Capacitação interna e preferência do consumidor por atendimento geram mudanças no setor
A tradicional cena do balcão de açougue, com cortes feitos na hora por profissionais, está passando por mudanças em Campo Grande. A falta de mão de obra qualificada tem levado estabelecimentos a rever modelos de atendimento, investir em capacitação interna e adaptar a oferta de produtos para atender às novas demandas do mercado, movimento que impacta diretamente a economia do setor e a experiência dos consumidores.
Em um supermercado na Avenida Guaicurus, em Campo Grande, a seção de açougue precisou adotar estratégias para não deixar de atender a clientela, colocando nas prateleiras os cortes de carne nas bandejas. Onde o cliente não é atendimento, necessariamente por um açougueiro.
“Antes tínhamos o atendimento presencial,mas devido a falta de mão de obra, hoje tivemos que passar para o autoatendimento, que envolve menos pessoal e nós conseguimos entregar uma alta qualidade”, explicou o colaborador em entrevista ao O Estado.
Ele ainda ressalta, que esse novo formato deverá se tornar uma tendência no comércio varejista, justamente pelo desafio de encontrar pessoas compromissadas com horário e de prestar serviço de atender ao público.

Foto: Roberta Martins
Na Casa de Carne Caiobá, o gerente Juliano da Silva explica que o principal desafio tem sido encontrar açougueiros com experiência suficiente para atender às exigências atuais. “Ano passado tivemos problemas porque é difícil pegar alguém com experiência. Então optamos por começar a capacitar nossos funcionários”, relata. Segundo ele, treinar a equipe interna se tornou uma solução mais viável diante da escassez de profissionais no mercado. “É melhor você ter alguém que está ali com você desde o começo do que correr o risco de ficar sem açougueiro”, afirma.
Além da dificuldade de contratação, Juliano destaca que os consumidores estão mais exigentes, especialmente em relação ao padrão dos cortes. Isso reforça a necessidade de manter profissionais bem preparados. “Hoje em dia os clientes estão muito mais exigentes em relação ao corte de carne, então a gente precisa de um profissional que saiba o que está fazendo”, diz.
Apesar das pressões do mercado, a Casa de Carne Caiobá mantém como prioridade os cortes frescos, característica que atrai grande parte dos clientes. “Aqui nosso foco é nos cortes frescos mesmo. Temos carnes a vácuo, mas o carro-chefe são os cortes feitos na hora. Apesar das dificuldades, prezamos por essa tradição de entender o gosto de cada cliente”, acrescenta o gerente.
Mercado de Trabalho
Nesta segunda-feira (24), a Funsat (Fundação Social do Trabalho) disponibiliza 19 vagas para profissão de açougueiro e quatro para ajudante de açougue no comércio de Campo Grande. Algumas delas não é exigido a experiência em carteira justamente pela dificuldade que os empregadores vem enfrentando para encontrar profissionais área.
O diretor -presidente da Fundação, João Henrique Bezerra, lembra que é importante que os candidatos mantenha o cadastro ativo no Aplicativo da Carteira de Trabalho Digital, onde é possível conferir, a qualquer momento, sobre as vagas de emprego do painel de intermediação da Funsat.
“Dessa profissão específica e de ajudante de açougueiro. São recrutamentos permanentes. Os que mais selecionam mão de obra sobre esse quesito são os atacadistas, que pela rotatividade, sempre mantém aberto o monitoramento de mão de obra durante o ano todo”, informa.
Além das 19 oportunidades de emprego no setor de açougue, a Fundação oferece na segunda-feira cerca de 1.482 vagas em diversas áreas como: Ajudante de eletricista, Assistente administrativo, Atendente de lojas e mercados, Balconista de açougue, Motorista de caminhão, entre outras. A Funsat está localizada na Rua 14 de Julho, 992, na Vila Glória. O atendimento do órgão, em dias úteis, segue o horário das 7h às 16h.
Atendimento “cara à cara”
A relação entre consumidor e açougueiro, construída ao longo dos anos como um serviço personalizado, ainda pesa na decisão de compra. A vendedora Janaína Ribeiro, cliente fiel de açougues tradicionais, reforça essa percepção. “Eu prefiro comprar a carne na hora mesmo, falar diretamente com o açougueiro. Tem esse lado de você conhecer quem te atende, e a pessoa saber como você prefere o corte”, diz. Para ela, cortes embalados a vácuo não substituem a qualidade e o atendimento humanizado que encontra no balcão. “Eu evito ao máximo comprar carne a vácuo. Por mais que digam, eu prefiro o corte feito no dia.”
A adaptação dos açougues mostra um cenário mais amplo no setor de serviços que é a necessidade de equilibrar eficiência, tradição e a escassez de profissionais especializados. Com consumidores valorizando tanto a qualidade quanto a experiência, empresas que investem na formação de equipes e mantêm o atendimento personalizado tendem a ganhar espaço. Além disso, esse investimento em seu próprio funcionário evita que um supermercado tenha que fechar um departamento tão usufruído pelo consumidor: o açougue.
Por Gustavo Nascimento e Djeneffer Cordoba
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