No Estado, dirigentes reforçam que o varejo físico segue essencial mas precisa se adaptar ao novo cenário econômico
O pessimismo dos empresários do comércio atingiu o pior índice desde a pandemia, reflexo direto do crédito mais caro, da desaceleração econômica e do alto endividamento das famílias. Os dados são da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços), que mostrou queda nas expectativas de contratações e investimentos no mês de outubro.
No Estado, o cenário não é diferente. O presidente da CDL-CG (Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande), Adelaido Figueiredo, comenta que o momento exige estratégia e qualificação, e que o varejo físico, longe de estar em declínio, continua sendo o motor da economia.
“Tem se falado muito que o mercado físico está acabando e que todos os consumidores estão migrando para o online. Mas os dados mostram exatamente o contrário. O varejo físico continua sendo o coração da economia brasileira”, afirmou.
Confiança em queda
De acordo com a pesquisa da CNC, 43,6% dos comerciantes entrevistados esperam piora na economia, o maior percentual desde junho de 2020. O ICEC (Índice de Confiança do Empresário do Comércio) caiu para 95,7 pontos em outubro, abaixo do nível de estabilidade pelo segundo mês consecutivo.
Entre os fatores que reforçam o pessimismo estão os juros elevados, que permanecem no maior patamar em quase 20 anos. A intenção de investimento recuou para 99,1 pontos, mas a queda mais expressiva foi a contratação de funcionários, que caiu de 121,1 pontos em junho para 112 pontos em outubro.
Para o economista João Marcelo Costa, da CNC, os juros altos dificultam a obtenção de crédito. “O empresário do comércio precisa se financiar, depende do fluxo de caixa para fazer contratações e investir. Quando os juros estão altos, ele precisa tomar capital de giro, o que fica mais difícil no cenário atual”.
Impacto no consumo
A pesquisa da CNC também revela que 30,5% das famílias brasileiras estão com contas em atraso, o maior índice da série histórica. Em Campo Grande, o cenário é semelhante: 43,1% da população adulta está inadimplente, segundo o SPC Brasil.
Para Adelaido Figueiredo, o problema central não está no varejo físico, mas sim na falta de poder de compra e nas dificuldades de acesso ao crédito. “Não é o fim da loja física. É o reflexo de uma economia adoecida. O que precisamos é reagir com qualificação, com atendimento de excelência e com mais estratégia. O varejo físico continua sendo essencial, mas precisa entender o seu público e se adaptar ao novo momento”, afirmou.
Comércio local em busca de alternativas
Em 2024, o varejo nacional movimentou cerca de R$ 3 trilhões, somando vendas físicas e digitais. Desse total, apenas R$ 204 bilhões vieram do comércio online, o que mostra que quase R$ 2,8 trilhões ainda circularam nas lojas físicas.
Com esse panorama, a CDL Campo Grande defende que o fortalecimento do comércio local deve passar por investimentos em qualificação profissional, atendimento personalizado e estratégias de relacionamento.
“É hora de investir em capacitação, entender o produto e conhecer o cliente. O diferencial está na experiência e no relacionamento. Não adianta fazer propaganda onde o cliente não está”, finalizou o presidente da entidade.
A CDL também reforça a necessidade de uma ação coordenada entre governo, setor financeiro e entidades de classe para estimular o crédito saudável e reaquecer o consumo no Estado.
Por Gustavo Nascimento