Eventual disputa pelo governo em 2022 fica pelo ‘maktub’ e senso claro de dever
Em 2014, Nelsinho Trad perdeu ao governo, mas isso não quis dizer que a derrota não significasse um “upgrade” para a sua trajetória. Do episódio, em que não foi para o segundo turno, ficaram lições e um período obrigatoriamente sabático depois, no qual o experiente político buscou aprender, se reinventar. Fora de mandato, migrou para uma nova sigla, tornou-a forte e teve papel decisivo na escolha do prefeito de Campo Grande, em 2016. Sendo assim uma prova de que ainda havia um forte apelo das pessoas à sua credibilidade, ao seu jeito de se integrar a debates na vida pública. Um sinal de que desafios maiores seriam possíveis.
‘Tem pleito que você perde, e sai vencedor’, diz Nelsinho
Em árabe, a palavra “maktub”, bastante usada por ele, significa destino, em suma, “aquilo que está escrito para acontecer”, e graças à sequência dessa trajetória vitoriosa na política, veio o ingresso no Senado. Como o mais bem votado, entre as duas cadeiras disponíveis na eleição de 2018. Assim a chance de fazer parte do Congresso Nacional, como o seu pai fez por tantos anos, no caso em mandato de deputado federal. Acreditar em uma sina, em se tratando de Nelsinho Trad, significa o contrário do que seria a mesma coisa para a maioria das pessoas. Para ele, ter a confiança de um sonho, de um cenário futuro, o faz trabalhar mais, e manter uma essência, que não é moda em tempos de calorosa polarização. Moderador, costuma fazer mais sucesso quando a conjuntura valoriza uma atuação mais propositiva, mais afirmativa, e, por que não, mais prática. Como administrador público, o médico, que já foi vereador, deputado estadual e agora “está senador”, foi na história de Campo Grande quem mais inaugurou obras por dia de mandato. Um triunfo que não ocorreu por acaso, nem só pela força do destino.
Nelsinho frisa o compromisso de ajudar Reinaldo até o fim da gestão, mas pensando no Estado
O Estado: O PSD tem se articulado a lançar candidatos nas maiores cidades, mas quais são as metas que tem a número de prefeitos e de vereadores?
Nelsinho: A meta passa pela ideia de crescimento e protagonismo da sigla em Mato Grosso do Sul. Toda eleição tem sua característica. Será a primeira no sentido de não permitir a coligação de vereadores na chapa proporcional. Vai precisar de alguém que puxe a bandeira dos candidatos dessa composição. Porque, senão, corre-se o risco de a chapa não ter referência. O que conta muito para obter candidatos vitoriosos. Na maioria das cidades populosas do Estado o partido vai ter, sim, nomes na majoritária, pois se trata de uma imposição da nova regra. Isso não quer dizer que eu esteja virando as costas aos aliados que nos ajudaram lá de trás. É uma questão de sobrevivência do partido, até para ele poder servir de parceiro depois.
O Estado: Como presidente regional do PSD, qual o grau de importância à reeleição de Marquinhos Trad?
Nelsinho: Enorme, e ele tem feito o melhor possível por Campo Grande.
O Estado: Nesta conjuntura, existe a possibilidade de o senhor sair candidato ao governo em 2022, tendo no palaque o governador Reinaldo Azambuja como candidato ao Senado?
Nelsinho: Olha, tenho um mandato a cumprir, de oito anos, e sou dirigente partidário. Então, vejo essa conjectura com muita tranquilidade. Meu foco agora é o Senado, onde produzo muito bem, e tenho feito o que posso para ajudar o meu Estado. O que tiver de ser está escrito, e vai acontecer. É maktub! Depende, sim, do seu esforço, da conspiração divina, mas só vai ocorrer se estiver escrito. E nem sempre acontece. Todavia, não é toda derrota de eleição que te faz vencido. Tem pleito que você perde, e sai vencedor. Acredito que foi o que aconteceu comigo em 2014. Daquilo, veio recentemente o triunfo de ser o senador mais bem votado do pleito de 2018. É muito cedo ainda para afirmar projeções de 2022, por isso fica para o momento certo. Quem entende um pouco de política, e acompanhou as duas eleições de 2014 e 2018, sabe que apoiamos o atual governador em suas vitórias, e que isso foi determinante para o resultado. O cenário de agora é ajudá-lo a fazer o melhor possível e lá na frente conversamos sobre composições.
O Estado: Vive-se um momento da política brasileira em que tudo anda polarizado. Como se posicionar?
Nelsinho: Não é fácil. A exceção hoje é ser da forma como escolho trabalhar. Uma pessoa que busque moderar e unir os dois polos. O que se observa é uma polarização da esquerda que saiu com a direita que entrou. E isso leva “ao quê?”, “aonde?”. Na minha avaliação, não leva nada a lugar nenhum. Acabou a eleição? Chega! Vamos olhar pra frente e contribuir para o futuro. Como estou fazendo no Senado, contribuindo, de forma republicana, com as ações do Governo Bolsonaro, pra que o Brasil dê certo. E esses embates ideológicos só servem na época de campanha. Isso porque, acabou o pleito, quem a população escolheu, democraticamente, é quem tem de conduzir. Se ele não for bem, vai ter o momento de o povo virar as costas. Se, por outro lado, ele for bem, pode ser que ele volte. Isso é o sistema democrático, pelo qual tanto lutamos.
O Estado: Como o senhor vê a abertura econômica do mercado brasileiro a partir das articulações do governo federal com diversos países e quais os reflexos para Mato Grosso do Sul?
