Última onda de frio, somada à seca, dizimou um terço da produção
A crise hídrica, somada às chuvas de granizo e às geadas enfrentadas por Mato Grosso do Sul, gerou queda de 30%, pelo menos, na expectativa de produtividade esperada das lavouras de milho em Mato Grosso do Sul para a safra 2020/21, segundo o Projeto
SIGA-MS (Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio). No entanto, esse prejuízo pode ser ainda mais significativo, caso se confirmem as previsões dos meteorologistas que apontam outras geadas no Estado a partir da semana que vem.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Maracaju, Fabio Olegario Caminha, a previsão de novas quedas na temperatura é uma realidade que deve ser enfrentada pelos produtores, porém não existem formas de amenizá-la. “Os produtores rurais, infelizmente, ficam à mercê das intempéries das estações do ano. Caso ocorra um ano com chuvas adequadas, no tempo
certo e sem esses fenômenos, como a geada, certamente teremos uma safra boa e bateremos recordes. Caso contrário, não temos muito o que fazer a não ser se precavendo fazendo alguma espécie de seguro agrícola. Porém, poucos produtores lançam desse dispositivos, pois existem poucas instituições que fazem esse tipo de contrato, o que acaba não sendo difundido culturalmente
em nosso Estado”, revelou.
Caminha complementou dizendo que “em relação especificamente à geada, o dano dela é irreversível, pois a planta, em locais mais afetados, não consegue retornar ao comportamento natural de produção.
Por exemplo, com as últimas geadas tivemos perda de 100% das folhas. Além disso, ela ocorreu em um período onde a planta já está em uma fase mais avançada e, portanto, não tem muito o que o produtor rural fazer”, lamentou. Sobre a previsão de geadas
na próxima semana, o presidente afirmou que espera que elas venham com menor intensidade. “Esperemos que, caso a intempérie venha, ela seja mais amena e não caia em locais onde as plantas não foram afetadas. Em relação à região de Maracaju, eu acredito que o pior já passou”, projetou.
Esta visão também é compartilhada pelo produtor rural e membro da diretoria do SRCG (Sindicato Rural de MS) Julio Bortolini. De acordo com ele, se houver nova frente fria com perspectiva de geada, não haverá mais perdas. “Não mudará muito, uma vez que o pouco que tinha ainda esperança a última levou. Portanto, só falta dimensionar o tamanho do prejuízo quando o produtor efetivar a colheita”, analisou.
Bortolini explicou que existem regiões do Centro-Oeste onde a topografia é plana e não existe artifício ao alcance do produtor para amenizar as perdas, principalmente quando as geadas ocorrem sucessivamente. Porém, mesmo sabendo desses riscos, culturalmente o produtor não costuma investir nesse tipo de seguro das lavouras.
Alguns produtores que financiaram o plantio têm seguro contra intempéries, mas são minoria, já que eles usam o comércio e as importadoras para financiarem a atividade. Não usam banco”, concluiu.
De olho na meteorologia
Depois de vários dias de tempo firme, a previsão já indica mudanças no tempo na segunda quinzena de julho. Vários sistemas meteorológicos irão contribuir para a ocorrência de chuva sobre o país, que podem inclusive chegar a Mato Grosso do Sul. Mas o destaque vai para a grande frente fria que irá avançar pelo continente.
Esse sistema deve se formar na Argentina, organizando uma frente fria e trazendo condição de chuvas para o Sul do Brasil. “É
uma condição que precisamos monitorar, mas até o momento tudo indica que esse sistema vai se formar, podendo até trazer chuva intensa para o Sul do Brasil e em seguida essa massa de origem polar deve entrar no país”, explicou Mamedes Luiz Melo, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Segundo o Climatempo, a terceira semana de julho promete ser bem diferente no centro-sul do Brasil. As temperaturas devem começar a cair na sexta-feira, e com a entrada da massa de ar polar o frio se intensifica no fim de semana. A onda de frio pode ser tão forte quanto a de junho, com chance de geada em amplas áreas do Sul e algumas áreas de São Paulo e também de Mato Grosso do Sul.
Área afetada
A geada no Estado de Mato Grosso do Sul ocorreu entre os dias 27 de junho e 1º de julho. Após verificação da equipe do projeto SIGA, estima-se que a área afetada no Estado é de 604,4 mil hectares, o equivalente a 30% da área produtora de MS.
Perdas
A escassez de chuvas, culminando com as ocorrências granizo e geada, gerou queda de um terço na expectativa de produtividade esperada das lavouras de milho em Mato Grosso do Sul. De acordo com dados do Boletim 414/2021 do Projeto SIGA-MS, os produtores esperavam colher 70 sacas por hectare. O volume foi recalculado e caiu para 52,3 sacas por hectare, o que projeta uma produção total de 6,285 milhões de toneladas, contra o volume inicial estimado de 9 milhões de toneladas. Ou seja, uma quebra
40,8% menor que o total colhido na safra passada.
Texto: Flávio Veras
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