o trabalho junto aos seus pares ou então no luto de perder um pai, irmão, marido, enfim, alguém que gerisse algum negócio no agro.
Hoje, não. Cada vez mais vejo mulheres que desde cedo já querem trabalhar com o agro, que se preparam muito para chegar lá. E isso é um pouco do que aconteceu comigo, pois desde os treze anos meu sonho sempre foi fazer esse curso e nenhum outro.
O Estado Play: É mesmo?
Isadora Rodrigues: Juro! Tinha amigas que até me julgavam por eu querer tanto. “Agronomia? Nada a ver!”. Pois fiz questão de prestar vestibular todos os anos do ensino médio. Meu sonho era viver profissionalmente o campo. E não estava sozinha. Na minha turma por exemplo, metade da sala era só de mulheres. Acho ótimo!