O mesmo material você também acompanha na página A4 da edição impressa do Jornmal O Estado de 12/13 de julho
Diretor de saúde do CBMMS (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul), e assessor técnico da SES (Secretaria de Estado de Saúde), o coronel Marcello Fraiha, em 27 anos de corporação, já atuou como comandante metropolitano da Capital, relações públicas e chefe de operações da corporação. Atualmente trabalha exclusivamente na direção das atividades de saúde do CBMMS em todo o Estado. Fraiha desempenha um papel fundamental como força operacional na linha de frente de combate ao novo coronavírus. Ao ser questionado sobre a sua rotina antes da pandemia, o coronel reagiu de forma surpresa. “Como era a rotina; boa pergunta! (risos). A minha família mora fora do Brasil, então eu visitava os meus pais e não tenho mais isso.” Fraiha explicou que o cotidiano do serviço era o enfrentamento da violência de trânsito e os atendimentos pré-hospitalares. “Estávamos focados na violência de trânsito, que é o nosso carro-chefe no atendimento pré-hospitalar”, frisou em entrevista exclusiva para o Jornal O Estado em que enfatiza: “‘O drive-thru é um case de sucesso”. Confira:
O Estado: Quem define a estratégia de testagem da COVID-19 em MS?
Cel. Fraiha: Nós temos o referencial pelo Ministério da Saúde, e existem as normas informativas e as notas técnicas, nas quais são definidos os grupos de prioridade para serem feitas essas testagens. O Estado pode fazer um incremento, uma inserção de algum outro grupo, como nós fizemos, por exemplo, com os idosos em instituições de longa permanência e detentos, para priorizá-los nas testagens.
O Estado: Quanto à triagem, qual o critério para o acesso ao exame?
Cel. Fraiha: É necessário apresentar a síndrome gripal em um período de 1 a 7 dias; esse é o marco inicial. Se a pessoa tiver como sintomas coriza, febre, tosse, dor de garganta ou dificuldade respiratória, ela será submetida ao teste RT-PCR, que é o teste de biologia molecular, o swab. Do 8º dia em diante, contados desde o início dos sintomas, nós temos o teste rápido, que é aplicado com a coleta da gota capilar de sangue no dedo, com um resultado que sai em até 15 minutos.
O Estado: MS e Campo Grande são locais do país que ganharam elogios pelo controle da pandemia. Como avalia este momento no qual os casos têm aumentado e as mortes também?
Cel. Fraiha: Por nós sermos, por um longo período, considerados o melhor Estado em termos de resposta contra a COVID-19 em nível nacional, isso também repercutiu para a população como uma sensação de segurança, o que está fazendo com que as pessoas descumpram as recomendações do Poder Público, por isso vemos aglomerações, festas em plena pandemia, o não uso de máscara, justamente pela confiança que estão tendo em nosso trabalho. Só que essa situação está provocando um trabalho cada vez maior da nossa parte, para tentarmos manter o menor índice de mortes aqui em MS.
O Estado: No drive-thru, 90% dos exames são em pessoas que chegam de carro. Seria um erro da abordagem uma vez que boa parte da população não tem carro e utiliza o transporte coletivo, onde há enorme risco de contaminação?
Cel. Fraiha: Nós sempre falamos que o drive-thru é um case de sucesso, isso porque nós pensamos nos profissionais, tanto de segurança pública que lá atuam como os profissionais de saúde que são a linha de frente nesta batalha. No drive-thru são feitas as coletas de RT-PCR e, quando o profissional insere o swab para fazer a coleta nasal, o cotonete provoca espasmos de tosse, espirro e lacrimejamento, que são considerados normais nesse tipo de testagem. É uma testagem de alto risco, onde ocorre o espargimento de gotículas, e isso coloca em risco os profissionais. Por esta razão, nós optamos por colocar esses pacientes que serão testados dentro de uma cabine, dentro de uma célula de segurança, que no caso é o carro dele. O próprio veículo do paciente atua como uma barreira física de contenção de risco biológico, por isso definimos como um case de sucesso, nós criamos uma forma para atender a população e gerar segurança para os profissionais de saúde. E para as pessoas que não possuem veículos, nós destinamos unidades sentinelas em todos os drive-thrus do Estado. São pontos destinados justamente para as pessoas que não possuem veículos e crianças menores de 12 anos, que ficam muito agitadas, e dentro do veículo não seria apropriado realizar o teste.
O Estado: Como funciona a designação do isolamento a partir da realização do teste? Depois de fazer o exame entra na estatística como suspeito?
Cel. Fraiha: A pessoa quando será testada, na maioria das vezes, já possui a consciência de que precisa estar em isolamento, pois, quando é submetida ao exame, os sintomas de síndrome gripal já foram manifestados. Foi amplamente divulgado o afastamento de 14 dias, e muitos relatam que já estão em isolamento domiciliar; quanto a isso, as pessoas estão tendo essa consciência natural. No drive-thru, quando realizamos os exames, principalmente nos casos de teste rápido, nós reforçamos a necessidade de a pessoa fazer o isolamento domiciliar de 14 dias. Em relação à estatística, a pessoa, quando é submetida ao teste, é notificada, então ela já entra como caso suspeito.
O Estado: Por que há enorme número de casos negativos? Qual a confiabilidade?
