Entrevista da Semana com o Governador Reinaldo Azambuja

“Politização da vacina não ajuda o Brasil e para MS não importa a nacionalidade” Sobre o futuro, Reinaldo lembrou que 2022 está longe e seu compromisso é concluir este novo ciclo de desenvolvimento

O Estado: MS tem a estrutura necessária para iniciar a campanha de vacinação da COVID-19? Dá para vacinar toda a população?

Governador Reinaldo Azambuja: Estamos acompanhando atentamente a evolução das decisões das autoridades sanitárias do país, sobre a vacinação. Como se sabe, ainda não temos nenhuma vacina aprovada pela Anvisa. No entanto, nossa expectativa é de que haja vacinação em massa, logo a partir do começo do ano. Entendo que o Ministério da Saúde deve assumir esta responsabilidade, como aliás já executa no âmbito do Programa Nacional de Imunização, responsável pelas demais vacinas, como a da hepatite, paralisia infantil, sarampo, tétano e difteria, gripe, entre tantas outras. E, para o coronavírus, eu defendo que seja feito no mesmo modelo.

Se isso não ocorrer, nós já temos recursos disponíveis – cerca de 100 milhões – que podem ser utilizados para adquirir as vacinas necessárias. Se o ministério não organizar um plano nacional, nós vamos criar nossa própria estratégia, em um cronograma com grupos prioritários e fazer o que precisa ser feito.

Em reuniões com o secretário de Saúde e os técnicos do nosso COE, concluímos que vamos precisar de cerca de 780 mil doses para vacinar as pessoas dos grupos prioritários: idosos, profissionais de saúde, pessoas com comorbidades – diabetes, hipertensão e outras doenças crônicas –, indígenas, profissionais da segurança pública e profissionais da educação. Se a vacina for em duas doses, esse número dobra para os grupos considerados prioritários. Na sequência, virão as demais camadas da população.

O Estado: O recurso anunciado inicial de R$ 100 milhões para compras das possíveis doses virá de qual fonte?

Governador Reinaldo Azambuja: Desde o início do nosso governo falamos da responsabilidade de cuidar bem das contas públicas. Para tanto, fizemos tudo o que era preciso para justamente não sucumbir em tempos de dificuldade. Inclusive adotando medidas até impopulares, mas necessárias à governabilidade do Estado. Entendo que colhemos hoje os resultados dos nossos esforços e das reformas realizadas. Só para lembrar: primeiro, fizemos a reforma administrativa, que nos transformou no estado mais enxuto do país. E isso foi crucial para a gente gastar menos com o próprio governo e mais com as pessoas. Segundo, instituímos, via projeto de lei, o teto de gastos, que impôs limites aos Poderes Constituídos.

Em seguida, fomos um dos primeiros a fazer a reforma da previdência estadual, em dois tempos: começamos em 2017 e concluímos em 2019. Todas importantíssimas para o equilíbrio fiscal. Depois, revisamos a toda nossa política de incentivos, para recuperar nossa capacidade de atrair investimento privado. Iniciamos o programa de concessões públicas e fomos ficando cada vez mais um estado digital – mais leve, mais ágil e mais acessível. Então, tocamos pautas que fizeram Mato Grosso do Sul mudar de patamar. Primeiro, para manter o Estado solvente, adimplente e cumpridor das suas obrigações, mas também para ampliar nossa capacidade de fazer investimentos. Hoje, temos os recursos para a compra da vacina, mas também para fazer investimentos.

O Estado: Como vê o embate político sobre a vacina da COVID-19?

