Dr. Sandro Benites repercute o quanto a atuação clínica é fundamental para salvar vidas na pandemia
A voz de mais de duzentos médicos, que desejam para a população o acesso a um tratamento precoce durante uma pandemia. Esse tem sido um dos papéis de destaque, mais um aliás, na carreira do médico Sandro Benites, nome recente de destaque no Civitox (Centro Integrado de Vigilância Toxicológica). Também pré-candidato a vereador, como profissional da saúde, a visão dele, que também é militar, trata-se de algo claro: salvar vidas. Para isso fala sobre “medicina de prevenção”, mais levada a sério no sistema público, e sobretudo deixar para fora do debate de saúde a importância da eficácia de tratamentos. “Nunca vi na minha vida alguém se intoxicar por hidroxicloroquina”, destacou de forma direta o profissional ouvido pelo Jornal O Estado. Sandro, com uma linguagem certeira, direta, e preocupada com a conscientização das pessoas, responde sobre como funciona no organismo a hidroxicloroquina, e outros remédios, que passaram a ser “demonizados” após o apoio do presidente Jair Bolsonaro. Fora dessa polêmica, o médico explica a importância de se ver a análise clínica com mais ênfase do que os testes. De colocar em primeiro lugar, acima de tudo, o bem-estar das pessoas.
O Estado: Por que algo tão óbvio como uso da hidroxicloroquina dependeu de um movimento de médicos para ser levado em consideração pelo Poder Público e ser usado em Campo Grande?
Dr. Sandro: Eu acredito que alguns trabalhos científicos demonizaram essa medicação, porque usaram doses tóxicas e letais da hidroxicloroquina, causando a morte de pacientes. Então isso fez com que a aplicação dessa medicação fosse menos usada, o que não quer dizer que ela não seja segura, sendo usada na dose correta. Com certeza, esse mito em relação a essa substância tem a ver também com a polarização política do país. Principalmente pelo fato de o presidente ter falado em prol da hidroxicloroquina. E essa questão política fez com que, em vez de se estar salvando vidas, você tenha de discutir se vale ou não ser usada. Uma pena! No meu consultório prescrevo, como também usaria, e também indicaria a minha família. Entretanto, grande parte dos médicos não está acostumada a prescrever a hidroxicloroquina, ainda mais depois dessa divisão, por conta da politização do assunto.
O Estado: Mesmo com mais de 250 assinaturas, o Conselho de Farmácia e a Sociedade Brasileira de Infectologia são contrários. O secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, também é? Por quê?
Dr. Sandro: O conselho autorizou, a Secretaria de Saúde do Estado também. Então deve ser usado na rede pública. Uma coisa é o posicionamento pessoal do secretário quanto ao uso, outra é o protocolo, e a autorização. O médico tem autonomia e ponto. Isso é o principal, e soberano a qualquer discussão sobre se a instituição A ou B é contra, bem como à ideia a respeito deste assunto por qualquer pessoa. O próprio Hospital Regional, que pertence ao Estado, não adota como obrigatório o protocolo. Lá, 50% dos médicos são contra, outros 50% são a favor. Se você, como paciente, quiser receber a medicação, você pode trocar de médico. Essa liberdade existe e é uma coisa muito boa. A unanimidade é burra!
O Estado: Explique a eficácia da hidroxicloroquina e da ivermectina?
Dr. Sandro: O mecanismo de ação, por exemplo, da hidroxicloroquina é imunomodulador: ela organiza o seu sistema imunológico. Portanto, ajuda, de alguma forma, a evitar a replicação viral dentro da célula. O vírus, citando o processo de infecção, tem de entrar dentro do citoplasma, dentro do núcleo, para se reproduzir. A ivermectina também ajuda no controle da doença, como a nitazoxanida, a Anita, cada um agindo em um sítio de ação. Quando se associam essas ações, o resultado esperado é de se inibir a replicação viral. Combinar a hidroxicloroquina e a ivermectina, com doses certas, é que um potencialize o outro. É um protocolo que ajudou muito a dra. Marina Bucar, no seu trabalho como médica na Espanha, salvando muitas vidas nesta pandemia. Não uma mas milhares de pessoas. Sabemos também do dr. Vladimir Zelenco, que nos Estados Unidos promoveu algo semelhante, então tenho de acreditar nesses colegas que querem ajudar, salvar vidas. Em Porto Feliz se usou, em Belém se usou, e deu muito certo. Por que não no resto do país?
O Estado: Há muitos médicos usando as medicações para promoção política?
Dr. Sandro: Sinceramente isso é tão pequeno de se debater. Vamos supor que algum profissional esteja usando a ideia de uso de um remédio para se promover, basta a população, ao perceber isso, não aprovar. Se não concorda, basta não votar na pessoa. Teremos mais de dez candidatos a prefeito, mais de 800 candidatos a vereador, provavelmente, pelo que se sinaliza hoje, pessoas com opiniões diferentes, sobre muitas coisas. Cabe a cada um analisar. Politizar uma discussão de uso não é mais importante do que salvar vidas. Do que eu posso falar, quanto aos médicos que recomendam, é que a preocupação é de se preservar vidas, e auxiliar decisivamente no tratamento. Todos os nossos pacientes que tiveram acesso adequado ao medicamento, no uso precoce, obtiveram sucesso. Por que a população em geral não pode ter?
