Com a aproximação do Dia das Crianças, é inevitável não lembrar daqueles que estão internados nos hospitais da Capital… Mas você sabia que existem projetos que visam transformar a estada em um período de boas lembranças? Pois é, a equipe do caderno “Viver Bem” conversou nesta semana com familiares de crianças internadas no Hospital Universitário de Campo Grande e com profissionais do Hospital da Cassems, que fazem parte do projeto “Plantão da Alegria”, somando forças para levar alegria, amor e descontração não só para os pequenos, mas também para seus familiares.
Após 23 dias de internação, a pequena Ana Clara, 2, está acompanhada pela mãe Janaína Souza, 20, no HU. A pequena, que se recupera na ala de pediatria infantil, mesmo não podendo acessar a brinquedoteca da unidade, ganhou diversas bonecas da equipe e, para a mãe, o sonho é o de passar o Dia das Crianças em Miranda, onde moram, rodeada pela família.
“Estamos aqui há 23 dias, tudo o que eu queria era passar o dia na minha casa, poder dar um brinquedo que ela goste e passar a data longe do hospital. Enquanto isso não chega, a gente fica aqui brincando com as bonecas”, conta Janaína com um sorriso tímido.
No outro lado do quarto estava Vinícius, 6, acompanhado pela mãe, Vânia Maria, 30, que conta que, com seis dias no hospital, ele não vê a hora de poder ir para casa, ainda mais com a aproximação de seu aniversário.
“Queremos muito ir para casa, ele já não aguenta mais hospital, e quer brincar com seus brinquedos, principalmente, porque está chegando o aniversário, mas a gente espera que ele saia em breve, se Deus quiser”, comenta a mãe.
Em outro canto do hospital, enquanto recebia uma medicação pela veia, a Isadora, 6, não conseguia disfarçar a ansiedade em ir para a brinquedoteca, e não demorou em perguntar se o espaço estava aberto, pois como ela mesma disse: “Já já eu vou pra lá”. “Nem fala que tá aberto, porque senão ela já vai correndo pra lá, ela gosta muito e temos de ficar vigiando”, brinca Natiely de Oliveira, 21, mãe da pequena.
Tendo em conta a importância de proporcionar momentos de descontração, o Hospital Universitário organiza a “Semana da Humanização”, em que, por meio de atividades, levará não só as crianças internadas, adultos e familiares, mas também aos funcionários a oportunidade de resgatar a inocência e alegria das crianças entre as paredes do hospital.
Hospital com outros olhos
Desde a sua fundação, o Hospital da Cassems trabalha com uma área específica chamada humanização; nela são desenvolvidas diversas ações e uma delas recebeu o nome de “Plantão da Alegria”, projeto este que hoje conta com a presença de 16 colaboradores do hospital, que levam quinzenalmente alegria e descontração para as crianças internadas, por meio de brincadeiras com personagens fantasiados. De levar alegria, a técnica de segurança do trabalho Fabiola de Deus, também conhecida como “A Doutora Abelhuda”, sabe muito bem.
“Quando me chamaram para fazer parte do Plantão da Alegria eu pensei justamente nisso, que o hospital não é um lugar triste, e sim um lugar alegre, de cura; estou levando alegria para um lugar que já é alegre, já que na maior parte dos casos as crianças vão conseguir a cura. Ajudamos também as mamães, que ficam ali o tempo todo apreensivas, preocupadas. Então, pode parecer pouco, mas levamos 10 minutos de distração, de liberdade da tensão e preocupação, e todo mundo se emociona”, conta orgulhosa, pouco tempo antes de relembrar um dos casos que ficou guardado em sua memória e coração.
“No meu segundo dia no projeto, fomos visitar alguns leitos pré-agendados, já que todos os leitos que visitamos são posteriormente autorizados pelas mães e pela equipe médica, e estávamos indo até o leito do paciente, eu vestida de palhacinha e, ao sair do elevador, encontrei um menininho que teoricamente não ia receber a visita, mas ele ficou parado na porta observando, e acabamos tirando fotos. Após uma semana, a mãe o trouxe para um retorno e eu o vi, mas achei que não se lembraria de mim, muito pelo contrário, sua mãe me contou que ele lembrava de mim todos os dias”, relembrou emocionada.
Por sua vez, Geovana Mourão, recepcionista do setor de oncologia, que há dois meses e meio atua no projeto como a personagem “Cora”, uma abelhinha corajosa, conta que as visitas ajudam muito no tratamento, não só das crianças como também as mamães.
“No início, nos fantasiávamos de personagens clássicos de desenho, mas com o passar do tempo fomos criando personagens para desmistificar o medo a agulhas, jalecos, enfim, e hoje temos um trabalho que eu tenho certeza de que ajuda muito no tratamento. A gente não sabe quantos dias eles vão ficar aqui, mas sabemos que podemos fazer com que esses dias sejam lembrados de uma maneira positiva. Nesse curto tempo a gente ri, conversamos com crianças que são muito tímidas, mas com a gente eles se abrem e se divertem, eles se tornam nossos pequenos grandes amigos”, relata sorridente.
No dia 9 de outubro o hospital oferecerá um café da tarde no andar da pediatria, com a ideia de transformar alimentos saudáveis em formato de produtos não tão saudáveis, mas que os pequenos amam. Além disso serão oferecidas leituras de contos, pinturas, brincadeiras com os profissionais da fisioterapia e entrega de balões.
A arte do cuidado com o próximo e o amor são armaduras que estes guerreiros e guerreiras usam para lutar diariamente contra a tristeza e o desânimo – quem quiser participar das ações pode procurar os hospitais e outros grupos que realizam trabalho parecido. (Texto: Michelly Perez)