Outro choque está prestes a abalar a economia mundial, que já sofre o impacto do coronavírus. Os preços do petróleo despencaram depois que o dramático colapso das negociações entre a Opep e a Rússia levou a Arábia Saudita a iniciar uma guerra de preços. O petróleo tipo Brent chegou a cair quase 30%, para US$ 31 o barril hoje. O Goldman Sachs alertou clientes que a commodity poderia atingir US$ 20.
Uma queda tão forte, caso se mantenha, ameaçaria orçamentos de países como Venezuela e Irã, colocaria em risco a revolução do gás de xisto dos Estados Unidos e abalaria a política em todo o mundo. Para bancos centrais, a perspectiva de desestabilização dos preços é outra complicação, pois já tentam aliviar o impacto da epidemia de coronavírus na economia.
Um longo período de petróleo barato poderia até prejudicar o combate à mudança climática, o que atrasaria a transição para energias renováveis. “Algo assim poderia ter mais repercussões globais do que uma guerra comercial entre China e EUA, porque o petróleo afeta muitas coisas na economia mundial”, disse Rohitesh Dhawan, diretor de energia, clima e recursos do Eurasia Group, em Londres.
Há vencedores em um mercado com preços mais baixos do petróleo, entre eles a China, o maior importador de petróleo do mundo e cuja recuperação do surto de coronavírus será fundamental para a economia global. Mas, desta vez, é diferente. Os EUA, que no passado se beneficiavam do petróleo barato, agora são exportadores, e não compradores. E o impacto do vírus sobre a demanda econômica atenua qualquer estímulo que seria proporcionado pelo petróleo barato.
Os choques do petróleo costumavam ser temidos pelo impacto na inflação. Agora, quando bancos centrais buscam desesperadamente estimular a alta dos preços, a dinâmica oposta está em jogo. “Preços mais baixos do petróleo não farão com que as pessoas voltem a usar trens, aviões e automóveis, nem estimularão os setores mais atingidos”, disse Stephen Innes, estrategista-chefe de mercado para a Ásia na Axicorp. “Mas agora temos um desastre financeiro em formação com o colapso da indústria de gás de xisto”.
(Texto: UOL)