Estudo da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) divulgado nesta 4ª feira (16.set.2020) afirma que não há comprovação de que o uso de transporte público tenha aumentado o número de casos de covid-19, doença respiratória causada pelo novo coronavírus. O levantamento foi realizado em 171 municípios brasileiros.
Segundo a entidade, o risco seria semelhante ao de outros locais públicos com reunião de pessoas, como supermercados, restaurantes, clínicas e escolas, segundo a entidade.
Para chegar a essas conclusões, a associação cruzou a demanda por transporte com os dados oficiais do Ministério da Saúde de casos de covid-19, confirmados 7 dias depois da viagem. A análise durou 17 semanas, entre 9 de março e 25 de julho. Os períodos foram contabilizados por semana epidemiológica, a fim de estabelecer 1 padrão em relação na análise.
Contudo, especialistas criticam a análise. “Do jeito que [o transporte público] está hoje, facilita o contágio e a transmissão para outras áreas”, afirma o epidemiologista Walter Ramalho.
“Esse artigo é muito frágil, porque não apresenta corretamente não estou vendo a quantidade de pessoas transportadas e de pessoas diagnosticadas”, diz. Além disso, critica o fato de o estudo não ter sido publicado numa revista científica de renome, com revisão independente de outros pesquisadores.
“A ideia seria aprofundar a metodologia. Isso é muito importante. Nós tivemos uma situação em Santa Catarina. Lá, quando começou a ter casos, o governador disse que não iria decretar lockdown. Mas os transportes públicos estão parados. Nós temos uma situação de que, com o transporte parado, as pessoas não conseguiram se descolar e tivemos casos pequenos. Quando o transporte voltou, tivemos um grande aumentos de casos”, explica. “Mas isso é uma situação observacional, precisa observar no tempo pra ver se existe uma relação”, completa.
A nota técnica desconsidera a subnotificação de diagnósticos, o atraso no resultado de testes e a baixa testagem no país. Estudo do Nois (Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde) indicou que a quantidade de infectados no país pode ser até 12 vezes maior que a divulgada oficialmente pela pasta.
“Já foi comprovado que o coronavírus infecta por gotículas de saliva e pela respiração. Uma pessoa contaminada guarda o vírus no sistema respiratória e expira partículas dele. Por outro lado, temos também todos os locais onde uma pessoa toca [no ônibus] e outro passageiro pode se contaminar. Países que tiveram mais sucesso no combate à covid-19 trabalharam muito na descontaminação do transporte público”, argumenta, citando que o coronavírus pode viver por alguns dias em algumas superfícies.
Ramalho cita o Distrito Federal como exemplo. “Aqui não estamos vivenciando uma diminuição tão significativa dos casos pela manutenção dos casos e esgotamento de suscetíveis. isto é, pessoas que usam ônibus e já estão imunizadas [por terem se infectado antes]“, continua o professor da UnB (Universidade de Brasília). Uma sugestão do pesquisador é comparar a quantidade de casos da doença dentro da parcela da população que usa ônibus.
Os 171 municípios da pesquisa integram 15 sistemas de transporte, responsáveis por 325 milhões de viagens de passageiros por mês e 13 milhões por dia. Esse número equivale a 32,5% das viagens nos 2.901 municípios com sistema de ônibus do Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“As pessoas precisam ser transportadas, mas precisamos de menos densidade dentro do ônibus”, afirma. As sugestões incluem o uso de máscara, as janelas abertas e o distanciamento social, com menos passageiros por veículo e todos sentados. Para minimizar os riscos de contágio no transporte pública, a NTU reforça tais medidas de redução de contágio. Assim, a entidade afirma que os riscos de contágio seriam baixos.
A pesquisa destaca que outras medidas podem ser mais eficazes para barrar o contágio por covid-19 do que a redução no transporte público. São elas: lockdown, plano de retomada de atividades, gerenciamento de viagens do transporte público, escalonamento de atividades, distanciamento social e promoção de medidas de higienização, além de campanhas informativas e de conscientização.
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(Texto: Poder 360)