Associação relata queda após percepção de que taxas são mais altas que financiamentos convencionais
O consignado CLT, modalidade de crédito para trabalhadores com carteira assinada lançada em abril deste ano, já provoca desistências entre trabalhadores do comércio no Estado. Segundo a AMAS (Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados), funcionários que aderiram à linha de crédito têm desistido do empréstimo ao perceber que os juros são mais altos do que o esperado. Enquanto isso, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) classifica como ‘alarmismo’ as críticas do setor supermercadista.
Ao O Estado, o presidente da Associação, Denyson Prado, afirmou que a entidade compartilha das apreensões manifestadas pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados) junto ao MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).
“Acreditamos que, caso aumente a quantidade de funcionários aderindo a esse empréstimo do governo, utilizando o próprio FGTS como garantia, as consequências podem ser negativas. Os juros são muito altos, girando em torno de 10% a 15%, maiores até que os de financiamento. Como o desconto é feito direto em folha, há o risco de os trabalhadores não conseguirem arcar com os pagamentos, levando inclusive a pedidos de demissão”.
A preocupação do setor supermercadista é que o comprometimento da renda mensal agrave um cenário já desafiador de retenção de mão de obra. “O setor, assim como vários segmentos em todo o país, enfrenta dificuldades de contratação. Isso é um problema nacional, até mundial. A nova geração que está chegando ao mercado também contribui para essa mudança de perfil, e os empresários de todos os setores estão sentindo os efeitos”, completa Prado.
Ainda segundo o presidente da AMAS, a entidade não possui acesso ao número de trabalhadores que aderiram ao crédito ou que pediram desligamento por motivo de endividamento. “Essa é uma informação interna de cada empresa e só chega ao nosso conhecimento quando, no momento do pagamento do eSocial, a empresa precisa fazer o desconto da parcela do empréstimo em folha”, explica.
A crítica do setor supermercadista ganhou repercussão nacional após a Abras divulgar um levantamento apontando que mais de 20,7 mil trabalhadores de supermercados já contrataram o consignado CLT, a uma taxa média de 6,98% ao mês, o que equivale a 124,7% ao ano.
Defesa dos bancos
Em resposta, a Febraban afirmou que os cinco maiores bancos do país – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco e Santander – oferecem taxas de juros abaixo da média de mercado para a nova linha de crédito. Dados da federação mostram que, entre o lançamento da modalidade, em março deste ano, até 13 de junho, os grandes bancos praticaram uma taxa média de 2,58% ao mês, enquanto a média geral do mercado, segundo o Banco Central, ficou em 3,58% ao mês.
“Ao contrário do alarmismo da Abras, a Febraban se mantém bastante otimista quanto à evolução da nova linha de consignado, que deverá alcançar um público de enorme amplitude e proporcionar taxas significativamente menores”, afirmou o presidente da entidade, Isaac Sidney, por meio de nota.
A Febraban também destacou que a participação dos grandes bancos no consignado CLT vem crescendo, passando de 35,8% em abril para 46% em junho, com um saldo total de R$ 15,9 bilhões. O número de trabalhadores atendidos pela nova modalidade já alcança 2,8 milhões de pessoas, com valor médio de contratação de R$ 5.537 por operação e prazo médio de 18 meses.
Segundo a entidade, a expectativa é que, com a entrada em vigor da possibilidade de uso de 10% do FGTS e das verbas rescisórias como garantia, a partir de julho, o acesso ao crédito se amplie e os juros caiam ainda mais.
Cenário no Estado
No caso de Mato Grosso do Sul, a AMAS relata que o movimento de adesão ao consignado CLT já começou a apresentar desaceleração nas últimas semanas. “Percebemos que os trabalhadores que aderiram no início estão constatando que os juros são abusivos e que não há condições de manter um financiamento com taxas tão altas”, afirma Denyson Prado.
Apesar da diferença entre as taxas médias apresentadas pela Febraban e os relatos do setor supermercadista, a principal preocupação da AMAS segue sendo o impacto financeiro direto sobre os trabalhadores e o reflexo disso na retenção de mão de obra em um cenário de alta rotatividade.
Por Djeneffer Cordoba
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