SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) – A médica oncologista e imunologista Nise Yamaguchi anunciou hoje sua pré-candidatura ao Senado Federal pelo estado de São Paulo. Ela foi investigada na CPI da Covid por um suposto envolvimento com o chamado “gabinete paralelo”, grupo de assessoramento do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre ações a serem adotadas na pandemia do coronavírus.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Nise diz ser uma pessoa independente: “Não tenho partido. Não sou política. Não sei ainda qual partido eu vou acolher. Mas eu sei que vou ser uma pessoa independente. Estou dizendo que vou ter uma candidatura independente. Qual vai ser o partido? O mais ético que eu encontrar.”
Segundo ela, “mais mulheres têm que ocupar a cadeira do Senado”.
Nise foi uma defensora do tratamento precoce contra a COVID-19, assim como o presidente Jair Bolsonaro.
Emocionada, Nise diz saber que está entrando num “covil”, mas que quer lutar o bom combate: “Não conheço os meandros, não quero estar no ‘toma lá, da cá’, não quero fazer acordos que eu não tenho como cumprir, porque minha ética não vai permitir. Se Deus não permitir que eu seja senadora, vou continuar meu trabalho de formiguinha”.
Nise foi 13 vezes a Brasília em 1 ano
A imunologista viajou ao menos 13 vezes para Brasília entre maio de 2020 e maio de 2021, de acordo com informações da Latam à CPI da Covid, obtidos pela rádio CBN. As passagens foram pagas em dinheiro vivo.
Essa modalidade de pagamento ocorreu em oito viagens, sendo sete delas intermediadas por agências de turismo e uma paga diretamente à Latam. O valor integral do dinheiro pago pelas passagens é pouco mais de R$ 16 mil.
O governo federal pagou uma das viagens realizadas por Nise Yamaguchi. No dia 30 de setembro, a listagem da Latam sinaliza o embarque da médica. No Portal da Transparência, o Ministério da Saúde informa que pagou R$ 3 mil para a médica viajar para gravar um vídeo sobre o tratamento precoce — método sem comprovação científica que utiliza medicamentos como a cloroquina, a azitromicina e a ivermectina.
Mudança da bula da cloroquina
Em depoimento na CPI da COVID Nise Yamaguchi afirmou que não houve proposta de mudar a bula da cloroquina. A fala contradiz a versão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e do presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres.
A médica também negou participação no chamado “gabinete paralelo”, que aconselhava o governo federal sobre a condução de ações ao enfrentamento da pandemia com diretrizes pautadas na imunidade de rebanho e no uso de medicamentos sem eficácia comprovada, que integram o “tratamento precoce” e o “kit COVID”.
Em junho, a médica Nise Yamaguchi pediu indenização de ao menos R$ 320 mil de Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão, e Otto Alencar (PSD-BA), afirmando ter sido vítima de misoginia e humilhação durante audiência da comissão que investigou ações e omissões do governo Bolsonaro durante a pandemia.
Na ocasião, o senador Otto Alencar, médico de formação, confrontou Nise sobre conhecimentos técnicos a respeito de doenças virais. Insatisfeito com as respostas, interrompeu a oncologista: “A senhora não sabe, infelizmente a senhora não sabe nada de infectologia, nem estudou doutora, a senhora foi aleatória mesmo, superficial.”