A pandemia do novo coronavírus (covid-19), iniciada em março, tem causado inúmeras dúvidas em toda a população, uma delas, são as especulações sobre a criação da vacina contra a doença. Outro assunto relevante que tem causado preocupação são as testagens, serviço que está sendo feito para amenizar o avanço do vírus. Diante disso, nossa equipe de reportagem do Viver Bem, conversou com o médico oncologista, imunoterapeuta e diretor-geral do Hospital de Câncer, Gustavo Mendes Medeiros para sanar todas as incertezas que este momento tem causado.
O Estado: A única medida eficaz para acabar com a disseminação do vírus é a criação da vacina, que ainda não foi descoberta. Como funciona esse processo de produção?
Gustavo: A vacina tem duas maneiras de funcionar, uma é com o vírus atenuado, então pega o vírus diminui a virulência dele e faz a vacina e a segunda é com cepas do vírus, tira um núcleo do vírus e se produz a vacina a partir daquele pedaço do vírus. Para uma vacina sair, demora no mínimo um ano. Primeiro fazemos o estudo em vitro para ver se a vacina consegue produzir anticorpos contra o vírus, que são os estudos no laboratório. Depois que esse estudo comprova que tem eficacia ela vai para os estudos clínicos. A vacina que tiver uma boa aprovação em estudo em humanos ela deve ter o processo de aprovação e credenciamento aprovado. O organismo tem que conhecer o vírus de uma maneira enfraquecida para ele poder criar uma resposta imune muito boa e também que a pessoa não fiquei doente, esse é o princípio da vacina. Como é uma doença viral muito contagiosa, a esperança para essa doença é que a vacina saia o quanto antes.
O Estado: Existe a possibilidade das pessoas contraírem o vírus mesmo se vacinando?
Gustavo: Sim! O vírus tem o poder de fazer sua mutação, então ele tem a capacidade de mudar o DNA dele, como acontece no vírus da gripe. Eu acredito que essa cepa que hoje está circulando pode passar por mutação e que ai tenha que mudar a vacina ou mudar a cepa. Agora, uma vacina quando produzida e testada nós conseguimos não se contaminar pelo vírus.
O Estado: Qual a importância da vacina neste momento de pandemia?
Gustavo: O que podemos falar para a população é que a vacina é um meio de proteção, ela é a maneira mais eficaz e mais segura de proteger as pessoas. Ela ensina o nosso organismo a produzir defesas contra os vírus. Ela é muito importante porque é segura, eficaz e ela consegue fazer com que o nosso organismo se proteja e crie proteções para esses patógenos.
O Estado: Quais são os protocolos de testagem?
Gustavo: Existem dois tipos de testes, tem o RT-PCR e o teste imunológico. O RT-PCR é aquele do nariz, ele identifica o vírus, então ele precisa de dois a três dias de sintoma para poder ter uma quantidade significativa do vírus, para que ele seja reconhecido nos exames. A partir do momento que a pessoa produziu anticorpos, pode ser que esse vírus não esteja mais presente e ele não aparece nesse teste. É ai que as pessoas fazem o teste do sangue, que é o imunológico que identifica anticorpos contra o vírus. No tempo de cinco a sete dias os anticorpos agudos, que é o IgM. De sete a dez dias são os anticorpos de defesa permanente que o IgG que nós falamos que é a imunidade adquirida. Então, um identifica o vírus e o outro identifica anticorpos contra o vírus.
O Estado: Qual a importância da testagem?
Gustavo: Nós ainda não temos total conhecimento desse vírus, então se você fizer uma testagem em massa como foi feito aqui no jornal, nós pegamos as pessoas assintomáticas que estão transmitindo o vírus e nesse momento conseguimos identificá-las e conseguimos afastá-las das outras pessoas. Porque uma pessoa assintomática pode transmitir o vírus para todo mundo que divide o mesmo ambiente que ela.
O Estado: O que significa o falso negativo e o falso positivo? Por quê isso ocorre?
Gustavo: No começo da pandemia os testes vieram da China e tinham baixa qualidade e tiveram algumas empresas que compraram esses testes e tiveram muitos falsos positivos, eles tinham muitos casos positivos que não eram positivos, isso aconteceu porque esses testes tinham baixa qualidade. Hoje os testes são americanos já consagrados, então esses testes eles têm uma sensibilidade e uma eficacia de 100%. O que pode acontecer é você fazer o teste no tempo inadequado ai realmente você terá um resultado que não é o verdadeiro, mas ai não é culpa do teste.
O Estado: Qual a orientação dos médicos em relação aos testes? Todo mundo precisa fazer o exame?
Gustavo: Se você fizer uma testagem em massa em uma população que tem um convívio diário, você tem a vantagem de identificar os casos poucos sintomáticos, mas que estão transmitindo a doença. O ideal é testar todo mundo. Testagens aleatórias têm uma grande chance de não ter um resultado legal.
O Estado: Como o senhor avalia a pandemia aqui em Campo Grande?
Gustavo: Uma opinião pessoal e técnica minha, eu avalio vendo que como conhecemos pouco desse vírus, temos ir com a experiência que já vivemos em outros locais e qual é essa experiência? Enquanto não tiver vacina vai ter o surto e vai ter o pico, isso é independente e essa é uma fase que vamos viver. Claro que se você segurar as pessoas em casa você diminui esse contágio, mas isso não evita que tenha o pico de contaminação.
A principal orientação é do médico é que as pessoas precisam evitar aglomeração. A aglomeração é a principal maneira de disseminação do vírus e se a população não se conscientizar, isso pode piorar.
Serviço: O médico Gustavo Medeiros atende no Instituto de Oncologia de Campo Grande, na rua Professora Elisa Sila, 47 na Chácara Cachoeira. Para mais informações entre em contato pelo telefone (67)99845-3534 ou (67) 3341-2373.