Árvores, rainhas da Afonso Pena, têm tratamento digno de nobreza

Processo iniciado em 2017 mantém em pé arborização da principal via

Cartões-postais, fotos, vídeos, pinturas… Não importa o retrato, quando se pensa em Campo Grande, a primeira imagem que aparece na cabeça da maioria das pessoas são delas, as árvores da avenida Afonso Pena. No dia Árvore, comemorar nesta segunda-feira (21), e prestes a completar 100 anos, as vovós mais queridas da Capital têm tratamento digno de rainha desde 2017, quando a Prefeitura iniciou os estudos para iniciar o processo de revitalização.

Segundo a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana), as árvores realizam tomografias periódicas, avaliações com especialistas e recebem o tratamento adequado quando diagnosticado algum problema. O processo inicial de catalogação demorou mais de um ano e em agosto de 2018 gerou um relatório completo com a situação de cada uma das árvores.

O estudo contabilizou 24 figueiras cultivadas no canteiro central da Afonso Pena, no trecho entre a rua José Antônio e avenida Calógeras. De acordo com a prefeitura, elas foram plantadas no início da gestão Arlindo de Andrade Gomes (1921-1924) à frente do Poder Municipal. Primeiro juiz de Campo Grande, o pernambucano Gomes teve uma administração progressista. O objetivo ao plantar as árvores era o de dar um ar de boulevard (as famosas alamedas de Paris, capital da França) à cidade, além de garantir sombra à população, já castigada pelo calor.

O plano inicial era ampliar o número de árvores pela cidade, mas faltou dinheiro. O projeto só ganharia um novo capítulo no final dos anos 1930, quando Eduardo Olímpio Machado plantou 19 figueiras na avenida Mato Grosso. As primas, não tão distantes, recebem o mesmo tratamento dentro do programa.

Seja na Afonso Pena ou na Mato Grosso, estas árvores têm condição especial, por serem imunes ao corte, fazendo parte do Patrimônio Cultural do Município de Campo Grande, sendo responsáveis pela identificação da cidade como uma das mais arborizadas do País.

Além disso, são árvores de idade avançada, muitas já senescentes, devido à submissão constante às adversidades que qualquer árvore de ambiente urbano sofre. Assim, estas já prestaram e vêm prestando à nossa cidade serviços ambientais de monta incalculável. Desta forma, faz-se necessário seu acompanhamento, por meio de monitoramento e realização dos tratos culturais mais indicados, visando prolongar sua permanência e dar-lhes melhores condições de vida, tendo em vista o importante papel que desempenham na arborização urbana de Campo Grande.

O processo para tombamento do canteiro central da Afonso Pena foi aprovado pelo Conselho Municipal de Cultura em junho de 2013. O Ministério Público Estadual já havia ajuizado ação civil pedindo o tombamento em junho de 2012, após rumores de intervenção no canteiro central para a construção de corredores de ônibus.

Sem ter como iniciar obras, restou à gestão Marquinhos Trad (PSD) manter o patrimônio. Uma máquina especial de avaliação das árvores foi adquirida. E desde então foram efetuadas tomografias de todas as figueiras imunes ao corte existentes, com a finalidade de avaliar ascondições de resistência do lenho destas árvores, como uma medida auxiliar na análise de riscos destas plantas, bem como para auxiliar na tomada de decisões, tendo em vista se tratar de um exame que dá maior precisão no diagnóstico.

O resultado foi estarrecedor. Das 43 árvores avaliadas, apenas oito apresentavam boa condição do lenho (madeira) em todas as porções examinadas, enquanto que os demais 35 exemplares têm ao menos algum grau de comprometimento. Segundo o relatório da prefeitura, o processo de deterioração já havia sido diagnóstico, mas sem tecnologia adequada para avaliar qual o tratamento a se seguir.

“São todas árvores senescentes, que enfrentam condições adversas, sendo provavelmente o maior prejuízo provocado pela compactação do solo, trepidação pelo tráfego de veículos constante, o estrangulamento das raízes pela ausência de área livre, a exposição a gases fitotóxicos e o estresse hídrico e nutricional prolongado. Verificam-se claramente nelas sintomas de deficiência nutricional, o que ocasiona certa debilidade fisiológica, tornando-as suscetíveis a infestações oportunistas de difícil controle”, aponta o relatório.

Para evitar o apodrecimento, a prefeitura montou sua “operação de spa” para as rainhas da cidade. Para algumas, uma poda de galhos secos basta. Em outras, é aplicado constantemente o óleo de neem, um inseticida orgânico que ajuda no combate a pragas e fungos patogênicos. Em último caso, foi feita a dendrocirurgia, técnica que objetiva a recuperação, através da eliminação de tecidos necrosados, especialmente na região do tronco, com a posterior desinfecção através da utilização de fungicidas à base de cobre, cobrindo assim as cavidades, impedindo o acúmulo de água e a deposição de resíduos nas árvores.

“Vale ressaltar que a deterioração verificada não é passível de recuperação. Portanto, o procedimento dendrocirúrgico tem uma finalidade de estagnar esse processo, melhorando as condições de sobrevida das árvores. Por fim, além dessas ações, os resultados obtidos ainda estão sendo analisados de forma minuciosa e serão utilizados para monitorar as condições de risco dessas árvores, de maneira a se adotar as medidas mais adequadas, garantindo a segurança e respeitando o significado e a relevância que estes seres vivos têm para Campo Grande”, completa a prefeitura em seu texto.

Importância que as rainhas das duas principais vias campo-grandenses esperam ter por parte de seus súditos. Afinal, de nada adianta tanto trabalho se os moradores não colaborarem. E no próprio relatório a Prefeitura deixa claro as dificuldades, listando uma série de lixo retirado de dentro das árvores, como sacos de latinhas e garrafas pet e até preservativos usados. Uma afronta a quem embeleza a cidade e que luta para viver por mais 100 anos.

(Texto: Rafael Ribeiro)

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