Nariz afinado, rosto harmonizado, lábios pigmentados e nenhuma olheira. Esses são os desejos de milhares de jovens que têm enxergado através das selfies com filtros do Instagram, a necessidade de mudança, a construção da aparência perfeita.
Efeitos de cirurgias e procedimentos que antes estavam além da realidade, agora estão à um click de distância em todo e qualquer smatphone, o que tem estimulado jovens de 14 a 24 anos a buscarem por um rosto mais parecido com o dos famosos e influenciadores digitais. Ao abrir a câmera do celular, é possível ‘se transformar’ e ficar parecida com atrizes e famosas como: Giovanna Antoneli, Marina Ruy Barbosa, Romana Novais, Mayra Cardi, entre outros.
De acordo com o estudo realizado em 2017 pela a Academia de Cirurgiões Plásticos, 55% das pessoas que fizeram procedimentos estéticos naquele ano tinham como referência os recursos do Instagram. No Brasil, 20% dos jovens entre 15 a 25 anos realizaram bichectomia para afinar as bochechas nas selfies. Em 2019 o Instagram até chegou a remover filtros que simulavam cirurgias plásticas ou procedimentos estéticos. Mesmo assim, hoje ainda existem diversas possibilidades de filtros nos stories da rede.
Impactos no mercado da estética
Para micropigmentadora e design Karla Andrade, só o filtro do Instagram não é o suficiente para que as pessoas queiram realizar as intervenções. “Acredito que a expansão desse mercado se deu muito mais pela exposição do trabalho na rede, mas com certeza a instantaneidade, o fato de que a pessoa consegue ter uma noção rápida de como ela poderia ficar, o que influência o desejo” pontua.
Já o Cirurgião plástico Gabriel Rahal, 37, conta como a plataforma tem influenciado a vida de seus pacientes. “Acredito que os filtros motivaram as pessoas a realizarem procedimentos que as deixam incomodadas quando estão se vendo sem o filtro. Na minha opinião tudo deve ser analisado com muita cautela, porque os filtros não são reais, as pessoas se iludem vendo outras pessoas ou artistas de uma forma que muitas vezes não é. Acho que buscar melhorias em algo que está incomodando e saber alinhar a sua expectativa, junto ao seu médico, em relação ao possível resultado é de extrema importância nos dias de hoje.” ressalta.
Distorções Cognitivas
A psicóloga Talwany Nobre explica como esse fator tem afetado a autoestima das mulheres, e afirma que embora o Instagram tenha ditado os padrões de beleza, ele não é a causa principal de toda a questão e sim um amplificador. “Ao longo da nossa vida desenvolvemos crenças sobre quem eu sou, como o outro é e como as coisas são. A medida que essas crenças são mais negativas eu vou fortalecendo elas com as coisas negativas que eu vejo. O Instagram fortalece esses pontos de rejeições, quando eu coloco o filtro eu vejo o meu rosto ser alterado, e cada vez que eu troco eu percebo que vários traços vão mudando e isso pode ser um estímulo para eu reparar e pensar que eu sou defeituosa. A partir de todo esse contexto eu começo a ter a impressão de que aquilo que eu estou vendo está mais certo do que aquilo que eu tenho, do que aquilo que eu sou”.
Para a profissional, a comparação do que o usuário se depara na dela e a fisionomia dos famosos gera uma grande confusão mental. “O gatilho é: os famosos são assim, as pessoas que tem muitos seguidores são assim. É como se eles mostrassem mais o padrão que eu deveria ter e não tenho, já que essas ferramentas tendem a mostrar um padrão, com bocas maiores, nariz mais fino e por aí vai. Querer mudar algo no rosto é algo normal, mas as pessoas precisam saber por qual motivo elas estão fazendo isso. Se elas estão buscando aprovação, mais likes, mais seguidores, ou se é porque realmente ela está incomodada. Porque senão essa pessoas acaba por entrar em uma busca de algo que ela nem sabe o que é”.
“Eu já tive muitas questões aqui no consultório de pacientes chateados porque não tiveram muitos likes, porque não fotografam bem, porque o rosto não está tão fino. A própria câmera do celular já causa distorções, a câmera não te mostra do jeito que você é e gera a não aceitação. Durante o processo de construção na vida, a gente passa por muita coisa e todos os traumas e questões não resolvidas para a aceitação passam a ser agravadas. Hoje a gente se vê muito mais em câmera e acabamos vendo e realçando os defeitos e entramos muito mais na busca por aceitação” finaliza.