Quilombolas comemoram a imunização contra a COVID-19

Créditos: Nilson Figueiredo
Créditos: Nilson Figueiredo

Em Campo Grande, 497 pessoas foram vacinadas na Comunidade Tia Eva

Com a inclusão no PNI (Plano Nacional de Imunizações) de quilombolas, a Prefeitura de Campo Grande já vacinou 497 pessoas da Comunidade Tia Eva. Para Sérgio Antônio da Silva, 85 anos, conhecido como “Michel”, já ter recebido as duas doses contra a COVID-19 trouxe um alento no coração.

Bisneto de Tia Eva, e considerado o descendente mais direto ainda vivo, Michel espera que a vida volte ao normal em breve, e de forma consciente, alertou que, mesmo imunizado, continuará com o isolamento social. “Eu fui um dos primeiros a ser vacinado aqui e me senti muito feliz. Todos os dias meus filhos me ligam, pedindo para que eu não saia de casa e mesmo não acostumado a ficar recluso, vou continuar aqui”, salientou Silva.

Em março, a Prefeitura de Campo Grande começou a primeira etapa de vacinação das comunidades quilombolas, mas apenas para idosos e pessoas com comorbidades. Agora, todos os descendentes de Tia Eva, a partir dos 18 anos, estão recebendo as doses.

De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), a vacinação deste grupo é feita de acordo com o quantitativo de doses destinadas para uso exclusivo nessa população. Portanto, não há discriminação por faixa etária ou comorbidades.

Tataraneto de Tia Eva e agente de Saúde, Paulo César Silva, 42 anos, reiterou que a vacinação na comunidade é muito importante e que diariamente reforça os cuidados de higiene, necessários no enfrentamento à pandemia. “Quem acha que a pandemia só afeta os mais velhos está errado, agora, crianças e mais jovens já estão morrendo”, pontuou.

Conforme Paulo, mesmo com a aplicação das doses, todo cuidado é pouco. “Não adianta achar que mesmo com a vacinação estamos imunes, temos que praticar o isolamento social”, alertou.

Mil descendentes

De acordo com o presidente da Associação dos Descendentes da Tia Eva, Ronaldo Jeferson da Silva, de 40 anos, a vacinação começou pelas pessoas que moram dentro da comunidade. Pela falta de espaço e aquisições indevidas de terreno no bairro, ele explicou que, em Campo Grande, são mais de mil descendentes de Tia Eva que habitam diferentes bairros.

Ronaldo salientou que os próximos passos na vacinação contra o novo coronavírus devem contemplar os descendentes que residem fora da comunidade. “A vacinação é muito importante em uma comunidade quilombola porque o nosso convívio é totalmente diferente de um bairro normal, aqui, somos todos família”, ressaltou.

Comunidade Tia Eva

Definida como comunidade urbana remanescente de quilombo desde 1905, a Comunidade Negra Tia Eva é reconhecida pela Fundação Cultural dos Palmares. Escrava antes de vir para o então Mato Grosso, Tia Eva trabalhou como benzedeira, curandeira, lavadeira, parteira e cozinheira.

Por ser devota de São Benedito, após fazer uma promessa e ser curada, construiu, em 1912, a igreja da comunidade em sua homenagem. Por essa razão, desde 1919 a festa de São Benedito acontece anualmente na comunidade.

Texto: Mariana Moreira

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