Os efeitos socioeconômicos da crise sanitária causada pela covid-19 no Brasil impactaram mais as famílias com crianças ou adolescentes. Dados de uma pesquisa realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) indicam que, desde a confirmação da chegada do novo coronavírus (covid-19) ao Brasil, no fim de fevereiro, essas famílias vêm sendo mais afetadas pela redução de rendimentos e a outros aspectos negativos da pandemia.
A pesquisa Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes foi feita pelo Ibope, entre os dias 3 e 18 de julho, por telefone, ouviu 1.516 entrevistas com pessoas de todo o país, com idade superior a 18 anos. Dos entrevistados, 60% não residiam com crianças ou adolescentes, e 40% moravam com alguém com menos de 17 anos.
Enquanto 55% do total de entrevistados afirmaram que o rendimento familiar tinha diminuído no mês anterior à entrevista, entre as famílias com crianças e adolescentes esse percentual foi de 63%. E ao passo que 37% dessas famílias mais afetadas perderam até metade de seus rendimentos, 79% das que não residem com crianças ou adolescentes afirmaram ter perdido menos da metade de sua renda. Além disso, enquanto do total de entrevistados 46% pediram o auxílio emergencial de R$ 600, entre os que têm crianças ou adolescentes em casa esse percentual chegou a 52%.
“A pesquisa deixa claro que os impactos econômicos e sociais da pandemia afetam mais crianças, adolescentes e suas famílias”, disse a chefe de Políticas Sociais, Monitoramento e Avaliação do Unicef no Brasil, Liliana Chopitea, em nota divulgada pelo fundo.
“Suas famílias [que residiam com crianças e adolescente] tiveram as maiores reduções de renda; a qualidade da alimentação que recebem piorou, e muitos de seus direitos estão em risco. É fundamental entender esses impactos e priorizar os direitos de crianças e adolescentes na resposta à pandemia”, disse a representante adjunta da organização no Brasil, Paola Babos, referindo-se a outros aspectos avaliados na pesquisa, como a segurança alimentar e nutricional.
Hábitos alimentares
Questionados se, em suas casas, hábitos alimentares tinham sofrido mudanças a partir de 24 de fevereiro, quase a metade dos entrevistados (49%) respondeu que sim. Já entre os que moram com crianças e adolescentes, esse percentual foi de 58%. Ainda entre os entrevistados desse segundo grupo, 31% disseram que passaram a consumir mais alimentos industrializados, como macarrão instantâneo, bolos, biscoitos recheados, achocolatados, alimentos enlatados, refrigerantes e bebidas açucaradas, contra apenas 18% dos que não têm crianças em casas e que afirmaram ter passado a consumir alimentos menos saudáveis.
A pesquisa revela que 21% dos entrevistados passaram por algum momento em que os alimentos acabaram e não havia dinheiro para as compras. A situação é mais preocupante entre aqueles que residem com crianças e adolescentes, em que o percentual dos que enfrentaram semelhante situação chegou a 27%.
A pesquisa encomendada pela Unicef também abordou a situação do ensino durante a pandemia. Dos entrevistados que moram com crianças ou adolescentes de 4 a 17 anos, que estavam matriculados em escolas públicas ou privadas antes da pandemia, 91% disseram que eles continuaram realizando em casa as atividades pedagógicas, sendo 87% com a ajuda da internet.
Para as representantes da Unicef, com a pandemia, as desigualdades podem se agravar, prejudicando ainda mais àquelas famílias que já se encontravam em situação de vulnerabilidade.
“É importante que os programas regulares de proteção social incluam, de maneira sustentável, todas as famílias vulneráveis. Por isso, [os programas] precisam ser focalizados nas [famílias] que mais precisam, aquelas com crianças, que já apresentavam altos índices de vulnerabilidades, acentuadas pela pandemia. Em momentos de planejamento fiscal e orçamentário, é fundamental olhar a proteção social não como um gasto e sim como um investimento no presente e no futuro do País”, defende Liliana Chopitea.
(Agência Brasil)