Vinte anos depois que a invasão dos Estados Unidos expulsou o Talibã do poder, o Afeganistão está mais uma vez à mercê da milícia fundamentalista. Os insurgentes cercaram Cabul (Capital de Afeganistão) no domingo (15), após uma ofensiva relâmpago em que conquistaram uma capital provincial após a outra em duas semanas, até tomarem mais de 90% do território do país da Ásia Central.
A saída do presidente Ashraf Ghani, conhecida horas depois, incorpora a imagem de um Governo em desintegração um dia depois de ele insistir em “remobilizar” suas forças para impedir um avanço dos talibãs, que é implacável desde que eles lançaram seus ataques em maio, coincidindo com o início da retirada das tropas americanas e seus aliados.
Horas após sua partida, Ghani garantiu que foi embora para evitar “um derramamento de sangue em Cabul”. O presidente afirma em mensagem publicada no Facebook que decidiu deixar o país para evitar confrontos com milícias fundamentalistas que teriam colocado em perigo os habitantes da capital.
O ministro do Interior em exercício do Afeganistão, Abdul Sattar Mirzakwal, confirmou o início das negociações com o Talibã para entregar o poder a um governo de transição. Em uma aparição, ele indicou que “a transferência de poder para o governo de transição ocorrerá em um ambiente seguro e pacífico”, segundo a rede afegã Tolo News, citada pela Efe.
Suhail Shahein, porta-voz dos insurgentes, garantiu em declarações ao canal britânico BBC que a milícia também busca uma transição pacífica de poder que ocorra nos próximos dias. O Talibã está pedindo aos afegãos que não deixem o país por medo. Os hospitais e o aeroporto continuarão funcionando e os suprimentos de emergência não serão interrompidos, garantiu a milícia, segundo a Reuters. Os estrangeiros em Cabul poderão deixar a cidade, se desejarem.
Medo
Os anúncios, no entanto, não impediram que o medo se apoderasse dos cerca de 4,5 milhões de habitantes de Cabul, além dos milhares de deslocados que fugiram de outras áreas por conta do avanço da milícia e se instalaram em parques e ruas.
Na memória de muitos está o regime anterior do Talibã, entre 1996 e 2001, quando uma interpretação rigorosa do Islã foi aplicada, segundo a qual punições físicas, como chicotadas e amputações, eram impostas por crimes como roubo, e as mulheres eram forçadas a se cobrir com a burca e proibidas de estudar a partir dos 10 anos. Agora, os fundamentalistas tentam retratar uma imagem de maior pragmatismo e contenção.
A iminência da chegada da milícia tem causado cenas de pânico e grandes engarrafamentos. Muitos cidadãos correram para os bancos para obter dinheiro e descobriram apenas então que o Governo restringira a retirada a 2.000 dólares. Os residentes de Cabul também começaram a estocar mantimentos em lojas que também estão prestes a fechar, por medo de uma insegurança prolongada, como aconteceu no passado, quando a cidade mudou de mãos.
(Com informações El País)