Mobilização ocorre após o desfecho do julgamento que absolveu o empresário André de Camargo Aranha, acusado de estuprar a influenciadora
Com os gritos de ordem “A justiça não é cega, ela é paga pra não ver” e “Excelentíssimo peço respeito nem os acusados são tratados desse jeito”, pelo menos 30 pessoas participaram, na tarde desta sexta-feira (06), do ato “Justiça por Mariana Ferrer”. A mobilização ocorreu em frente ao prédio da Procuradoria da República em Mato Grosso do Sul, em Campo Grande.
Organizado pelos coletivos Juntas Crescemos, Elas Podem e o site Papo de Vênus, o ato ocorre em apoio a influenciadora digital de Santa Catarina, Mariana Ferrer vítima de violência sexual.
O caso da influenciadora teve grande repercussão nas redes sociais nesta semana após o site The Intercept Brasil divulgar trechos da audiência que absolveu o empresário André de Camargo Aranha, acusado de estuprar Mariana Ferrer em 2018. Nos vídeos, o advogado de André, Cláudio Gastão, exibe fotos da jovem de 23 anos e comenta sobre “as posições ginecológicas”, além de acusar ela de promover um “showzinho”.
Segurando cartazes com os dizeres “235 mulheres são estupradas por dia no Brasil”, “A culpa não era minha, nem onde estava e nem o que vestia” e “Nós por nós, a justiça está do lado deles”, o grupo reivindica pelo fim da culpabilização da vítima dentro da cultura do estupro e a revisão do machismo estrutural.
Rebeca Casal, publicitária e participante do coletivo Juntas Crescemos comenta que o desfecho do caso da Mariana Ferrer é “inaceitável”. “Ficou todo mundo revoltado com a situação e foi um abusrdo em uma audiencia de estupro a vítima estar sozinha entre um monte de homens que não estavam preparados para lidar com aquela situação pela perspectiva de gênero que acabou culminando na revitimização, no abuso moral e psicológico. Não pode mais acontecer isso, nós estamos em 2020 é uma situação inaceitável”, afirma.
A jornalista, Camila Vilar, fundadora do coletivo Juntas Crescemos, relata que o caso da influenciadora impactou de forma pessoal as participantes do grupo. “No Juntas nós fizemos no ano passado muitas rodas de conversas e muitas mulheres relataram casos de abusos, estupros. Eu já passei por situações assim, então é muito pessoal não tem como a gente ficar calada porque muitas meninas passaram por essa situação”, enfatiza
Reivindicações
Os coletivos e o site Papo de Vênus redigiram uma nota de repúdio que será encaminhada na próxima semana para a Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul (OAB/MS), a Defensoria Pública e Ministério Estadual.
No documento, constam as cinco reivindicações elaboradas pelos grupos, sendo elas:
1- Criar mecanismos legais de fácil acesso que garantam a proteção da dignidade de vítimas de crimes sexuais ao denunciarem seus abusadores, assim como meios de denunciar a instituição e seus representantes, caso sofra algum tipo de violência no decorrer do processo.
2- Prever nova análise do caso ou anulação da sentença quando comprovado que juízes e demais atores envolvidos no processo praticaram violência de gênero e/ou revitimizaram mulheres e meninas durante o curso da ação ou que se omitiram à tal prática.
3- Respeito à vítima acima de tudo. Indiferente do resultado da sentença, em nenhum momento o réu e seu advogado de defesa podem ferir a honra da vítima e expô-la a situação vexatória. Não cabe a nenhum agente público fazer julgamento de valor de vítimas de crimes sexuais com base em suas vestimentas ou imagens que publicam nas redes sociais, sendo passível de punição caso o faça.
4- Necessidade de capacitação dos agentes do judiciário para atuar com perspectiva de gênero, a fim de evitar atos discriminatórios, misóginos, sexistas, racistas e violadores dos direitos de qualquer das partes.
5- Por um judiciário onde mulheres ocupem mais espaços, principalmente na condução de casos que envolvam violência de gênero.
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