O Estado: O uso da medicação tornou-se toda esta polêmica por causa do presidente Bolsonaro?
Dr. Sandro: Talvez. Por ele ter se posicionado em favor da hidroxicloroquina. O presidente é militar, como eu também sou, e nas Forças Armadas, quando o oficial e sua família são enviados para uma região, como a da Amazônia, por exemplo, lhes é dado um kit desse medicamento, justamente para que a ação dele contribua com o sistema imunológico dessas pessoas. Em todo caso, a eficácia acabou tendo de dividir espaço no debate com o viés político. Certamente, se ele elogiou, influenciou muitos a pensarem a favor, e muitos passaram a descartar o remédio só por não gostarem dele, o que acho errado. O presidente Bolsonaro é alguém que se posiciona e teve a intenção de ajudar, de salvar vidas. Quem sabe se partisse do ministro da Saúde, a fala teria um efeito melhor de recomendação, mas quem ocupava o carga tinha outro pensamento. Garanto que os médicos que tiverem como foco apenas o bem-estar dos pacientes, em uma análise de caso, apolítica, certamente devem optar, porque é um recurso que ajuda muito nos tratamentos.
O Estado: O senhor é considerado um dos melhores toxicologistas do Estado, com uma atuação bem reconhecida no Civitox. Qual a sua visão a respeito do sistema público de MS, que vem sendo muito testado nesta pandemia?
Dr. Sandro: Ninguém no mundo estava preparado para a pandemia, neste momento, então os governos tiveram de ser rápidos e se organizar para enfrentar este problema, que exige ações rápidas e efetivas. Em Mato Grosso do Sul, cito como referência, porque estava lá, a preparação do Hospital Regional, que no começo imaginei até ser um excesso de precaução. Mas não foi, e hoje estamos vendo que a demanda tem crescido, o número de mortes também, as tendas estão sendo usadas, então, cabe a todos se cuidarem e fazer o possível para que a velocidade de contaminação não cresça. O nosso sistema de saúde pública neste momento está sendo, sim, muito testado. As UTIs sempre estiveram lotadas, porém é diferente a pressão do atendimento por ser uma pandemia. Cabe a reflexão dos governantes para que no Brasil a gente possa enfim praticar mais a “medicina de prevenção”, atuar mais pela preservação da saúde das pessoas, antes de uma doença existir. Os médicos sempre alertaram para isso. Quem sabe agora seja a hora de sermos ouvidos. Mais simples, mais eficaz e mais barata é a “medicina preventiva”.
O Estado: Campo Grande passou a ser o epicentro. Como vê este quadro? E que recomendação daria à população?
Dr. Sandro: É, provavelmente, a fase mais delicada da pandemia em Mato Grosso do Sul, o que exige a cooperação e a consciência de todos. Falo que a população tem de saber e entender que ela tem direito ao acesso a essas medicações, como a hidroxicloroquina e ivermectina, e exigir que possam contrapor a doença com um tratamento eficaz. Se o médico for contrário, procure outro. O tratamento precoce sempre será o mais eficiente. Sempre! Em uma pandemia, se você sentir algum sintoma, não deve esperar o resultado do exame. Aguardar o positivo para iniciar o tratamento é um erro grave que muitos estão cometendo no Brasil. Se você demorar para buscar socorro, e já com falta de ar, for atrás do posto de saúde, pode ter certeza de que grande parte da sua capacidade respiratória pode estar comprometida, e que o novo coronavírus, esteja, talvez, bem alastrado, o que complica o quadro clínico. Nos primeiros sintomas, cansaço, indisposição, tosse, busque o médico logo.
O Estado: A testagem é eficaz?
Dr. Sandro: É um recurso para identificar a doença. Porém, em todo teste existem os falsos positivos e os falsos negativos. Portanto, eu chego à seguinte conclusão. Particularmente, como médico, nem vou muito pelo teste, e sim pelo quadro clínico do paciente. A verdade é que muitas vezes a diferença entre a vida e a morte é a presença do médico ao lado de quem precisa de atendimento. O acompanhamento do profissional tem suma importância.
O Estado: Recomendaria mais um teste por mês?
Dr. Sandro: Eu não vejo por quê, a não ser que a pessoa tenha sintomas. Se todo mundo for fazer teste toda hora, vai faltar teste. A avaliação clínica é soberana, mais que qualquer teste.
O Estado: O fato de ser médico facilita a pré-candidatura em ano eleitoral com pandemia?
Dr. Sandro: Só ser médico, possivelmente não, mas sendo um médico que se posiciona, e, se as pessoas entenderem que ele tem acertado naquilo que defende, acredito que faça uma diferença. Agora, para os que não se posicionam, não influencia a profissão no peso da pré-candidatura. Tenho recebido convites, sondagens, o que é resultado do meu trabalho na Medicina, nos locais em que já contribuí.
(Texto: Bruno Arce e Danilo Galvão)