Bandeira vermelha e gatos na luz prejudicam moradores

Foto: reprodução/Canva
Foto: reprodução/Canva

Com a chegada da bandeira vermelha, que encarece o valor cobrado na conta de luz, chegam também questionamentos sobre quem a crise climática afeta e, se dentro da estrutura socioeconômica da Capital, pode ser identificado um recorte da classe mais afetada pelo encarecimento. Em visita a Vila Bordon, a reportagem identificou que moradores com mais de dez anos na região se sentem afetados pelas altas temperaturas, já que o clima ocasiona o encarecimento em suas casas, que na atualidade contam apenas com o básico como TV, geladeira e ventiladores, ou seja, sem grandes luxos.

Na sexta-feira (27), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou que a bandeira tarifária será vermelha, patamar 2, em outubro. A sinalização demonstra que haverá cobrança complementar na conta de luz para os consumidores de energia elétrica conectados ao SIN (Sistema Interligado Nacional). Nesta modalidade, serão cobrados R$ 7,877 para cada 100 quilowatts-hora consumidos.

A dona de casa, Narcisa, Vilalba, 51, explica que na atualidade a conta de luz em sua residência ultrapassa R$ 400. Com uma filha com deficiência, a dona de casa precisa dispor de cuidados diários, ou seja, não consegue trabalhar fora. Com a água que alcança o valor de R$ 300 mês a mês, para a dona de casa fica difícil sobreviver, já que a renda mensal consiste apenas no valor do LOAS (Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social).

“Está muito caro a luz. A água no mês passado, eles não fecharam certinho o relógio e veio R$ 1200. Eu estou esperando, eles falaram que resolveriam. Eu sou pobre, não tenho condições de pagar tudo. Eu tenho minha filha especial que eu cuido, tenho que carregar ela, levar na escola [não posso trabalhar]”.

O operador de máquina, Jeová Marcondes da Silva, 49, morador da Vila Borbon há 18 anos, explica que a vila está esquecida e que não tem esgoto e demarcação dos terrenos. Hoje Silva paga de R$ 75 a R$ 100 na luz, pois mora sozinho. “A gente tem um salário estipulado, o imposto vai além do que a gente ganha e aí fica difícil. A gente mantém, mas fica mais difícil e acaba atingindo a área alimentar. Eu sou sozinho mas, e quem tem cinco, seis filhos? Se a energia sobe, aí a pessoa já não pode comprar um leite, um pão”, avaliou.

Sobre as placas solares, Silva argumenta que por ser de alto custo, seria muito difícil uma pessoa que ganha salário mínimo conseguir obter algo para abater na conta de luz. “O custo é alto pelo que eu vejo, pelo valor que tem que pagar. Para quem ganha salário mínimo hoje ou um salário e meio, não dá, porque não é barato para colocar”, explicou.

A terapeuta holística, Lauren Espíndola Riquelme, explica que sem luxos ou exageros, a casa que não possui ar-condicionado hoje recebe contas de energia em valores que variam entre R$ 300 e R$ 500. Riquelme argumenta que por conta da presença de “gatos” e falta de regularização, a energia e os eletrodomésticos de sua casa são afetados.

“Dessa rua aqui para baixo, a maioria já não é regularizada. Qual é a dificuldade por não ter essa regularização aí? A energia vive caindo e vivem derrubando transformadores. Quem paga a luz paga acaba pagando pelos gastos dos outros. Tem o pessoal que trabalha e quer legalizar, mas, ao mesmo tempo, fica caro pra caramba. Falta de contato com a Energisa ao mesmo tempo falta empenho do pessoal também”, lamenta sobre a situação vivida na região.

Energia Solar

De acordo com dados da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), Mato Grosso do Sul possui mais de 118 mil conexões operacionais de energia solar em telhados e pequenos terrenos, espalhadas por todos os municípios do Estado.

Atualmente são mais de 171 mil consumidores de energia elétrica que já contam com redução na conta de luz, maior autonomia e confiabilidade elétrica. Desde 2012, a modalidade já proporcionou ao Mato Grosso do Sul a atração de mais de R$ 6,1bilhões em investimentos, geração de mais de 39 mil empregos e a arrecadação de mais de R$ 1,8 bilhão aos cofres públicos.

Para Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR, o crescimento das instalações de sistemas de energia solar pelos consumidores brasileiros é reflexo da popularização da tecnologia no território nacional. “Analistas de mercado apontam que, apenas em 2023, os painéis solares registraram queda de cerca de 50% no preço médio final, ampliando a atratividade e o acesso por consumidores brasileiros de diferentes perfis”, comenta.

A reportagem entrou em contato com a Energisa por meio da assessoria de imprensa para saber o posicionamento da concessiónaria em relação as denúncias de furto de energia na Vila Bordon, mas até o fechamento desta edição, não foram obtidas respostas a respeito do caso. O espaço segue aberto para futuros esclarecimentos.

Por Julisandy Ferreira

 

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