Pais de alunos temem fim de ensino técnico com mudança na gestão

Foto:  Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Semed garante que modelo de capacitação será mantido na unidade

A mudança na gestão da Escola Municipal Agrícola Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo, localizada na MS-040, zona rural de Campo Grande – MS, acendeu o alerta entre pais e professores. A unidade, referência na formação técnica agropecuária há quase 30 anos, deixará de ser administrada exclusivamente pela Prefeitura e passará a ter o Ensino Médio sob responsabilidade do governo do Estado a partir de 2026.

A alteração — explicada como uma “cooperação técnica” entre o município e o Estado — provocou reação imediata de parte da comunidade escolar, que teme o fim do curso técnico e a queda na qualidade do ensino. Durante reunião nesta sexta-feira (24), representantes da Secretaria Municipal de Educação garantiram que o Ensino Médio continuará funcionando no local e que o modelo agropecuário será mantido.

“Os pais tinham algumas dúvidas, muitos boatos surgiram de que iria acabar com o ensino médio e isso não é verdade. O ensino médio vai continuar, com término técnico em agropecuária. Apenas vamos fazer um termo de cooperação com o Estado, porque a competência do ensino médio é estadual”, explicou Clarice Cassol Miranda, superintendente de Gestão e Normas da Semed.

Segundo Clarice, os professores do município que hoje atuam no Ensino Médio poderão ser remanejados, já que o concurso público municipal prevê atuação apenas até o 9º ano. “Quem é efetivo não vai perder o emprego. Poderá assumir outro cargo no Ensino Fundamental”, disse. A gestora garantiu ainda que os estágios e certificações permanecerão.

“O curso técnico em agropecuária continua o mesmo. O que muda é a gestão, que passa a ter a expertise do Estado, com parcerias com universidades e empresas para ampliar as oportunidades dos alunos”, completou.

Pais temem queda na qualidade

Apesar das garantias da Secretaria, pais e responsáveis demonstraram desconfiança e indignação. Para Maria do Socorro Martins, 38 anos, dona de casa e mãe de um aluno do 9º ano, a mudança representa um risco para a formação dos filhos.

“Meu filho estuda aqui desde a primeira série e o ano que vem já vai para o ensino médio. A nossa preocupação é essa: o ensino médio ir por água abaixo. Há 30 anos essa escola existe e nunca mexeram. Por que agora vão mexer?”, questionou.

Ela conta que, embora a Prefeitura diga que a escola é bem assistida, a realidade no local é diferente.

“Falam que as escolas estão todas reformadas, mas a nossa está caindo aos pedaços. Os banheiros não têm condição, a entrada está precária, e a merenda é só chá com bolacha. Como os pais com três, quatro filhos aqui vão comprar até botina, se nem uniforme completo a escola entrega?”, desabafou.

Maria teme que, com a nova administração, a qualidade do ensino caia.

“Eles dizem que nada vai mudar, mas vai. E a qualidade do ensino vai cair muito. É isso que a gente teme.”

Grupos de pais chegaram a discutir formas de protesto. “A gente vai pra frente da escola antes do dia 3 de novembro, queimar pneu e fechar a BR. A escola tem história, tem professores que acompanham os alunos desde a segunda série. Por que mudar agora, se está dando certo?”, disse.

“Se mudar, eu tiro minha neta”

Para Eneide Benites,avó de uma estudante do 3º ano do técnico agropecuário, a possível entrada do Estado na gestão é motivo suficiente para tirar a neta da escola.

“Tem 20 anos que o ensino médio funciona aqui. Nunca teve problema. Se mudar, se for pro Estado, eu tiro ela daqui. Levo pra cidade, contra a minha vontade, mas faço isso”, afirmou.

História e importância da unidade

A Escola Municipal Agrícola Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo atende cerca de 500 alunos em tempo integral e já formou 17 turmas de técnicos agropecuários. A formação é reconhecida no mercado rural, e muitos egressos são contratados por fazendas e empresas do setor.

Com a mudança, o diploma técnico passará a ser validado pelo Estado, e não mais pelo município. De acordo com a Prefeitura, o novo modelo permitirá ampliar o acesso dos estudantes a universidades e programas estaduais.

Entretanto, para boa parte da comunidade, o sentimento é de incerteza. “Toda mudança causa conflito, mas é necessária”, afirmou Clarice Cassol.

“O problema”, rebate Maria do Socorro, “é quando a mudança vem de cima pra baixo e quem mais sofre é quem está aqui todos os dias.”

 

Suelen Morales

 

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