Empreendedorismo feminino é fonte de renda e inspiração para mães que passam legado as filhas

Economia - Dia das Mães

Em MS, mães representam 75% do total de mulheres que empreendem, apontam dados do Sebrae MS

Em Mato Grosso do Sul, o número de mulheres MEIs (Microempreendedora Individual) já alcança a marca de 45% do total do Estado, com 97.538 mil devidamente formalizadas na profissão de empreender, conforme dados levantados pela Receita Federal. Um perfil traçado em 2021 pelo Sebrae MS, a fim de entender como é essa mulher que busca seu espaço em meio aos negócios, revelou que pelo menos 75% das empreendedoras eram mães, o que coloca em questão, o motivo que faz essas mulheres empreenderem cada vez mais no Estado.

A maioria das empresárias do Estado, conforme o perfil traçado na pesquisa “Perfil das Mulheres Empreendedoras Sul-mato-grossenses em 2021”, são do ramo de negócios considerados “nascentes”. A pesquisa apurou informações de 13 municípios de MS e entrevistou 206 mulheres participantes do programa Sebrae Delas.

Conforme apurado, mais de 74% das mulheres empreendedoras tinham de 30 a 49 anos de idade. Dentro deste número, 13,59% possuíam idades entre 20 e 29 anos, enquanto 10,19% tinham de 50 a 59 anos e 1,93% possuíam mais de 60 anos de idade. Destas, cerca de 75% das mulheres possuíam filhos e 25% não possuíam, sendo 21,91% um filho, 45,94% dois filhos, 22,26% três filhos e 9,89% quatro filhos. Entre os segmentos, o que se sobressaiu foi o comércio, com 50,31%, enquanto serviços ficou com o 2º lugar, representando 39,75%, a indústria, com 8,70% e em último, o agronegócio, com o 4º lugar, representando 1,24%.

Nacionalmente, um levantamento do Sebrae apontou que as empreendedoras atuam majoritariamente no setor de serviços e representam 34,4% do universo total de proprietários de empreendimentos no país. Ainda segundo o GEM 2020 (Global Entrepreneurship Monitor – principal pesquisa sobre empreendedorismo no mundo), as brasileiras englobam 46% dos empreendedores iniciais no território nacional, das quais 40% pensam em abrir de uma a cinco vagas de emprego.

Empreender e ser mãe – Desafios e conquistas na prática

A empresária no ramo de confeitaria, Marisa Aparecida Domingos, dona da Maçã Comidas Caseiras, que atua com vendas de doces de festa, sobremesas e comidas típicas do Paraná, explica que sempre teve o impulso de trabalhar por conta própria. Mas, em 2002 tudo mudou. A partir de um curso feito no Senac-MS, ela pegou gosto por trabalhar com alimentos e produzir delícias na cozinha. A princípio, o trabalho começou formal, sendo funcionária por 12 anos da família Tebet. No entanto, com a chegada da pandemia, Domingos parou de trabalhar na casa da família e viu a necessidade de ter uma renda bater à porta.

“Quando me separei, eu fui trabalhar fora, e aí em 2019 eu parei de trabalhar com a família Tebet e foi onde a Ana quis que eu voltasse a trabalhar em casa, com confeitaria de novo. A gente começou a trabalhar juntas, eu já tinha uma boa experiência, mas [empreender] foi da pandemia para cá e por isso voltei a trabalhar em casa”.

A empreendedora argumenta que no início foi difícil, principalmente para conquistar clientes. Mas, ao demonstrar pouco a pouco a qualidade de seu trabalho aos consumidores, Domingos afirma que conseguiu driblar as dificuldades. “No forte da pandemia as pessoas tinham medo de comprar os produtos, mas eu superei com o bom trabalho que faço e isso auxilia diariamente a conquistar os clientes”, destaca a confeiteira.

A filha de Domingos, a também empresária, arquiteta e urbanista Analice Domingos Zancanaro, relembra que o empreendimento começou em 2020 devido às necessidades. Em decorrência dos problemas de saúde, a mãe foi dispensada do serviço e, para suprir a renda fixa que não havia mais, Zancanaro passou a incentivar a mãe a empreender e se tornar a própria chefe.

