O advogado de um dos suspeitos de hackear o celular do ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou nesta quarta-feira (24) que, segundo seu cliente, o objetivo de Walter Delgatti Neto, outro envolvido no caso, era vender o conteúdo das mensagens interceptadas ao Partido dos Trabalhadores.
As declarações foram dadas por Ariovaldo Moreira, defensor de Gustavo Henrique Elias Santos e de sua mulher, Suelen Oliveira -ambos em prisão temporária no âmbito da Operação Spoofing. Delgatti também está detido.
“Ele [Elias Santos] confirma que o Walter [Delgatti] tinha ao menos informações acerca da conta de Telegram do juiz Moro. A única coisa que ele acrescentou a mais é que a intenção [de Delgatti] era vender essas informações ao PT”, disse Moreira a jornalistas, na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, depois de acompanhar os depoimentos de seus clientes.
O advogado disse ainda que Elias Santos “não estava envolvido na empreitada criminosa” e que seu cliente não sabe se a venda do material ao partido político de fato ocorreu. “O Walter disse que a intenção seria vender ao PT”, reafirmou o advogado.
Questionado por jornalistas sobre o fato de Delgatti ter sido filiado ao DEM, o advogado disse que a mesma pergunta foi feita a seu cliente no interrogatório, mas que Elias Santos “não soube responder”.
“O que o Gustavo sabe é que o Walter tem uma certa afinidade com o Partido dos Trabalhadores”, argumentou o defensor.
Moreira já havia comentado o caso de seu cliente mais cedo nesta quarta-feira. Ele havia dito que Delgatti chegou a mostrar parte do conteúdo interceptado para Elias Santos, ponto que reafirmou no final da tarde desta quarta.
“O próprio Vermelho [apelido de Delgatti Neto] mostrou algumas coisas para ele [Elias Santos], e ele assustou e falou: ‘Meu, cuidado com isso aí porque pode dar problema’. Na verdade, ele não acreditou naquilo, mas, pelo que foi narrado, mostraram algo para ele a respeito disso [invasão do celular de Moro]”, disse o advogado na manhã desta quarta.
Além de Elias Santos, Suelen e Delgatti, o quarto preso é Danilo Cristiano Marques.
Todos são naturais de Araraquara (SP), mas viviam ultimamente em cidades diferentes. Segundo a PF, os mandados de prisão foram cumpridos nas cidades de São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto (SP).
Na decisão em que autorizou a prisão dos quatro suspeitos, o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, afirma que há “fortes indícios que os investigados integram organização criminosa para a prática de crimes e se uniram para violar o sigilo telefônico de diversas autoridades brasileiras via invasão do aplicativo Telegram”.
Moro associou a prisão dos quatro suspeitos à divulgação, pelo site The Intercept Brasil, de mensagens que mostram interferência do ex-juiz da Lava Jato nas investigações da força-tarefa.
Essa conexão, no entanto, não está citada na decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira. Tampouco há menção no pedido do Ministério Público que as fundamentou.