Piadas e comentários desnecessários, atualmente mudam rapidamente de categoria se quem os ouviu ou os recebeu não se sentir confortável com o assunto. Geralmente trata-se de preconceito ou discriminação racial. Os desdobramentos das situações consideradas por tantas pessoas sem o conhecimento necessário ou a vivência na pele como “brincadeira” ou o clichê da “geração nutella” podem afetar o psicológico de quem é o alvo.
A psicóloga Júlia Arruda F. Palmiere tem mestrado em psicologia com ênfase em saúde e é integrante do Coletivo Nós Terapia. Ela destaca que a discriminação racial é um fator para o sofrimento psíquico. “Nosso compromisso ético-político, enquanto pessoas brancas, é ser capaz de ouvir, acolher e respeitar as demandas que a população negra tem colocado. Atualmente existem muitos veículos de informação abordando questões raciais. A disseminação de informações ajuda a nos prepararmos eticamente para a vida coletiva”, considera.
Júlia avalia que colocar as pessoas negras no papel daquele que precisa estar o tempo todo educando, ensinando e corrigindo pode ser exaustivo para esse grupo. “Se nós, brancos, nos colocamos na posição de quem precisa ser ensinado e não buscamos conhecimento, ficamos em uma posição passiva diante do racismo na atualidade”. Para ela é importante que as pessoas não-negras construam uma postura ativa, uma postura antirracista.
“Isso implica buscar conhecimento, buscar ouvir, ler e consumir arte, entretenimento e literatura de pessoas negras, ou seja, entendermos nossa corresponsabilidade face ao racismo. É responsabilidade nossa, uma vez que estamos em uma vida coletiva. Assumir essa responsabilidade contribui para a promoção da saúde psíquica dessa população historicamente subalternizada”, analisa.
Se a busca pela evolução e o respeito não forem pautas diárias, a problematização do racismo vai piorar. “A discriminação no cotidiano, de forma micropolítica em pequenos gestos, comentários e piadas recaem sobre a saúde psíquica, produzindo sofrimento e formas de mal-estar específicas na população negra. Por isso é fundamental que as pessoas não negras se responsabilizem pelos seus comentários, ações e formas de pensar. O cuidado com a saúde mental é coletivo”, finaliza.