“Desde então estamos nesse processo. Ela é minha fonte de inspiração de como ser uma mulher, como ser responsável e cumprir com minhas obrigações. Ela é multitarefa e não tem o pensamento de que mulher não pode, tudo é possível para ela”, diz a filha orgulhosa.

Formada em arquitetura e urbanismo, Zancanaro segue ajudando nas mídias sociais da mãe, mas optou por um caminho diferente do que foi trilhado na pandemia. “Eu tenho regularizado imóveis e projetado móveis planejados. Como hobby edito vídeos e produzo campanhas de moda praia. Hoje eu sou arquiteta por conta dela, ela ajudava meu pai desenhando projetos a mão e ele construía. Isso me incentivou desde criança, agora eu sinto que tenho uma profissão para a vida”, destacou sobre o incentivo da mãe.

A sócia-proprietária da Ybá Cosméticos, Beatriz Mattos Castello Branco, 26, também viu em sua mãe inspiração para empreender. Filha da médica ginecologista Ana Mattos, a empresária viu a partir da profissão da mãe nascerem possibilidades de empreender. “A ideia da empresa nasceu por causa do dia a dia do consultório da minha mãe. Atendendo as pacientes, muitas vinham e relataram o chá de uma casca para fazer banho de assento, para tratamento de corrimento, para tratamento de candidíase de repetição, infecção urinária e às vezes até no pós-parto, lavavam as cicatrizes e cortes para ajudar na cicatrização. Essa casca era de uma árvore nativa aqui do nosso Cerrado, é o barbatimão”, revelou Branco.

A partir da experiência das pacientes começaram os esforços em prol de criar um produto que pudesse ajudar as mulheres com as questões de saúde ginecológica e, por isso, surgiu a marca chamada Ybá, que tem como compromisso uma produção ecologicamente equilibrada, que extrai em parceria com cooperativas locais de Mato Grosso do Sul, ingredientes naturais e modernos, que inclusive, não testa em animais.

Segundo Branco, o primeiro passo foi pesquisar e estudar sobre a veracidade da eficácia do produto.

“A partir daí, dentro de casa mesmo, com a minha ajuda, a minha mãe começou a tentar desenvolver uma maneira de extrair o princípio ativo dessa casca e colocar ele dentro de uma formulação cosmética. Nós fizemos muitos estudos e pesquisas no fundo de casa mesmo, em panelas. Produzimos sabonetes testes, que eram entregues no consultório para as pacientes testarem. Todas que receberam voltaram com uma devolutiva muito boa e com isso, resolvemos transformar em um negócio”, explicou a empresária.

Conforme a médica ginecologista, Ana Helena Mattos, desde o início o projeto tem sido uma paixão, que recebeu muita observação clínica e todo o cuidado para com as mulheres. “As pacientes vinham ao consultório e falavam que usavam o barbatimão, isso me chamou muita atenção. O meu objetivo foi unir esse conhecimento tradicional do uso do barbatimão com uma experiência médica, da evidência científica de que realmente isso é bom, principalmente para a saúde feminina”, explicou a reportagem.

Ainda conforme Mattos, a inovação e empreendimento só foi possível com o auxílio da incubadora da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), que auxiliou em questões tecnológicas, da biotecnologia e da inovação, além, claro, do empreendedorismo. “Por que sair da minha zona de conforto? Isso tudo é o que nos move, é a paixão que nos move, a paixão pelo novo, pelo empreender, a paixão por poder ajudar outras pessoas, impactar na vida de outras mulheres, a paixão pelo cerrado, que é a minha casa, que é o lugar que me acolheu e que tem uma flora belíssima e riquíssima e pouco explorada e para fazer com que essa exploração aconteça de forma sustentável”, pontuou a médica ginecologista.

Para Beatriz, estar junto a mãe no empreendimento significa mais que um retorno financeiro, é também uma realização, ao encontrar um lugar onde possa aplicar toda sua aptidão e conhecimento.

“Quando criança eu vivia viajando com ela para apresentar trabalhos científicos em congressos internacionais e isso sempre me inspirou a buscar esse tipo de realização profissional. Nunca me dei bem na área da medicina, então quando ela começou a pensar em desenvolver uma linha de cosméticos, eu amei a ideia porque já era minha área de interesse e desde aí eu moldei todo meu planejamento para ser tecnicamente capacitada para estar junto com ela na empresa”, explicou a jovem empresária.

Por Julisandy Ferreira

 

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