Nelsinho: O caminho adotado atualmente é, com certeza, o melhor caminho a seguir. Quando um país se relaciona com outro, não muda em nada do que ocorre entre duas pessoas. Deve-se haver ali um elo de confiança e troca, na qual os dois lados estejam de acordo com o que venha a acontecer. Nesse ponto, o institucional é muito parecido com a formação de uma boa amizade. Portanto, se o Brasil quer ter uma boa ponte comercial com outras nações, deve dar uma importância grande a questões diplomáticas, sem seguir por viés ideológico. Precisa haver entre as partes uma harmonia, uma ideia amistosa, sem conflitos desnecessários e sem choque cultural. Se polarizar demais, a amizade não ganha força, não fica duradoura, então acho a metáfora válida. O Governo Bolsonaro percebeu isso ao longo deste mandato, no início até errava neste sentido, mas depois corrigiu a rota e passou a trazer ótimos resultados para a nossa economia, o que refletirá, sim, positivamente para Mato Grosso do Sul. Logo que foi avaliado, que não adiantava pender para um lado só, apenas para os Estados Unidos, esquecer da China, dos países árabes, mudou-se o pensamento, pegaram o avião e foram até essas nações por mais diálogo. Assim, o gesto foi feito, e benfeito, de que o Brasil quer se relacionar bem.
O Estado: Em rede social, o senhor é uma figura bastante pressionada, quanto ao posicionamento que tem escolhido ante a PEC de Segunda Instância. Como é a sua forma de ver o papel dessas plataformas na política de hoje, e o porquê dessa opinião perante a matéria que foi até agora exercida?
Nelsinho: Então, não é tão simples lidar com a internet e a rede social em política. Muitas vezes, você não sabe se quem está do outro lado é uma pessoa, ou um robô. Já teve caso até de crítica que levei, e na hora o perfil escreveu Nelsinho com Ç, contudo acho importante conferir, sobretudo filtrar a informação. Para, naquilo que for afirmativo, propositivo, usar no meu trabalho pelo cidadão. Em estudos que tenho aprofundado quanto a este universo, quando o cara não quer ser seu amigo no Facebook, conhecendo, geralmente não fala “oi!”, “tudo bem?”, igual seria no presencial. Ao contrário disso, ele vem para um conflito preliminar, vem te xingando: “você é um canalha!”, “você é um safado!”. E aí, se você diz: “calma! Minha posição é esta, por conta disso!”. O mesmo que te atacou vem e te fala: “que bom que você respondeu, já que você explicou, eu te respeito”. É um jeito diferente de se relacionar, de se debater, e até de se fazer uma nova amizade (risos). Entretanto é uma realidade, tanto é que existe no Senado a bancada selfie, de que eu preferi não fazer parte. Nada pra mim substitui o olhar franco.
O Estado: E a PEC…?
Nelsinho Trad: Entendo a ansiedade da sociedade de fazer logo uma transformação. De transformar pra amanhã o Brasil em um lugar melhor. E quero isso também. Eu tenho esta esperança. E a esperança tem pressa. No caso da discussão da PEC da Segunda Instância, temos de nos remeter ao Código Penal. E sabe que o Código Penal é da década de 40, do século passado. Ou seja, estamos em 2020. Qual a minha tese? Precisa ser mudado? Precisa. Precisa de uma evolução? Sim, e muito. Até porque o que era a sociedade naquela época é bem diferente de hoje. Mas vale a pena fazer uma transformação rápida, só em um texto, de uma questão de julgamento da Segunda Instância? Acho que não. Sugiro, a respeito, uma discussão macro, por um projeto de lei que seja o mais pronto possível, e venha a contribuir bem para a sociedade como um todo. Não sou contra a mudança, só não quero ela picada.
O Estado: Campo Grande, conforme o secretário municipal de Finanças, Pedro Pedrossian Neto, conseguiu no último ano um equilíbrio financeiro graças ao recorde no envio de repasses viabilizados pela bancada federal. Gostaria que falasse deste trabalho feito à Capital e a outras cidades de MS?
Nelsinho: Uma das principais funções do parlamentar federal, seja deputado, ou senador, é a de conseguir recursos que atendam as cidades do seu estado. E isso vem sendo feito de uma maneira unida, por Campo Grande, e pelas demais cidades. A bancada atua com esse foco, porque busca o melhor para Mato Grosso do Sul. Claro que, dependendo de cada parlamentar, há um esforço maior por algum lugar, influenciado pela base do político, e pelo apoio que ele teve em determinado município no processo eleitoral. E nós priorizamos Campo Grande, sem nos descuidar das outras cidades. Foi algo importante para que a Capital atingisse essa conformidade no exercício financeiro de 2019.
O Estado: Senador, por que se posiciona contra a privatização da Casa da Moeda Brasileira e qual outra venda de ativo do governo federal a que não é favorável?
Nelsinho: Eu penso que as privatizações devem ser feitas com critérios. Não se pode sair privatizando qualquer estatal, sem olhar a fundo o seu funcionamento, e a sua finalidade. Ao que nós estudamos e aprofundamos a respeito, da proposta de privatização da Casa da Moeda, pelo menos até este momento, o que percebemos é que essa instituição é lucrativa, devolve dinheiro para a União, reinveste na sua estrutura e ainda repassa dividendos de metas alcançadas com os seus funcionários. Sem contar que é lá que se produzem as moedas do Brasil, também os passaportes, além dos selos. Ou seja, trata-se de um lugar que mexe com a autonomia da soberania nacional.
(Texto: Danilo Galvão)