Curto-circuito de máquinas agrícolas, rompimento de cabos e até extração de foram identificados por peritos
Curtos-circuitos em máquinas agrícolas, rompimentos de cabos de alta-tensão, acidentes de trânsito e até extração de mel. Estes foram alguns dos agentes que iniciaram o fogo que, com clima seco, destruiu 2,9 milhões de hectares do Pantanal (19,3% do total do bioma), sendo que desse total, 1,165 milhão de hectares está em Mato Grosso do Sul (12,7% do total da área).
A informação foi divulgada pelo Ciman (Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Nacional), espécie de força-tarefa de órgãos do Governo Federal, entre eles Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Defesa Civil Nacional, Funai (Fundação Nacional do Índio), Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade) e autarquias dos ministérios da Defesa e Justiça e Segurança Pública.
No relatório feito pelos peritos, ainda em fase inicial, é apontado que a explosão de um carro em uma fazenda pecuarista de Poconé (MT), em 20 de julho, foi o estopim para a propagação do fogo. Segundo o texto, os bombeiros do estado vizinho chegaram a conter o incêndio, mas as chamas permaneceram nas raízes das árvores e se propagou em combustão com o tempo seco, consumindo 116,8 mil hectares em 171 focos de incêndio.
A partir desse incidente, a reação foi em cadeia, com incêndios de grandes proporções se alastrando por conta de problemas gerados justamente pelo clima extremamente seco, como panes em maquinários agrícolas e rompimento de cabos de alta-tensão.
Há focos de incêndio criados até por motivos poucos usuais, como o incêndio de raízes de árvores para usar a fumaça para afugentar abelhas de colmeias e, desta forma, poder fazer a extração dos favos de mel.
De acordo com o Ibama, 98% das queimadas no bioma Pantanal são oriundas de ações humanas. O problema para os órgãos federais de fiscalização ambiental é que a prática começou justamente após 1º de julho, data em que se iniciou o período proibitivo de queimadas.
E foi nesse cenário que a PF foi acionada para investigar a origem do fogo em MS. Na avaliação do Ciman, a situação foi usada por produtores rurais para fazer alguns incêndios com o objetivo de abrirem pastos para a pecuária. Só que a situação saiu do controle.
O trabalho dos peritos do Ciman vai dar a diretriz de atuação da Polícia Federal em operações desencadeadas para identificar a responsabilidades de produtores rurais nos incêndios, como a Matáá em MS, que desde a semana passada investiga cinco fazendeiros pelo início das queimadas. Os agentes investigam se aconteceu com o Pantanal algo similar ao ‘Dia do Fogo’, quando fazendeiros e empresários do Pará organizaram queimadas na Amazônia em agosto do ano passado.
“Queremos descobrir quem foram os autores das queimadas”, disse o delegado da PF Daniel Rocha, em referência ao fato de que os incêndios que destroem o bioma teriam sido provocados pela ação humana — e não por conta do período seco. As propriedades investigadas pela Polícia Federal na Operação Matáá ficam próximas ao Parque Nacional do Pantanal, na divisa dos dois estados, e, segundo o delegado, são grandes fazendas de pecuaristas.
Na segunda-feira (21), o Governo do Estado já havia divulgado que a Polícia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul aguarda apenas ter o resultado oficial dos laudos periciais em mãos para começar a autuação das fazendas na região do Pantanal, após as investigações da Operação Focus, como foi batizada a força-tarefa capitaneada por servidores do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), bombeiros e policiais militares e civis sobre a responsabilidade de produtores rurais sobre as chamas.
Também foi deflagrada ação coordenada entre ministérios públicos de 17 estados, incluindo MS, voltada a coibir o desmatamento e a proteger as regiões de floresta que integram o bioma da Mata Atlântica. A operação conta com a participação e o apoio de diversas instituições, com o objetivo de coibir o desmatamento e proteger as regiões de floresta que compõem o bioma. O final da operação está previsto para o dia 1º de outubro.
(Texto: Rafael Ribeiro)