Governador Reinaldo Azambuja: A politização não ajuda o Brasil. E eu tenho dito que em Mato Grosso do Sul não importa de onde venha: qualquer vacina aprovada pela Anvisa – tanto faz ser da Rússia, da Inglaterra, dos Estados Unidos ou da China – será bem-vinda para entrar no rol do nosso programa. Entendo que a melhor solução é que tudo ocorra no âmbito de um Programa Nacional de Imunização, capitaneado pelo Ministério da Saúde, que tem experiência, expertise. Não podemos misturar um problema desse tamanho de saúde pública com questões políticas de governo. Penso que temos de buscar logo a vacinação, criar o cronograma, sempre pautados pela ciência, e virar essa página da pandemia, para que o Brasil inicie sua retomada.

O Estado: A pandemia de 2020 gerou o quanto de custo a mais ao Estado?

Governador Reinaldo Azambuja: No fim das contas, todos perdemos. É um problema gigantesco, que vem desafiando, de forma aguda, até hoje, a saúde pública, e exigiu muito mais gasto e investimento. Impactou fortemente a educação, que teve de fazer um esforço redobrado para não perder este ano. Criou dificuldades imensas para a economia, em especial às áreas de comércio e serviços. Com a paralisação das atividades, muita gente fechou as portas e só agora está se reorganizando e voltando devagar.

A pandemia parou a área de entretenimento, eventos, cultura e desarrumou a lógica do turismo. Afetou a economia informal e quem vive dela… A pandemia, no pico, arrebentou o caixa dos governos nas três esferas, porque houve forte queda de arrecadação e muito mais demanda para resolver. Se somar tudo isso, é um prejuízo incalculável, enorme! O principal deles, no entanto, é com a perda de milhares de vidas. Infelizmente é irreparável e eu lamento muito.

O Estado: Com tudo que afetou a economia de MS, o que esperar de projeção de crescimento para o próximo ano?

Governador Reinaldo Azambuja: Com um planejamento rigoroso e a colaboração de todos, Mato Grosso do Sul se saiu bem em 2020. Se não há o que celebrar quando perdemos tantas vidas, em contrapartida somos um dos estados menos impactados pelos efeitos da doença e um dos que mais cresceram no Brasil, mesmo com a pandemia. Isso é fruto de decisões equilibradas entre as restrições sanitárias e a manutenção de atividades seguras. Somos o Estado com maior investimento per capita do Brasil. O terceiro que mais cresceu, apesar da pandemia; o sexto mais competitivo; o sétimo gerador de empregos; e o sexto mais seguro. Tivemos capacidade de gerar investimentos. Estamos falando de obras nos 79 municípios. E vamos continuar.

O Estado: Em 2020, o governo realizou parcerias, como o início da PPP da Sanesul, da MSGÁS e a concessão dos parques. O que pretende fazer concedendo alguns parques, como o das Nações Indígenas, à iniciativa privada? Quais as contrapartidas?

Governador Reinaldo Azambuja: Temos inúmeros projetos nesta área em fase de estudos e depois consolidação. Os dois primeiros foram muito bem – a concessão da MS-306 e o saneamento básico –, resultado de um trabalho correto e de ótima qualidade. Vamos continuar trilhando este caminho. Como gestor, entendo que os governos precisam cuidar das políticas públicas essenciais, que estão sob sua guarda e responsabilidade, e conceder para a iniciativa privada o que for sua vocação. Precisamos cada vez mais prover boa saúde pública, educação de qualidade, segurança eficiente, regular e fiscalizar com rigor áreas sensíveis, induzir o processo de crescimento e conceder segmentos em que o estado não precise estar presente, assumindo gastos gigantescos. Nosso programa de concessões vai evoluir sempre de forma transparente, aberta ao debate e com responsabilidade.

O Estado: Tivemos um ano de perdas com as queimadas do Pantanal. O governo vai elaborar plano de ação para conter de forma mais rápida as queimadas em 2021?

Governador Reinaldo Azambuja: Este foi um ano extremamente atípico. Tivemos a maior estiagem dos últimos 50 anos no Pantanal. Grande parte do que era rio ou área inundável secou. E havia também uma grande massa de material combustível. Isso, somado às altas temperaturas, gerou incêndios de grandes proporções e prejuízos. O Estado trabalhou muito com os nossos parceiros e estamos agora revendo e ampliando ainda mais os investimentos para este ano de 2021. Organizamos um grande programa de aquisições e compras de insumos para o Corpo de Bombeiros e o Imasul, a fim de combater os incêndios florestais.

