A crise sanitária provocada pela COVID-19, desencadeou uma série de mudanças na vida dos brasileiros. Redução salarial, informalidade e desemprego são algumas das consequências econômicas imposta pela pandemia. Com o orçamento reduzido, muitas famílias optaram pela transferência de seus filhos de escolas particulares para a rede pública de ensino. Em Campo Grande, segundo a Semed (Secretaria Municipal de Educação), do dia 1º de junho a 2 de julho, cerca de 905 alunos foram transferidos de instituições privadas para a Reme (Rede Municipal De Ensino).
Conforme a secretaria, a maior demanda é de alunos dos grupos 4 (que completam 4 anos até 31 de março) e 5 (que completam 5 anos até 31 de março). Para estas faixas etárias é obrigatório a matrícula dos alunos em uma instituição de ensino. Nos casos não obrigatórios, de crianças de 0 a 3 anos, a criança deve entrar na fila de espera. Atualmente, a Reme conta com 104 Emeis (Escolas Municipais de Educação Infantil) que atendem aproximadamente 18 mil crianças e 98 escolas de Ensino Fundamental, que atendem 108.885 estudantes.
A responsável pela Central de Matrículas, Adriana Cedrão, reiterou a rede de ensino está preparada para atender a demanda de novos alunos. “Todos os alunos que estão procurando a nossa rede estão sendo encaminhados para alguma unidade escolar. Talvez não seja onde os pais querem porque neste momento as vagas podem estar ocupadas perto de suas residências. Hoje, a Reme já está com quase 109 mil alunos, como são etapas obrigatórias [de ensino] e o município tem que atender, todos são matriculados. Não temos um número em que o município só comporte X alunos, todos que procurarem a rede para ingresso serão alocados para uma escola ou Emei”, frisou. Adriana pontuou que o processo de matrícula dura 15 dias e a partir da efetivação, o aluno já é inserido nas aulas e atividades à distância. “Os pais devem entrar no site da Semed e realizar o cadastro, o que vai gerar um número de protocolo na inscrição. Dentro de um prazo de 15 dias, o responsável pelo aluno é encaminhado para uma escola que entrará em contato com ele, para agendar a efetivação de matrícula, evitando a aglomeração de pessoas.
A jornalista Elaine Valdez transferiu sua filha de uma escola privada para o ensino público na tentativa de cortar gastos, e, com os meses de ensino remoto, acredita que este é um ano perdido. “Eu não sou professora e não posso ficar o tempo todo com a minha filha, me dedicando a explicar o conteúdo, eu, por exemplo, não lembro mais nada de matemática. A minha filha já está no 8º ano, com questões mais avançadas e o que eu acho, sinceramente, é que esse ano [escolar] foi perdido, e até as amiguinhas da minha filha que continuaram na escola particular relatam dificuldades”, relatou.
Colapso econômico
Para o presidente da Associação das Instituições Particulares de Ensino de Campo Grande, Lúcio Rodrigues Neto, as perdas destes alunos na rede privada provocam um colapso econômico no setor. “A secretaria [Semed] está matriculando as crianças bem longe de casa porque como estamos no sistema on-line, você pode estudar perto do shopping Bosque dos Ipês, mesmo o morando no bairro Moreninhas. A nossa preocupação é se aulas voltaram [presencialmente], como essas crianças vão se deslocar para tão longe. E ela talvez não possa voltar para a escola de origem porque as escolas particulares estão sofrendo um impacto econômico no Brasil inteiro, elas foram preteridas de qualquer política de reabertura”, reiterou.
Lucio frisou que diferente da rede pública, com a volta às aulas programada, a princípio, para 7 de setembro, as atividades presenciais nas instituições particulares ainda não possuem data para um retorno. Em tom crítico, o presidente da associação comentou que a impressão que as pessoas têm de que as escolas vão disseminar o vírus é equivocada. “Isso não está se provando real com planos de biossegurança bem estruturados nas cidades que já abriram”, finalizou.
Com escolas fechadas desde março, as discussões sobre uma data que permita o retorno seguro de funcionários e alunos continua. Uma nova reunião entre prefeitura de Campo Grande, MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e entidades representativas das instituições privadas acontecerá hoje (13) para acertar uma possível data de regresso das aulas presenciais, previsto inicialmente para ocorrer a partir do dia 24 de agosto.
(Texto: Mariana Moreira)