Você já deve ter sentido dor abdominal, constipação alternada com diarreia e gases após comer determinados alimentos. Saiba que isso pode ser a Síndrome do Intestino Irritável CSII). Para esclarecer mais sobre assunto o caderno “Viver Bem”, conversou com o Gastroenterologista, Dr. João Ricardo Filgueiras Tognini.
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é uma desordem funcional caracterizada por dor abdominal e alteração do hábito intestinal. Sua prevalência estimada gira em torno de dez a 15% da população. Quando a definição se refere a doença funcional, significa que não há nenhuma alteração tumoral ou inflamatória, ou seja, é uma doença da “função” do intestino no que se refere a sua motricidade e contrações.
Costuma estar associada principalmente a desordens psíquicas como depressão, ansiedade e somatização. A fisiopatologia parece estar associada à hipersensibilidade seletiva dos nervos viscerais do intestino, que são os nervos que ativados por substâncias químicas chamadas neurotransmissores provocam a contração intestinal. Quando há hipersensibilidade, há uma contração exagerada que pode ser atribuída aos sintomas.
O diagnóstico é feito pela associação da história clínica do paciente e por exames para descartar outras doenças. Em relação a sintomatologia pesquisada pelo médico, estão os chamados critérios de Roma IV, que uma vez presentes, e descartados outras doenças, fazem o diagnóstico.
Tabela 1 – Critérios de Roma IV para a síndrome do intestino irritável
Dor abdominal recorrente pelo menos uma vez por semana nos últimos três meses, associado com dois ou mais dos seguintes:
– Relacionado à evacuação;
– Associado a alteração na frequência das fezes;
– Associado a alteração na forma das fezes.
Observação: esses critérios devem ser preenchidos nos últimos três meses, com início dos sintomas pelo menos seis meses antes do diagnóstico.”É importante salientar que a apresentação da doença pode ser variável, e a mesma se apresentar com predomínio de constipação, com predomínio de diarreia, ou com alternância dos hábitos intestinais.
A sintomatologia aceita pelos critérios de Roma IV tem como ponto de partida, a dor abdominal, que classicamente deve ser no mínimo uma vez por semana nos últimos três meses, juntamente com dois ou mais dos seguintes sintomas: dor relacionada a defecação, dor associada a uma mudança na frequência da evacuação (constipação ou diarreia) ou dor relacionada a uma alteração na consistência das fezes”, pontua João Ricardo.
Existe tratamento e a pessoa pode conviver bem com o problema. “Uma das medidas iniciais mais importantes é a reeducação quanto ao caráter funcional da desordem. Além disso, é recomendada dieta hipofermentativa. Apesar de não haver confirmação do benefício do uso de fibras, estas estão indicadas principalmente no predomínio de constipação. Atividade física também parece trazer benefícios, e, naqueles que falham ao uso de fibras, alguns laxativos podem ser utilizados com recomendação médica”, afirma o médico.
“Quando há predomínio de diarreia, são sugeridos os agentes antidiarreicos (inibe a peristalse e prolonga o trânsito). Para a dor abdominal, podem-se usar agentes antiespasmódicos que afetam diretamente o relaxamento da musculatura lisa intestinal e aqueles que agem via efeito anticolinérgico (ação nos neurotransmissores). Os antidepressivos que agem por via anticolinérgica diminuem o trânsito intestinal e possuem benefício no predomínio de diarreia”, explica Tognini.
Outra forma de amenizar os sintomas pode ser a mudança de hábitos alimentares. “A dieta na SII é muito variável de paciente a paciente e não há uma regra geral, porém, para muitas pessoas é melhor fazer refeições menores e menos frequentes e tentar comer mais devagar. Pacientes com distensão abdominal e maior produção de gases devem evitar leguminosas como feijão, repolho e outros alimentos de digestão difícil.
Alguns pacientes sentem alívio ao restringir o consumo de alimentos com alto teor de determinados carboidratos denominados. Esse conjunto de alimentos é conhecido como FODMAPS, que se caracterizam por serem mal absorvidos e fermentarem, levando ao aumento dos gases e desconforto. São exemplos a maçã, tomate, trigo, açúcar, leite bovino e alimentos sem açúcar (baixo teor calórico, onde se usa substitutos para o açúcar- goma de mascar, doces, sorvetes etc)”, finaliza o médico.
(Texto: Marcelo Rezende)