Para tentar controlar as cotações do dólar no Brasil, o Banco Central (BC) “queimou” US$ 7 bilhões nos últimos três dias. Mas a bateria de leilões de moeda do BC, intensificados desde a última quarta-feira (22), não teve sucesso. Até nessa sexta-feira (24), o dólar foi cotado com o maior valor da história.
A pressão no câmbio reflete as dúvidas dos investidores sobre o futuro político do governo do presidente Jair Bolsonaro, após o pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, oficializado nesta sexta. Também pesaram nos últimos dias declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em entrevista na última segunda-feira (20), ele sinalizou novo corte da Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 3,75% ao ano. Além disso, surgiu a visão de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu prestígio e pode ser o próximo a deixar o governo.
Em meio à perspectiva de que a taxa básica de juros (Selic) possa cair para 3% ao ano no início de maio, quando ocorre reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a alta do dólar ante o real se intensificou na quarta-feira (22). Por trás do movimento está a avaliação dos investidores de que, com juros mais baixos, o Brasil se tornará ainda menos atrativo ao capital internacional.
Ainda na quarta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, anunciou em evento no Planalto um plano de investimentos de R$ 300 bilhões para a recuperação econômica do Brasil pós-pandemia. O detalhe é que nenhum integrante do ministério da Economia participou do anúncio. A equipe de Guedes, na verdade, vê com preocupação a possibilidade de o governo lançar um plano de investimentos, já que não há recursos para isso.
Para reduzir a pressão no câmbio na quarta-feira, o BC vendeu um total de US$ 880 milhões em swaps cambiais. Foram duas operações. O swap é um tipo de contrato que, ao ser negociado, tem o efeito equivalente à venda de dólares no mercado futuro. Ainda assim, o dólar à vista subiu 1,90%, aos R$ 5,4087.
A percepção de que o ministro Paulo Guedes perdeu prestígio deu novo impulso ao dólar ante o real na quinta-feira (23). A visão de boa parte dos economistas e operadores do mercado financeiro é a de que o governo Bolsonaro pode dar uma guinada na área econômica, abandonando a orientação liberal da equipe de Guedes em favor de uma postura mais desenvolvimentista, ancorada no investimento estatal. A situação piorou em meio às notícias de que o ministro da Justiça, Sergio Moro, poderia pedir demissão.
Novamente, para reduzir a volatilidade no câmbio, o BC vendeu ao mercado um total de US$ 1,900 bilhão em contratos de swap, em quatro operações espalhadas ao longo do dia. Não adiantou: o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 2,22%, aos R$ 5,4087.
Ontem, a pressão no câmbio continuou aumentando. Após o Diário Oficial da União trazer, ainda durante a madrugada, a exoneração de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal (PF), ficou claro para o mercado financeiro que Sergio Moro iria deixar o governo.
Para apagar o incêndio, o BC começou a atuar no câmbio logo no início da sessão. Os leilões de moeda foram intensificados após as 11h, quando Moro oficializava em entrevista sua saída. Assim, até o início da tarde, o BC já havia realizado três leilões de swap no valor de R$ 1,400 bilhão, dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra no futuro) no total de US$ 700 milhões e quatro operações de venda à vista de dólares das reservas internacionais, de US$ 2,175 bilhões. Apenas ontem, o BC realizou vendas de US$ 4,2755 bilhões.
Considerando os últimos três dias, então, as atuações somam US$ 7 bilhões. Ainda assim, o dólar bateu recordes ante o real. No pico de ontem, chegou a ser cotado a R$ 5,7484 – o maior valor nominal da história, mas acabou fechando em R$ 5, 6614, recorde para um fechamento.
(Texto: Inez Nazira com informações do IstoÉ)