Na expectativa por uma vacina, voluntários relatam confiança nos testes

Em Mato Grosso do Sul, estão sendo testadas a BCG e a CoronaVac

“Eu entrei na pesquisa muito seguro em participar e com a perspectiva de que a vacina pode me auxiliar nesse processo da pandemia.” A frase é de Everton Lemos, professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), doutor em doenças infecciosas e voluntário no estudo BTB (Brace Trial Brasil) da vacina BCG, que previne contra a tuberculose e está sendo testada como imunizante para COVID-19.

Para Lemos, a perspectiva de estar imunizado contra o novo coronavírus é justificada pela já comprovada eficácia da BCG contra doenças infecciosas. De acordo com o professor, com a possibilidade de uma vacina específica para COVID-19 chegar no ano que vem, a BCG representa uma alternativa de estímulo no sistema imunológico.

“A expectativa em si está na possibilidade de que a vacina BCG, independente das mudanças de linhagem da COVID-19, possa ser a melhor resposta ao sistema imunológico”, reiterou Lemos. Em Campo Grande, cerca de 750 voluntários já se inscreveram no estudo da BTB. A fase de recrutamento iniciada em 19 de outubro pretende vacinar 1,5 mil profissionais da saúde até fevereiro de 2021.

A pesquisa no Brasil é liderada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e, além de Campo Grande, a testagem também é feita no Rio de Janeiro, em mil pessoas. O estudo quer avaliar se a vacinação ou a revacinação com a BCG pode reduzir o impacto da COVID em trabalhadores de saúde.

O pesquisador e infectologista Júlio Croda é o coordenador da pesquisa na Capital. Segundo ele, ainda não há um resultado preliminar dos testes com a BCG. Os voluntários, antes de tomar a vacina em dose única, passam por entrevista e testagem sorológica, além de acompanhamento por até um ano.

Se apresentarem qualquer sintoma sugestivo de COVID19, eles farão o teste swab para avaliar a presença de Sars-CoV2. De acordo com Croda, 100 voluntários já apresentaram sintomas de síndrome gripal. “Destes, tivemos 24 diagnósticos confirmados [para COVID-19], mostrando que há grande infecção em Campo Grande”, frisou.

Ao todo, o estudo vai vacinar 10 mil voluntários na Austrália, Reino Unido, Espanha, Holanda e Brasil. O projeto é liderado pelo pesquisador australiano Nigel Curtis, do Murdoch Children’s Research Institute, e financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates.

Na Capital, o estudo conta ainda com parceria da Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul) e da SES (Secretaria de Estado de Saúde).

CoronaVac

Em fase mais avançada, os estudos com a vacina CoronaVac desenvolvida no país pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório SinoVac têm se mostrado seguros, sem reações adversas nos voluntários, conforme a pesquisadora e infectologista Ana Lúcia Lyrio. Na Capital, 250 profissionais da saúde já receberam as doses do imunizante ou placebo.

Para o fisioterapeuta e voluntário na pesquisa Igor Naki, a experiência de ser um possível imunizado traz um pouco mais de tranquilidade. Naki já recebeu as duas doses em testes e aguarda a divulgação dos dados da pesquisa para saber se, de fato, está imunizado.

“Nós que trabalhamos em hospitais, acompanhamos uma realidade difícil e as pessoas que atendem os pacientes se colocam no lugar deles, mesmo. Porque diferente de patologias como cardiopatias ou problemas renais, por exemplo, esse vírus acomete todo mundo, e quem está atendendo também se vê na possibilidade de estar deitado na maca. Isso nos sensibiliza muito”, reiterou Naki.

Em novembro, a revista científica “Lancet”, uma das mais importantes no mundo, publicou os resultados de segurança da CoronaVac. Durante as fases I e II, com a participação de 744 voluntários na China, a vacina demonstrou resposta imune no organismo 28 dias após sua aplicação em 97% dos casos.

Este foi um fator determinante para que o fisioterapeuta optasse por participar dos estudos da CoronaVac, desenvolvidos também em Mato Grosso do Sul. “O que me motivou a participar da pesquisa é a possibilidade de estar imunizado, reduzir as chances de complicações e porventura, o óbito. Pelo fato dessa vacina ter passado pela fase 2 de segurança, isso faz com que a gente confie mais”, finalizou Naki.

(Texto: Mariana Moreira)

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