Cel. Fraiha: O teste RT-PCR é o nosso teste de ouro: a confiabilidade dele é muito maior que a do teste rápido. O teste rápido que foi destinado pelo Ministério da Saúde não é um teste 100%, ele tem 86% de sensibilidade, o que também consideramos elevado.
O Estado: Por que não vem sendo feita a testagem de acordo com o grupo de risco?
Cel. Fraiha: Eles estão sendo atendidos prioritariamente, conforme as recomendações do Ministério da Saúde. Inclusive estamos realizando uma ação de testagens nos idosos que residem em instituições de longa permanência.
O Estado: Quantos testes estão sendo feitos por semana? E por que o tempo para entrega de resultado varia por pessoa?
Cel. Fraiha: O resultado do teste não varia de acordo com cada pessoa, ele está variando de acordo com a demanda. O problema é que, com a elevação dos casos, as pessoas em plena pandemia começam a descumprir as recomendações do Poder Público, elas não obedecem mais ao distanciamento social, ao uso de máscaras e aos cuidados básicos de saúde, e como consequência ocorre uma elevação natural de número de infectados. Essa elevação natural aumenta o número de pessoas que serão testadas nos drive-thrus, que consequentemente elevam o número de testagens para serem rodadas no Lacen-MS (Laboratório Central de Mato Grosso do Sul) a ponto que se chega ao limite. Por isso que, no início da pandemia, nós conseguimos fazer as entregas dos testes entre 24h e 72h, agora, em algumas situações, nós só conseguimos entregar os resultados em quatro dias úteis. A população precisa se conscientizar de que se, em plena pandemia, elas persistirem em não cumprir as recomendações das autoridades sanitárias, isso acarretará em um transtorno para esses serviços. Já a quantidade de testagens, nós temos no drive-thru aqui de Campo Grande 109 testes RT-PCR e 140 testes rápidos todos os dias da semana; em Corumbá nós ampliamos a oferta de exames para 160 testes segunda, quarta e quinta-feira; em Três Lagoas nós fazemos 30 testes RT-PCR, e 60 testes rápidos nas unidades sentinelas; Dourados nós fazíamos 90 testes RT-PCR e conseguimos ampliar para 230 testes, inclusive passamos a realizar coletas nos fins de semana.
O Estado: Caso tenha alguma reclamação sobre atendimento ou dúvidas a respeito do resultado, a população procura qual órgão para reivindicar, já que é um atendimento multidisciplinar?
Cel. Fraiha: Como você muito bem disse, tem o trabalho multidisciplinar, então às vezes em algum ponto pode ocorrer alguma falha. Nós estamos em constantes ajustes, até porque ninguém esperava por uma pandemia. O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul nos demandou a elaboração de estratégias e, graças a Deus, nós conseguimos dar uma resposta muito rápida à população, de algo que ninguém conhecia no mundo todo. Tudo o que foi construído, todas as ações, nós tivemos de criar do zero. Após a definição de estratégias, criamos os pontos de controle para caso a pessoa, por exemplo, não receba o resultado de seu exame realizado. Os erros podem acontecer por uma simples falha na informação do nome, se for digitado com uma única letra errada no sistema, na hora que o consultamos, ele não aceita, por conta daquele pequeno erro. Nós criamos o Help Desk Covid para esses problemas em relação a resultados. A população pode recorrer ao telefone (67) 3323-7100, onde precisa digitar a opção 1 para falar com um atendente que fará essa averiguação. O paciente pode também entrar em contato pelo site saude.ms.gov.br/exame-covid-19/ no qual, ao você tentar obter o seu resultado e não conseguir, no fim da página tem um link de acesso, que direciona para o Help Desk Covid, e a resposta, após o cadastro de algumas informações, chegará por e-mail. E, além disso, nós temos um telefone celular que funciona em horário comercial, o (67) 99252-7691, responsável por auxiliar as pessoas na obtenção dos resultados, caso haja algum problema.
O Estado: Com a demanda crescente, e a possibilidade de ter o segundo drive-thru, isso é estudado para acontecer em que local?
Cel. Fraiha: Nós estamos em fase final de elaboração de um ponto adicional de testes aqui em Campo Grande. Em Dourados nós temos as unidades de saúde assim como temos o drive-thru; lá a capacidade está suprindo a demanda. Corumbá e Três Lagoas com essas elevações nos testes também conseguiram suprir. Na Capital, com a procura muito elevada em razão dos novos números crescentes, nós estamos elaborando estratégias de ampliação, sim, de mais um ponto de coleta de exames, não no formato de um drive-thru. Tão logo seja estruturado, e as tratativas sejam acertadas e confirmadas, esse ponto será divulgado para toda a sociedade.
O Estado: Como fazer para os profissionais da saúde não serem atingidos e não morrerem na pandemia?
Cel. Fraiha: O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da SES (Secretaria de Estado de Saúde), está adquirindo constantemente EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), assim como nós estamos recebendo grandes doações. Estamos treinando as equipes técnicas daqui, em relação ao correto manuseio, manejo e à realização das testagens, e há constante divulgação da necessidade de os profissionais sempre usarem os EPIs de forma correta e apropriada. Nós temos essa preocupação com as equipes da linha de frente e, além disso, temos como retaguarda para esses profissionais as testagens. Caso alguém apresente um quadro sintomático, ele será retirado de seu ambiente laboral, afastado e, em seguida, submetido imediatamente à testagem em regime de prioridade, seja por RT-PCR ou teste rápido.
(Texto: Mariana Moreira)