São recursos próprios de mais de R$ 56 milhões: mais de 35 caminhões, motobombas, mangueiras, assopradores, roçadeiras, drones que vão verificar regiões de difícil acesso, abafadores… Essa ação faz parte do projeto de conservação do Pantanal, por meio da otimização dos serviços de prevenção e combate a incêndios.

Também entreguei ao presidente Bolsonaro um plano de trabalho nesta área: a ideia é ter uma base conjunta na divisa de Mato Grosso do Sul com Mato Grosso, no Pantanal. Acho que, se o governo federal apoiar essas iniciativas, nós podemos ter uma grande frente dos dois estados, além do governo federal, nessa tarefa difícil. Mas não vamos esperar esta decisão.

O Estado: Municipalismo foi um dos carros-chefes de sua gestão. Qual balanço o senhor faz destes seis anos e como deverão ser os próximos dois restantes? O que ainda resta ser feito para que o senhor consiga atingir a meta de seus programas de governo?

Governador Reinaldo Azambuja: Já fizemos muita coisa nestes seis anos. Basta olhar cada município. E fizemos isso sem olhar coloração partidária, ideologia, aliados ou adversários. Pensamos sempre primeiro na população. E os prefeitos podem testemunhar esta postura do nosso governo. Também já fui prefeito e senti na pele a falta de apoio em momentos importantes, só porque não era do partido ou não era um aliado. Acabamos com isso. Governamos com todos e vai continuar sendo assim. Esta é a essência do meu compromisso municipalista. Como já disse, vamos continuar fazendo investimentos em todos os 79 municípios.

Na primeira fase do Governo Presente, discutimos com cada um deles e definimos prioridades, porque não dá para fazer tudo de uma vez só. Nos próximos dois anos, serão cerca de R$ 3 bilhões em obras estruturantes, em todas as nossas cidades. E é assim que funciona: nunca tudo está pronto, concluído. A cada ano que passa, a gente enfrenta desafios novos, mudanças, problemas diferentes, que às vezes não existiam. Isso é governar.

O Estado: Na questão política, vimos que o PSDB saiu fortalecido nessa eleição municipal, mesmo sem disputar majoritária na Capital. O que esperar para 2022? Já é trabalhado o secretário de Governo, Eduardo Riedel, para sucedê-lo. Conta com o apoio da maioria do partido?

Governador Reinaldo Azambuja: A eleição de 2022 está muito longe, ainda fora da agenda. Até lá, temos muito trabalho e coisas mais importantes para resolver: primeiro, superar esta pandemia – virar esta página o quanto antes; depois alavancar uma grande retomada para ser o estado que mais investe, mais cresce e gera oportunidades em todo o Brasil.

Temos uma pauta cheia de desafios. Estamos lançando diferentes frentes de obras em todo o Estado, logo no começo do ano. Inúmeras obras rodoviárias. Projetos grandiosos como a expansão da rede de escolas em tempo integral; a conclusão do processo de regionalização da saúde em todo o Estado; um investimento histórico, recorde, em saneamento básico; milhares de casas populares; um forte investimento na qualidade urbana das nossas cidades; novos modais de transporte e logística para potencializar nossa produção. Tem muita coisa boa para acontecer

O Estado: O senhor já definiu o que fará em 2022? Sairá candidato ao Senado, deputado ou vai descansar, por enquanto?

Governador Reinaldo Azambuja: Meu compromisso central é concluir este novo ciclo de desenvolvimento de Mato Grosso do Sul – elevar o Estado para um outro patamar. O futuro? O futuro a Deus pertence.

(Entrevista: Alberto Gonçalves)

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