Índice de confiança se mantém em patamar positivo, mas decisão de compra se torna cada vez mais ponderada
Mesmo com o ICF (Índice de Confiança do Consumidor) acima da zona de satisfação – 105,2 pontos em outubro –, o campo-grandense demonstra um novo padrão de comportamento: compra menos, pesquisa mais e evita decisões impulsivas. A tendência indica uma mudança estrutural no modo de consumo das famílias, que seguem confiantes no emprego, mas preferem preservar a segurança financeira.
De acordo com o levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio), em parceria com a Fecomércio-MS, a percepção de estabilidade no emprego permanece como o pilar mais forte do indicador, com 142,3 pontos. No entanto, o consumo atual segue contido: 34% das famílias afirmam estar comprando menos que no mesmo período do ano passado, e apenas 19% dizem ter ampliado as compras.
A combinação de confiança e prudência revela um consumidor mais estratégico. “O campo-grandense aprendeu a equilibrar o orçamento, mantendo a confiança, mas sem se expor a riscos desnecessários”, avaliam analistas da pesquisa. A renda estável e o emprego preservado oferecem tranquilidade, mas não estímulo suficiente para o endividamento ou para aquisições de maior valor.
O momento para compra de bens duráveis, por exemplo, caiu para 89,8 pontos – o pior resultado entre os sete itens avaliados. Quase metade dos entrevistados (48,5%) considera o período ruim para esse tipo de gasto. O acesso ao crédito também aparece enfraquecido: o índice ficou em 89,4 pontos, e apenas 11% dos consumidores percebem facilidade em obter financiamento.
A leitura dos dados mostra que a confiança deixou de ser sinônimo de expansão. “As famílias continuam acreditando na estabilidade, mas atuam com cautela. É um otimismo racional, sem euforia”, explica a Fecomércio-MS. Essa postura, embora limite o ritmo das vendas no varejo, também indica maturidade financeira e uma gestão doméstica mais consciente.
Entre os consumidores de maior renda (acima de dez salários mínimos), a confiança geral é mais elevada – 115,6 pontos –, mas o comportamento é semelhante. Mesmo com maior capacidade de compra, esse grupo também evita endividamento e adota um perfil de consumo planejado, priorizando bens e serviços essenciais.
Na prática, o ICF de outubro revela o que pode ser chamado de “era do consumo calculado” em Campo Grande. O entusiasmo do passado recente cede lugar a uma relação mais ponderada com o dinheiro, em que cada compra passa a ser avaliada pelo custo-benefício e pela previsibilidade do orçamento.
Com o indicador geral ainda acima dos 100 pontos, o cenário é de estabilidade – mas de uma estabilidade atenta. O campo-grandense mantém a confiança, porém com os pés no chão.
Por Djeneffer Cordoba