A mais recente crise política com o ministro da Justiça, Sergio Moro, levou Jair Bolsonaro a colocar novamente o ex-juiz da Lava Jato como seu preferido para substituir o ministro Celso de Mello no STF (Supremo Tribunal Federal). O decano se aposentará em novembro, abrindo espaço para o presidente emplacar seu primeiro nome na corte.
Aliados de Bolsonaro veem no gesto de indicar Moro um movimento para blindar um cenário em que ele pode surgir como seu adversário na disputa presidencial de 2022.
Segundo relatos feitos à reportagem, o ministro tratou da possibilidade de ir para o STF em conversa com o presidente após a polêmica sobre a recriação do Ministério da Segurança Pública, hoje integrado à pasta da Justiça. A indicação para o Supremo também abriria espaço para que o chefe do Executivo tenha mais ingerência no Ministério da Justiça, algo que ele vem buscando desde o começo do governo.
Um dos pontos sensíveis é a Polícia Federal. A saída de Moro pavimentaria o caminho para Bolsonaro mexer no seu comando, desejo já sinalizado por ele no ano passado.
Segundo assessores, a nova mudança de entendimento, a favor de uma indicação já neste ano, se deu após o mal-estar surgido com a intenção do presidente de desmembrar a pasta da Justiça, criando um ministério separado para a Segurança Pública.
Bolsonaro articulou uma reunião com secretários estaduais de Segurança sem a presença do ministro, que tem usado a segurança como uma das suas bandeiras de gestão. Naquele momento, Moro disse a aliados que, se a manobra ocorresse, deixaria o governo. Bolsonaro recuou e disse que, por enquanto, a possibilidade de dividir a pasta está engavetada.
Se antes pretendia segurar Moro no governo pela hipótese de tê-lo como candidato a vice em 2022, agora o presidente considera que a indicação ao STF é uma maneira de evitar que ele se torne um adversário nas urnas. Ao mesmo tempo, é uma estratégia para ganhar mais autonomia sobre seu próprio governo.
Com popularidade maior que a de Bolsonaro, como apontou pesquisa Datafolha do fim de 2019, Moro ganhou no Palácio do Planalto o apelido de “ministro indemissível” e se tornou, na avaliação de auxiliares do governo, um contraponto ao presidente na Esplanada.
A possível indicação de Moro ao Supremo tem a simpatia do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e conta com o apoio da ala lavajatista do Senado, onde os indicados para o STF são sabatinados. No entanto, enfrenta resistência de um grupo de parlamentares com processos em andamento. Para eles, o ingresso de Moro no Supremo pode mudar o equilíbrio de forças na corte, prejudicando-os.
(Texto: João Fernandes com Folhapress)