Falta de sombra é mais um problema para enfrentar o calor da Capital

Conhecida como cidade muito arborizada, paisagem com pouco verde chama atenção de quem passa pelo Centro

Como se não bastasse enfrentar as ruas com o risco do novo coronavírus, a promotora de vendas Regiane Costa, 29 anos, teve outra dificuldade nos últimos dias: o calor intenso que voltou a dar as caras na Capital. Não é para menos. Parte do seu trabalho envolve a entrega de folhetos de lojas aos pedestres que circulam pela esquina das ruas 14 de Julho com Barão de Rio Branco. E o forte sol que tem de enfrentar escancara um problema crônico: a falta de sombra nas ruas. Consequência do sumiço das árvores nas calçadas campo-grandenses.

Regiane sofre com a triste constatação da dificuldade que o município tem para acabar com um dos problemas crônicos para a sua sustentabilidade, que é o plantio de árvores. Somente uma em cada cinco árvores plantadas pela prefeitura chegam à vida adulta. “É um sufoco”, exclamou a promotora de vendas, entre um gole e outro de água, fincada no exato meio caminho na distância de cerca de 700 metros entre uma árvore e outra. Pelo trabalho, ela tinha de manter a posição. “Poderia ter mais árvores, né”, lamentou, torcendo por um retorno do “friozinho”, como chamou.

Não é só Regiane na região central que vive o desafio. No bairro Tiradentes, o vendedor ambulante Mário Severino, 41, já mudou de ponto três vezes na Avenida José Nogueira Vieira, por culpa do sol, desde 2009, quando começou a vender filmes e acessórios para celular em uma barraquinha. O motivo foi justamente o fim das árvores. Construção de condomínios fechados, troca de fiação e até acidente de ônibus forçaram as derrubadas das árvores nesse período de 11 anos, levando Severino a negociar com um supermercado um espaço rente ao toldo da entrada. Dali espera o replantio dos vegetais até agora. “Nunca vieram nem ver os buracos que ficaram”, reclamou o ambulante. Campo-grandense da gema, ele confessa notar a sumida do verde no horizonte da Capital ao longo dos anos. “Deve ser o progresso, né”, ironizou.

Deficit

O último levantamento exato sobre árvores de Campo Grande foi feito pelo poder municipal em 2010. Na ocasião, foi descoberto que existiam na cidade cerca de 153 mil árvores vivas. Hoje, o número chegou a quase 229 mil de 161 espécies diferentes, sendo 92 delas nativas do bioma local. Mas estudos produzidos pela Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) apontaram que ainda se precisava do plantio de 44 mil mudas para que a Capital não enfrentasse problemas ambientais, como a poluição do ar e o aumento gradual de temperatura.

Um plano foi colocado em prática e anualmente, desde então, quatro prefeitos depois, a prefeitura mantém o plantio anual de 15 mil árvores. Mas é aí que entra o segundo problema crônico: o vandalismo. Do total de mudas plantadas, apenas 3 mil delas crescem. Segundo a prefeitura, a maioria acaba arrancada ou quebrada pela própria população. “Em comparação ao levantamento de 2010, houve melhoria, mas o efeito é a longo prazo. Quando se planta uma árvore, somente daqui 10 ou 15 anos é que você erá ela adulta. A ação é lenta, demorada, de longo prazo”, disse a superintendente de Fiscalização e Gestão Ambiental da Semadur, Gisseli Giraldelli.

(Confira mais na página A6 da versão digital do jornal impresso O Estado)

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