Prateleiras de destilados cheias comprovam receio entre consumidores na compra
Após as primeiras notícias de intoxicação por metanol em diferentes regiões do país, o consumo de bebidas destiladas tem apresentado sinais de retração. Enquanto lojistas insistem que as vendas seguem dentro da normalidade, a presença de prateleiras cheias e o comportamento mais cauteloso dos consumidores revelam uma queda sem alardes no setor.
No supermercado Pires, a encarregada de loja Adriana R. T. afirma que o consumo não foi afetado. “A venda continua normal. Aqui é um bairro que vende muita bebida, tanto cerveja quanto destilado. Não tivemos problema com isso”. Segundo ela, as promoções em produtos como aguardente e vodca fazem parte da rotina de ofertas do mercado, sem relação com as recentes notícias.
Reflexo nas gôndolas
No entanto, a percepção no setor de bebidas dos supermercados diverge com o cenário descrito. Em redes atacadistas da Capital, funcionários relatam que o movimento diminuiu. Um colaborador de uma rede atacadista, que preferiu não se identificar, conta que a orientação agora é monitorar a saída das bebidas com mais frequência.
“Antes era mais cheio, o pessoal sempre repondo as prateleiras. Agora, o movimento deu uma caída boa, e a gente tem que mandar fotos para o nosso supervisor para mostrar como está a saída dos destilados. Mas as prateleiras estão cheias, um ou outro que passa e leva alguma garrafa”, afirmou o colaborador.
Consumidores em alerta
O metanol, substância industrial usada em solventes e produtos químicos, é altamente tóxica quando ingerida. O fígado o transforma em compostos que podem causar cegueira, insuficiência renal e até a morte. Por isso, o temor dos consumidores é compreensível diante dos casos recentes de intoxicação.
Entre os consumidores, o receio também é evidente. Sebastião Pequeno da Silva, cliente em um atacadista da cidade, diz ter reduzido as compras após ver as notícias sobre o metanol. “Eu costumava comprar porque gosto, mas agora com essas notícias a gente fica meio receoso. Tá meio devagar, né? Nem tenho comprado”, comentou.
Para o presidente da AMAS (Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados), Denyson Prado, o momento exige rigor na fiscalização. “O bom empresário não pode pagar pelo mau. Defendemos que Procon, Decon, Vigilância Sanitária e Ministério Público cumpram seu papel. Se houver produto sem procedência, deve haver autuação”, afirmou. Ele reforça que a entidade orienta os associados a adquirir apenas bebidas com procedência comprovada, conforme determina a legislação vigente.
Os reflexos da desconfiança já aparecem também nos indicadores do varejo. Segundo o ICVA (Índice Cielo do Varejo Ampliado), setores ligados à comercialização de bebidas, como supermercados, hipermercados, bares e restaurantes, tiveram retração de 1,18%. O segmento de supermercados e hipermercados sozinhos registraram queda de 0,6% nas vendas. “A retração geral já era esperada pelo momento econômico, mas é inegável o impacto da crise do metanol no setor de bares e restaurantes”, destacou Carlos Alves, vice-presidente de Tecnologia e Negócios da Cielo.
Enquanto empresários tentam manter o otimismo e o discurso de normalidade, as prateleiras lotadas e a hesitação dos consumidores nas gôndolas revelam o cenário do setor em alerta, que sente os efeitos de uma crise de confiança e insegurança que se espalha por todo o país.
Por Gustavo Nascimento