Participação na criação dos netos tem pontos positivos, mas não deve ser romantizada, alerta a especialista
Embora o dia 26 de julho marque o Dia dos Avós no Brasil, a ocasião tem servido de alerta para uma tendência que, aos poucos, vem crescendo no país. Dizem que os avós são pais e mães duas vezes, afinal, o papel deles como cuidadores é de longa data. Porém, hoje em dia, cada vez mais vemos avós que exercem o papel de pais, que estão mais presentes na educação e no dia a dia das crianças.
Para Greice Carvalho, psicóloga e professora da Estácio, esse cenário tornou-se mais comum em diversas famílias devido a pontos como a inserção da mulher no mercado de trabalho, o que tornou os cuidados dos avós algo fundamental, como uma rede de apoio às famílias. Mesmo com a ida das crianças para os espaços escolares, em diversas ocasiões elas precisam permanecer com os avós durante parte da noite ou finais de semana, horários que as escolas estão fechadas.
“Tendo os genitores que trabalhar, muitas famílias terceirizam os cuidados desde muito cedo. Algumas famílias preferem deixar com os avós a levar para a escola. Entendendo que os avós além dos cuidados básicos, conseguem ter a questão do afeto e da educação”, completa a psicóloga.
Para Diogo da Silva Neris, 18, estudante de jornalismo, a participação dos seus avós influenciou muito na sua criação, pois além de ter pais, embora separados, os enxerga como figuras paternas.
“Eles são figuras centrais para mim e o modo como eles me criaram acabou refletindo na pessoa que eu sou hoje. Nunca fui privado de qualquer atividade ou outra coisa, mas como minha mãe trabalhava muito na época, eles tomaram a frente por essa necessidade. E foi bom, pois resolvi morar com eles devido aos cuidados”, conta o estudante, que mora até hoje com os avós.
Em relação ao cenário pandêmico, de acordo com Greice, outro aspecto que se pode pensar e que vem acontecendo com frequência, é a companhia que as crianças fazem às pessoas idosas, visto que ali há uma troca mútua entre idoso e a criança, seja de afeto ou cuidado.
Segundo Jair Pereira da Silva, 66, avô de Diogo, cuidar dos netos também teve seus desafios, mas a rotina dos pais, aliada ao tempo mais livre dos avós, foi um facilitador. “Eu e a Regina não éramos só avós, mas pais ao mesmo tempo. A mãe deles trabalhava e eu também, mas em um horário diferente. Minha esposa ficava mais tempo em casa, mas conseguimos conciliar muito bem, tanto que hoje eles preferem morar com a gente. Educamos e mimamos um pouco mais do que deveríamos, mas cuidamos muito bem dos nossos netos”.
A psicóloga explica que mesmo diante desses casos os pais devem ter um tempo de qualidade com os filhos e que conversem sobre a situação em que estão envolvidos. Programar atividades e dialogar com a criança/adolescente pode contribuir não só física, como mentalmente no desenvolvimento. Ainda, conforme a profissional, esses fatores podem evitar que avós e netos tenham a psique afetada de maneira negativa, seja pelo desgaste de quem cuida como de quem recebe cuidados, mas longe dos genitores.
Greice alerta que o processo de se tornar avó/avô não pode ser romantizado, e sim entender que muitas vezes acontece de forma precoce na visão dos envolvidos e pode se tornar uma tarefa muito pesada. Segundo ela, “precisamos respeitar esses fenômenos que acontecem. O amor e as relações de afeto são construídos e estimulados com as vivências e convivências de cada indivíduo”.
A psicóloga reitera que, muitos avós trabalham ou mesmo não querem ter a responsabilidade diária com os cuidados daquela criança e que o diálogo nessas horas é crucial para resolver todos os processos que envolvem a situação.