Dois meses sem a Gleicy: covid-19 interrompeu sonhos e deixou uma imensa saudade

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Me permiti começar esse texto em primeira pessoa, pois sabia que assim conseguiria detalhar quem era essa mulher. De presença marcante, Gleicy Anne Simões impactava onde quer que chegasse, com toda certeza era a amiga para todas as horas, mas, aos 31 anos a covid-19 resolveu leva-la, interrompendo sonhos e deixando um vazio enorme.

Para falar sobre ela, ninguém melhor do que a mãe, melhor amiga de Gleicy, dona Ivanir Simões ainda sente muito a falta da filha. Gleicy falecedu no dia 27 de março no Hospital Regional por complicações do coronavírus. Foram cinco dias para que o vírus destruísse a vida de uma família inteira.

Por telefone, eu falei com a mãe e com a voz idêntica a da filha, dona Ivanir detalhou como a Gleicy Anne era uma mulher cheia de vida que se dedicava a casa, e falou sobre a dor de perder um dos pilares da família. O avô, com quem ela tinha muito apego também não conseguiu superar a perda da neta. “Tem dias que ele come, tem dia que não, assim estou eu também, um dia estou bem, o outro eu choro o dia inteiro” contou.

Gleicy no começo do ano decidiu fazer uma mudança em sua vida, recentemente havia se mudado para Amambai, cidade do interior onde queria recomeçar. Lá ela fez algumas entrevistas de emprego e aguardava uma oportunidade. Hospedada na casa de um primo, ela vinha para a casa da mãe em Campo Grande sempre que podia, e na última visita adoeceu.

“O irmão dela o Daniel tinha pego covid-19 mas quando ela veio para cá, ele já não estava mais transmitindo o vírus. Poucos dias depois ela adoeceu e levamos no médico e disseram ser dengue e em seguida pegou covid”, contou a mãe.

“Os médicos informaram que ela não se contaminou pelo irmão, mas possivelmente nas idas ao médico para cuidados da dengue. Antes de internar, ela não conseguia mais respirar direito, e não conseguia dirigir”, lembrou dona Ivanir.

A mãe não pode se despedir da Gleicy, e em cinco dias a covid levou ela embora. A dona de casa contou que só descobriram a gravidade do caso da filha, graças aos patrões de Daniel.

O irmão voltou a trabalhar e o patrão perguntou a ele dos familiares, foi quando ele contou que a irmã não estava bem, explicando a situação. A mulher do patrão falou Daniel pegar a Gleicy e levar para fazer uma tomografia. “Eles pagaram para ela fazer o exame e pediram as imagens para mandar a um médico particular. No caminho de volta para casa, recebemos uma ligação dizendo que a Gleicy precisava ser internada imediatamente pois o pulmão estava 50% comprometido, ali ela segurou na minha mão e começou a chorar. Expliquei que era preciso ela internar e que eu não poderia estar do lado dela. Levamos ela para UPA do Leblon e ali foi a última vez que eu vi minha filha”, detalhou dona Ivanir.

Dali o irmão acompanhou e Gleicy internou na UPA e foi para o oxigênio e na terça ela já intubou e com novos exames viram que o pulmão estava 80% comprometido. “Desde o primeiro dia eles não me deram esperança e diziam que o caso era muito grave e só precisava de um milagre”.

A família conseguiu uma vaga no Hospital Regional, pois a sedação que ela recebia na UPA não era suficiente e ela brigava com o tubo, disse a mãe.

No hospital Gleicy havia sido colocada de bruços para não comprimir o pulmão, mas no dia da morte, eles optaram em virar ela de volta, foi quando ela teve uma parada de 10 minutos. “A família foi chamada e fomos avisados, disseram que estavam tentando estabilizar, mas que o tempo que ela permaneceu sem oxigênio poderia deixar sequelas, e eu sei que minha filha cheia de vida como era não aceitaria viver assim”, falou Ivanir.

Na mesmo noite Gleicy não resistiu e morreu por volta das 22h. A dor deixou amigos, parentes e conhecidos entristecidos, pois não estava sendo fácil aceitar uma perda de uma pessoa de presença tão marcante.

Dona Ivanir viu os sonhos da filha ser enterrados com ela, mas afirmou buscar todos os dias entender as vontades de Deus.

“Pouco antes de morrer, Gleicy pensou em ser mãe solo, para realizar seu sonho. Ela pediu apoio dentro de casa, recebeu o apoio do avô e do irmão que se dispuseram a registrar a criança, mas um conselho do irmão a fez repensar”, contou a mãe.

“Daniel falou para ela que um pai tem que saber que tem um filho, e toda criança precisa saber a raíz de onde veio, isso fez ela refletir. Ela então me disse, mãe acho que Deus não quer que eu tenha um filho não, se não ele já teria me dado. Estou com 31 anos, vamos deixar rolar”, lembrou a mãe, afirmando que isso foram propósitos já escritos por Deus, para não deixar uma criança sozinha.

Ivanir acredita que mudar de cidade também fazia parte dos planos de Deus, que estava preparando todos para a partida da filha. “Hoje eu entendo que tudo aconteceu do jeito que tinha acontecer, sair de casa nos preparou para uma vida sem ela”.

Emocionada, a mãe falou ainda o quanto é difícil quando chega o horário da filha chegar e ela não entra em casa. “Tem dias que eu entendo, tem dias que eu não aguento levantar, mas entrego e confio em Deus e agradeço os 31 anos dela na minha vida, foi a coisa mais maravilhosa desde o dia do nascimento até o último dia de vida, foi a luz da minha vida, ela deixou um pedacinho dela em todos que a conheceram, agradeço o privilégio de ter sido mãe dela aqui nessa terra. Agora é me preparar para a volta de Jesus e um dia eu poder reencontrar minha filha”, finalizou a mãe.

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