Preocupação de ambientalistas com animais do Pantanal é com alimentação e reprodução

Especialistas comentam que readaptação em área de risco é ameaça

Quando a pesquisadora Neiva Guedes, principal nome do Instituto Arara Azul, começou a sobrevoar o Pantanal para avaliar os efeitos das queimadas, na última semana, o sentimento era de um só: devastidão.

As chamas pareciam matar e consumir tudo o que viam pela frente sem nenhuma piedade. Até que a equipe pousou e iniciou o trabalho de avaliação de campo a pé.

O que de cima parecia um inferno dantesco, de perto a sensação de esperança ressurgiu com o que Neiva e seus colegas viram. No milagre da natureza, os animais do Pantanal sobrevivem como podem. Mas o importante é isso, sobrevivem.

“Pelas imagens que víamos de cima, sobrevoando, parecia ter queimado tudo, de estar tudo acabado. Não, não está. Eu esperava por uma mata vazia, mas ela está povoada, mesmo com as chamas. Ouvimos muitos cantos de aves, rastros de mamíferos, onças e antas. Não sabíamos o que esperar, mas encontramos elementos que nos dá um certo alívio de que nem tudo está perdido”, disse a professora.

A luta pela sobrevivência animal no Pantanal é o principal ponto de estudo nesse período de recordes de queimadas. Com 3,461 milhões de hectares do bioma destruídos pelas chamas, o impacto em sua fauna típica e as tentativas de reequilíbrio após o desastre ambiental passar são pontos que estão atraindo os maiores ambientalistas e veterinários silvestres para Mato Grosso do Sul.

São pelo menos 72 grupos atuando no mapeamento da vida animal pantaneira e o que fazer para garantir minimizar o impacto das queimadas, muitos deles com apoio da gestão estadual de Mato Grosso do Sul.

Focando nas araras-azuis, que correm risco de voltarem a ser ameaçadas de extinção, Neiva aponta que o importante é que, presencialmente, se vê que existe um futuro.

“As queimadas não são homogêneas no Pantanal, quando eu olho de cima, vejo que tem grandes áreas que foram queimadas, mas quando vejo por terra, percebo que existem pequenos bolsões de área verde, que servem de abrigo para a fauna e também como banco de semente para a recuperação dessa área”, disse a professora, mencionando emas com filhotes e até pequenos açudes artificiais criados sem intenção pelas mangueiras de bombeiros e brigadistas, que acabam servindo para salvar muitos dos animais.

E O FUTURO?

Um documento assinado pela doutora em Ecologia e Conservação, Letícia Larcher, e pelo médico veterinário Diego Viana, ambos do Instituto do Homem Pantaneiro, responsável pela preservação de áreas da Serra do Amolar, apontou que os animais do Pantanal podem sofrer com a exposição de predadores, alteração de fauna, flora e alimentos, além de terem mudanças nos padrões de comportamento, migrações e na estrutura alimentar no ecossistema. Algumas espécies ainda podem ter o risco de extinção ampliado.

As duas maiores preocupações são com a alimentação e a reprodução. Na primeira, Letícia aponta que a tendência é de que o Pantanal tenha uma alteração na estrutura trófica, ou seja, as cadeias alimentares, com a tendência de colonização por espécies invasoras. Acesse a reportagem completa.

(Texto: Rafael Ribeiro)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *