Em um novo gesto anti-China, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, trabalha para lançar uma aliança estratégica com Estados Unidos e Japão para defender valores comuns na Ásia e na América Latina.
Um diálogo trilateral de alto nível dos três países foi apresentado no ano passado pelos japoneses, que viram no alinhamento do governo Jair Bolsonaro com os EUA uma oportunidade para propor a ideia ao Itamaraty.
Segundo disseram interlocutores, Ernesto abraçou com entusiasmo o projeto, embora tenha sido alertado por subordinados que a concretização desse fórum será visto pela China, inevitavelmente, como uma provocação.
A proposta ganhou corpo, e a expectativa de Ernesto é lançá-la nos próximos meses. A preocupação levantada por diferentes setores do Itamaraty é que os EUA, no plano global, e o Japão, no regional, são hoje os maiores antagonistas do governo chinês.
Ao aceitar integrar um fórum de diálogo político com esses dois atores, o Brasil seria levado a assumir posições sobre o delicado jogo de poder do Pacífico que desagradariam ao maior parceiro comercial do país.
Só em relação ao agronegócio, a China comprou US$ 11,85 bilhões (R$ 58,84 bi) em produtos brasileiros no primeiro quadrimestre de 2020, segundo dados do Ministério da Agricultura.
Japoneses e americanos também são críticos do que consideram a presença cada vez mais agressiva da China na América Latina, seja como compradora de commodities e investidora em projetos de infraestrutura, seja pelo apoio político à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela.
Existe o receio de que esses debates também entrem na pauta da nova aliança, forçando o Brasil a abordar assuntos que podem criar rusgas com os chineses. Outro assunto que interlocutores consideram que EUA e Japão tentariam empurrar para dentro do diálogo trilateral é segurança da informação.
Os dois países dizem que a empresa chinesa Huawei não deveria fornecer equipamentos para redes de 5G, e os americanos pressionam o Palácio do Planalto para que o Brasil siga o mesmo caminho, em um novo flanco de disputa com Pequim.
A iniciativa de um diálogo trilateral articulada entre americanos e japoneses não é inédita. Ambos os países têm alianças lançadas com Índia e Austrália. Nesses casos, são realizados encontros e contatos para discutir diversos assuntos, como ampliação do comércio e segurança marítima na região do Indo-Pacífico.
Procurada, a Embaixada do Japão em Brasília disse que não comenta o assunto. “Não há nada para poder responder até o momento. Também não está definida a realização do diálogo em questão”, respondeu.
(Texto: Folhapress)