Levantamento aponta que tráfico de drogas causou ao menos 160 mortes na região somente este ano
O secretário de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, definiu como equivocada a decisão de retirada e realocação dos procuradores do MPF (Ministério Público Federal) de Ponta Porã, em janeiro do ano passado, para Dourados quando a fronteira vive uma guerra por conta do tráfico de drogas. Um levantamento do jornal “Estadão” aponta que a disputa já causou a morte de ao menos 160 pessoas este ano, na fronteira do Brasil com o Paraguai.
Conforme Videira, os homicídios e outros crimes na região são causados pelo tráfico de drogas e são necessárias ações integradas para minimizar os danos e combater a criminalidade. “Ao contrário que fez o Ministério Público Federal retirando os procuradores de Ponta Porã, porque isso é uma política equivocada. Tem de levar a presença do Estado ao local onde estão acontecendo os crimes e não retirar”, ressaltou.
Para ele, o momento exige a união das instituições e poderes e a saída do MPF de Ponta Porã é como um abandono ao povo da fronteira. “Quando estamos buscando fomentar políticas de enfrentamento a criminalidade tem que ter o concurso não só da segurança pública, mas do estado organizado, do Judiciário, do Legislativo, dos governos municipais e das instituições, como Defensoria Pública, Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal”, enfatizou.
De acordo com o “Estadão”, com base em dados da Polícia Civil, das mais de 160 mortes na fronteira, mais de 74 foram registradas no lado brasileiro até setembro. Uma em cada quatro mortes no Estado acontece nos dez municípios da região. Em seis municípios do lado paraguaio, houve ao menos 86 mortos. Segundo as autoridades, a região está em guerra desde 2016, quando a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) passou a controlar o tráfico na fronteira.
No sábado (9), quatro pessoas foram executadas em um atentado em Pedro Juan Caballero, cidade separada de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, por apenas uma rua. Outras três pessoas foram baleadas, mas sobreviveram. A chacina vitimou duas estudantes brasileiras de Medicina, Karine Reinoso de Oliveira, de 21, e Rhannye Jamilly Borges de Oliveira, de 19.
Morreu ainda a paraguaia Haylle Carolina Acevedo Yunis, de 21, sobrinha do governador do departamento de Amambay, Ronald Acevedo. Haylle é também sobrinha do político José Carlos Acevedo, que, neste domingo, foi eleito prefeito de Pedro Juan Caballero pela quarta vez consecutiva.
Conforme a polícia paraguaia, o alvo era Osmar Vicente Alvarez Grance, de 29 anos, supostamente ligado ao narcotráfico. Ele recebeu grande parte dos tiros, a maioria na cabeça. A sobrinha do governador era sua namorada. Ela e as colegas brasileiras cursavam Medicina na Universidade Central do Paraguai, em Pedro Juan. Ainda segundo a polícia, foram disparados 107 tiros de pistolas e de fuzis Ak-47 e AR-15.
Em Ponta Porã, também no sábado, foi executado a tiros o vereador Farid Charbell Badaoul Afif (DEM), de 37 anos, mas a polícia não vê relação entre os casos. De acordo com Videira, equipes da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios) estão no município apurando as causas da morte.
“Neste momento a inteligência do Brasil, da Sejusp [Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública] está atuando em fina sintonia com os órgãos de segurança do Paraguai e também com os da Polícia Federal. Temos em Mato Grosso do Sul o Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública que está subsidiado na tomada de decisões e uma delas é fortalecer o policiamento preventivo principalmente em Ponta Porã. Essa ação foi estendida até Sete Quedas, onde temos linha seca e uma forte atuação do crime organizado”, explicou.
Para o titular da Sejusp, o combate ao tráfico de drogas também gira em torno da prevenção. “Temos de oferecer àquela população vulnerável mais oportunidades. Atuar na prevenção e isso transcende a competência da segurança pública, passa pela educação, pela assistência social e pela infraestrutura”, reforçou.
O que diz o MPF
O jornal O Estado procurou o MPF (Ministério Público Federal) sobre o apontamento do titular da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), Antônio Carlos Videira, quanto à retirada da procuradoria, em janeiro do ano passado, de Ponta Porã.
A assessoria de imprensa encaminhou uma nota publicada no mesmo mês, em 2020, e afirmou que a procuradoria do município não foi fechada, apenas está funcionando temporariamente em Dourados, tanto a atuação quanto o quadro funcional de ambas as PRMs (Procuradorias da República no município) foram mantidos: três ofícios continuam atendendo a Dourados e aos demais 17 municípios que pertencem à 2ª Subseção Judiciária de Mato Grosso do Sul; e outros três ofícios continuam atendendo a Ponta Porã e aos demais 10 municípios que integram a 5ª Subseção Judiciária de MS. Cada ofício é conduzido por um(a) procurador(a) da República.
Ainda de acordo com a instituição, a realocação temporária se deu em função da inadequação do imóvel no qual a PRM de Ponta Porã estava instalada, que apresentava uma série de problemas estruturais graves.
Brasil e Paraguai criam comando bipartite
Conforme informações divulgadas ontem (12), pelo “ABC Color”, o ministro de Interiores, Arnaldo Giuzzio, anunciou a criação de um comando bipartite para combater o crime organizado na fronteira entre Pedor Juan Caballero e Ponta Porã. A intenção é a de unir forças e solucionar problemas em localidades de conflito e evitar novos atentados.
A instalação, segundo as autoridades paraguaias, será imediata e poderá começar neste fim de semana. A ideia é a de instalar o comando junto com a Polícia Federal do Brasil para executar trabalhos de inteligência e cooperação. Até o momento, não foi descartada a possibilidade de expandir o serviço para cidades como Salto del Guairá e Capitán Bado.
(Texto de Mariana Ostemberg)