Tudo começou com uma mão do destino ou o dedo de Deus. Mas, para quem em nada disso acredita foi a necessidade de acabar com a bateria de um drone que virou poesia na via mais famosa de Campo Grande, a Rua 14 de Julho. Era simplesmente o cineasta, ator e multitalento, Filipi Silveira, acelerando seus passos do caminho reformado em paralelepípedos para a Avenida Afonso Pena. Os versos são de Manoel de Barros do “Retrato do Artista Quando Coisa” e nesta arte se conversando surgiram prêmios no caminho que estão só aumentando. Aliás, o curta é emocionante. A poesia sai da palavra da rima para a cena e o impacto sonoro visual. VEJA NO FIM DA REPORTAGEM.
Filipi criou a Cerrados Filmes e coleciona merecidas premiações, mas nada desta maneira tinha acontecido ainda. “Foi muito engraçado.Tinha gravado cenas do curta à tarde e aí o menino da equipe estava com o drone e avisou que precisava gastar a bateria porque não poderia voltar sem gastar ou a bateria estufa. . Ele perguntou se teria problema de eu sair e andar com eles. Fui. Já tinha acabado tudo e não estava fazendo nada. Sai andando lá na Rua 14 de Julho. Ele estava captando os cenários para ter banco de imagens. A 14 estava vazia e pedi para me gravar correndo e tentando pular a Afonso Pena no Relógio, mas não deu.. Era brincar com o correr atrás do tempo”, explica Filipi.
Pessoas da prefeitura viram e ficaram encantadas achando que estaria no curta. “Todo mundo ficou falando daquela cena. Ela não entraria no filme. Fui assistir documentários e em um deles aparecia uma poesia de Manoel de Barros: O tempo amarrado no poste. Eu fiquei pensando e fui lendo. Podia ser aquela corrida maluca na 14. Foi assim que entrou. A ideia era interpretar um poema só do Manoel, mas peguei esta cena e ela ficou como abertura.
Larissa Neves também dirigiu o micro curta. Entre os festivais que já concorreu a premiação está o o Festival Digital Curta Campos do Jordão e Rec Festival. Acesso os links clicando aqui, aqui e aqui .
Tempos Gloriosos
Entre as muitas novidades está“Ano que vem tem mais” sobre a história do Carnaval de Campo Grande que fez junto com a diretora Marineti Pinheiro. Era só pra ser um curta institucional e acabou chegando a 33 minutos. Houve um corte de três minutos. Ele foi selecionado para o FCMC (Festival de Cinema e Memórias Cerratenses). “Ele está muito legal. É uma viagem no tempo para os tempos gloriosos do Carnaval de Campo Grande. Já tínhamos feito uma exibição teste de um corte, não era oficial em 2020. Quem assistiu se emocionou, principalmente as pessoas das Escolas de Sambas. Mas o filme dá um geral passando também nos clubes, como o carnaval foi nascendo, passa pelas ruas, os bloquinhos, seus idealizadores, promotores. É um filme que todo jornalista tem que assistir. Não é um filme definitivo do carnaval até porque cada escola dá um filme, cada clube dá um filme. Mas, é bacana assistir no futuro onde ele será fonte como patrimônio imaterial”, prevê Filipi.
Voltando a poesia, “Retrato do Artista Quando Coisa” está entre os 15 do Rec Festival. “O poema do Manoel de Barros já é uma viagem. Interpretar ele é outra viagem, por isso, estamos concorrendo com escrita criativa. Fazer um filme se baseando em poesia é muito complicado porque é muito subjetiva. Só que eu peguei este poema do Manoel e trouxe para o meu mundo. Achei ele muito legal porque ele fala do retrato, ele fala da incompletude, ele fala que quer ser muitos outros . Aí eu brinquei: qual a profissão que você é vários? É o ator! Então eu acabei trazendo esse poema para o meu universo”, revela.