O Ministério da Infraestrutura prepara um programa que tem como objetivo estimular a navegação e o transporte de cargas e mercadorias pelos rios do país. Ainda sem nome definido, o projeto apelidado de “BR dos Rios” tem prazo de ser lançado até junho e quer atrair investimentos e ampliar o peso das hidrovias. No esboço do projeto, publicado em partes no Diário Oficial da União e obtido pelo O Estado, Mato Grosso do Sul aparece como ponto referencial do projeto por conta da Bacia do Rio Paraguai, ao lado de Paraná e Mato Grosso.
Segundo a pasta, foi identificado que atualmente o Estado tem cerca de 1.280 quilômetros de vias fluviais navegáveis. No diagnóstico atual, há potencial para abertura de mais 1.815 quilômetros de vias, totalizando 3.095 quilômetros ao lado dos dois estados vizinhos.
A reportagem apurou que a navegação pelos rios é vista pela União como alternativa às estradas para que o Estado escoe sua produção para o Porto de Paranaguá (PR) e as regiões Norte e Nordeste, além da abertura de “novas oportunidades”. Estaria embutido aí o projeto da Rota Bioceânica, que ligará Mato Grosso do Sul ao litoral chileno.
Dados da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) mostram que a navegação interior movimenta 5% das cargas no país. A ideia é que a “BR dos Rios” possa catapultar esse fluxo para ao menos 8% até 2035.
Para isso, diversos estudos estão em curso e a ideia, segundo Dino Batista, diretor do Departamento de Navegação e Hidrovias do ministério, é elaborar um pacote com medidas legais e administrativas capaz de atrair a iniciativa privada. O programa poderá buscar investidores para a viabilização de novas hidrovias e a ampliação daquelas já em operação, como Tocantins-Araguaia, Tapajós e São Francisco. Com isso, acredita o ministério, o agronegócio de MS ganhará uma ligação com as regiões Norte e Nordeste.
Segundo a Antaq, o país tem cerca de 27,4 mil km de rios navegáveis e outros 15,4 mil km de trechos que, com
algum investimento, poderiam se tornar navegáveis. Isso integraria as redes fluviais a portos, rodovias e ferrovias. “A ideia é estimular cada vez mais esse tipo de transporte e integrá-lo aos demais criando corredores logísticos para baratear os custos de frete”, disse Batista, por meio da assessoria da pasta.
A hidrovia do Tapajós, que há quatro anos era inexpressiva no transporte de cargas, atingiu neste ano a marca de 11 milhões de toneladas por causa de sua interligação com o último trecho da BR-163, que ficou pronto. A conclusão da obra permitiu que boa parte da safra do Centro-Oeste siga até Miritituba (PA).
“Se a Ferrogrão [novo projeto de ferrovia] decolar, e torcemos para que avance, essa hidrovia poderá responder por 42 milhões de toneladas transportadas”, afirmou Batista. A hidrovia do Tapajós tem cerca de 840 km de extensão até a junção dos rios Teles Pires e Juruena, na divisa entre Pará, Amazonas e Mato Grosso. Sua foz, em Santarém (PA), está a 950 km de Belém e a 750 km de Manaus.
(Texto: Rafael Ribeiro)Veja também: Mercado da arroba do boi reage mas a tendência é de desacelerar