Alta no cacau faz confeiteiros reconsiderarem produção de ovos de Páscoa em 2025

Ovos de chocolate já estão disponíveis para vendas nos supermercados - Foto: Nilson Figueiredo
Ovos de chocolate já estão disponíveis para vendas nos supermercados - Foto: Nilson Figueiredo

Preço da matéria-prima do chocolate dispara 189% em um ano e desafia indústria

Os tradicionais ovos de Páscoa podem chegar mais caros às mãos dos consu midores em 2025. O motivo é a disparada no preço do cacau, principal matéria–prima do chocolate, que acumulou alta de 189% nos últimos 12 meses, com picos de até 300% até dezembro de 2024, segundo a Abia (Associação Brasileira da Indústria da Alimentação). Diante desse cenário, confei teiros artesanais enfrentam um dilema: manter a pro dução e repassar os custos, reajustar preços ou buscar alternativas mais viáveis para o período.

Para quem trabalha há décadas no setor, a situ ação é inédita. Rosilda dos Santos, confeiteira desde 1998, afirma que nunca viu uma alta tão expressiva. “Es tava esperando um pouco mais para verificar o custo, porque de uma semana para outra os preços estão tendo alterações. Já tiveram au mento de 100% em relação ao ano passado. Então, você faz um levantamento de custo hoje, e semana que vem pode ser outro”, explica.

Diante dessa instabili dade, ela ainda não definiu se investirá na produção de ovos de Páscoa este ano. “Depois de muitos anos tra balhando com chocolate, é a primeira vez que vejo uma alta tão significativa. Com certeza as pessoas vão se impactar quando começarem a procurar pelo produto no comércio”, comenta.

Uma estratégia possível para driblar os custos ele vados é reduzir o tamanho dos ovos sem comprometer a qualidade. “Eu considero trabalhar com ovos menores, para não perder a quali dade”, diz Rosilda. Apesar dos desafios, ela reforça a importância de manter um preço justo para consumi dores e produtores: “Temos que cobrar um valor justo para ambas as partes”.

Ainda que a Páscoa seja um período de alta demanda por doces, Rosilda avalia que deixar de produzir ovos neste ano não traria im pactos significativos ao seu negócio. “Os bolos são o carro-chefe da confeitaria”, afirma. Dessa forma, outros produtos podem ganhar pro tagonismo nesta época, aten dendo às demandas dos con sumidores sem sofrer tanto com a alta do cacau.

Com a proximidade da Páscoa, os consumidores também sentirão os reflexos dessa alta nos preços dos ovos de chocolate, seja nas grandes redes de supermer cados ou no setor artesanal. O que resta saber é como o mercado se adaptará para manter a doçura da data sem pesar tanto no bolso.

Afinal, por que o cacau está caro?

A alta nos custos do cacau, principal matéria-prima do chocolate, já impacta a in dústria e deve refletir no bolso do consumidor. Nos últimos meses, o mercado global de cacau tem regis trado aumentos expressivos, impulsionados por problemas climáticos em países produ tores, como Costa do Marfim e Gana, além de questões Ovos caseiros confeccionados em docerias de Campo Grande logísticas e cambiais.

De acordo com especia listas, a escassez da ma téria-prima e a valorização do cacau no mercado in ternacional podem pres sionar os preços dos pro dutos derivados. “O cacau tem sofrido com uma oferta reduzida, o que natural mente leva a uma elevação nos custos da produção de chocolates”, explica o eco nomista João Silva.

O preço do chocolate subiu 11,99% nos últimos 12 meses, encerrados em dezembro de 2024, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Apesar disso, se gundo a Abia, nem todo aumento do cacau será repassado ao consumidor final. “Nem tudo foi re passado, já que a indús tria busca eficiência com mais investimentos em automação, por exemplo. Mas haverá impacto. Cada empresa tem sua política de preços”, afirmou João Dornellas, presidente executivo da Abia.

O Brasil, que já foi um dos maiores produtores de cacau na década de 1980, perdeu protagonismo após a praga da vassoura-de-bruxa dizimar as plantações na Bahia. Atualmente, o país ocupa a sétima posição no ranking global de produção, mas há uma retomada do cultivo, especial mente no Pará.

“Novamente, há uma oportunidade de aumentar a produção do cacau, que vem crescendo. Mas o cacaueiro demora quatro anos para começar a produzir. Não é do dia para a noite”, explica Gustavo Chiarini Bastos, presidente do Conselho Diretor da Abia.

A Abia estima que o consumidor encontrará ovos de Páscoa com diferentes ingredientes no recheio, como biscoitos, para mitigar os custos. No entanto, a previsão é que os preços sigam os reajustes praticados pela indústria de chocolates ao longo dos últimos meses, sem aumentos considerados abruptos acima da inflação.

Além do cacau, outros fatores pressionam a indústria de alimentos. O custo de produção subiu 9,3% no último ano, enquanto a inflação dos ali mentos industrializados foi de 7,7%, segundo o IPCA. O café, por exemplo, teve um aumento de 140% nos últimos 12 meses.

Dornellas destacou que a Abia enviou diversas sugestões ao governo para conter a alta dos preços dos alimentos, incluindo melhorias na infraestrutura de transporte e redução de tarifas sobre materiais de embalagem importados. Ele também afirmou que a indústria de alimentos se comprometeu a investir R$ 120 bilhões de 2023 a 2026, com R$ 40 bilhões já investidos apenas no último ano.

“Claro que, se tivéssemos juros mais baixos, o investimento poderia ser maior. Mas vamos atingir os R$ 120 bilhões e até ultrapassar”, concluiu Dornellas.

 

Djeneffer Cordoba

 

 

 

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