Tatuador cria estilo único com arte sem gênero

Arte sem gênero
Foto: Acervo pessoal

Através das tatuagens, Francis procura mostrar que a arte é plural e permite fugir do estereótipo “masculino e feminino”

“Quando se é trans a sociedade espera que você coloque silicone ou faça uma mastectomia, que você de fato transicione para algo oposto à forma como nasceu, e nem sempre isso é o que nós, pessoas trans, queremos”. A fala é do tatuador Francis de Oliveira Fabrício de Jesus, 23 anos, residente na Capital, que realiza produções artísticas não binárias, ou seja, sem gênero. 

Em entrevista ao Estado Online, Francis contou que começou a trabalhar na área em 2018 usando a técnica de handpoke, que consiste em fazer tatuagens apenas com a agulha, ponto a ponto, sem o apoio da máquina. Posteriormente, ele ganhou uma de presente e desde então não parou mais.

Apesar de ter começado a tatuar somente há três anos, Francis desde criança desenhava corpos sem atribuir características masculinas e femininas. “A vida toda gostei de desenhar pessoas, e mesmo antes de me entender como indivíduo não-binário, eu já gostava de desenhar os corpos dessas pessoas de maneira incomum”, afirma.

De acordo com o tatuador, os desenhos costumam distorcer a figura humana padrão seja com a adição ou remoção de elementos. Através dessas produções artísticas, ele comenta que começou a compreender a infinidade de possibilidades sobre o corpo, identidade e gênero. “Fui entendendo como isso reflete a minha identidade e as possibilidades identitárias existentes. Nós somos mais de 7 bilhões de seres humanos neste planeta, é impossível querer que todas essas pessoas sejam só homem ou mulher. É justamente essa pluralidade que torna a vida interessante”, enfatiza.

Arte sem gênero

Os desenhos, às vezes coloridos ou preto e branco, apresentam figuras com elementos geométricos de diversos tamanhos, além de alguns atributos como piercings no nariz, orelha, sobrancelha e rosto.

O artista revela qual é a fonte de inspiração do seu “confuso” processo criativo. “Eu uso qualquer coisa como referência. Elementos do meu dia-a-dia e principalmente emoções e sentimentos. Minhas criações partem de um lugar bastante abstrato e eu só vou deixando tomar forma”, explica.

 

Falar sobre arte sem gênero é também falar sobre a visão que Francis possui em relação a vida. Por meio das produções, ele procura mostrar para as pessoas que existe liberdade para fugir do padrão masculino e feminino. “A minha arte anda atrelada à minha visão de mundo e é isso que busco transmitir com ela, assim como mostrar que nós não precisamos de padrões para sermos artistas e não precisamos de padrões para existirmos”, inicia.

O tatuador ressalta que o padrão é um fator limitante que muitas vezes impede a pessoa que cria de fazer algo novo e progredir. “Os padrões são construídos justamente para impedir as pessoas de criarem coisas novas, e sem as coisas novas a gente não vai além, é preciso se reinventar para evoluir”, finaliza.

 

Serviço

O trabalho de Francis pode ser conferido através do perfil no Instagram @punkmarinho

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