Iniciativa atende cerca de 300 pessoas por ano com terapia e oficinas
Por Camila Farias
O projeto Nova Transforma, foi criado a partir da FUNASP (Fundação de Assistência à Pessoa Humana), que em 2011, iniciou um atendimento social com garotas de programa que viviam em situação de exploração sexual e queriam sair da prostituição. A partir disso, a psicanalista Viviane Vaz, que atualmente é a coordenadora do projeto, notou que para poder mudar essa questão de exploração sexual seria necessário tratar o problema mais a fundo.
“Eu fui percebendo na história delas que tudo começou após um histórico de abuso sexual. E foi aí que começamos atender essas vítimas. Nós continuamos atendendo as mulheres, mas atendemos também pessoas que tinham passado por abuso sexual, mas que não estavam na prostituição e precisavam de ajuda”, afirmou Viviane.
De acordo com Viviane, geralmente os casos de abuso começam na infância e justamente nessa etapa da vida, onde os maiores índices de violência sexual acontecem, que o projeto começou a desenvolver esse trabalho, desde 2016, realizando o atendimento para crianças vítimas deste tipo de crime. No local, também são feitas ações de prevenção desde o ano de 2017.
“Nós começamos uma campanha que a gente chamou de maio laranja, pois já existia o dia 18 de maio, mais a gente queria ampliar isso e a ampliar essa proposta, então isso através de um grupo de pessoas, empresários e pessoas que eram apoiadores do projeto novo e tiveram essa ideia de criar o maio laranja. Então a gente trabalha esses 2 eixos. A prevenção e o tratamento de vítimas de abuso. Então, independente da idade, independente do sexo, a gente faz tratamento para vítimas de violência sexual”, contou.
A Lei nº 14.432, de 3 de agosto de 2022, foi sancionada estabelecendo a campanha nacional “Maio Laranja”, neste período são desenvolvidas ações efetivas contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. A legislação foi reconhecida nacionalmente pelo Ministério dos Direitos Humanos
e sancionada.
O Nova atende cerca de 300 pessoas por ano, sendo vítimas de abuso sexual e seus familiares, uma vez que é necessário que todos os envolvidos, vítimas, mães, cuidadores passem por um acompanhamento para lidar com lidas diante dos efeitos da violência.
Em cinco meses Campo Grande registrou mais de 100 casos de estupro de vulnerável
Seja pelo famoso boca a boca, ou por encaminhamento do Tribunal de Justiça o Nova Transforma atende a todos da mesma maneira, passando pela entrevista inicial que é realizada com a Viviane e posteriormente sendo encaminhada para as outras profissionais para dar início ao tratamento.
“Quando ela me conta a história dela, é uma história de dor é uma história sofrida e a uma revitimização. Quando é criança a gente recebe o boletim de ocorrência, eu não pergunto nada, não há necessidade de eu perguntar porque tem todo o relato ali, às vezes até ao processo a gente tem acesso aos relatos apresentados”, destaca Viviane.
Tratar todas as sequelas deixadas pela violência que marca a memória, a vida e até o futuro dessas vítimas pode levar algum tempo, cada caso é analisado de forma individual, mas o período de tratamento inicial é de 2 anos. “Mesmo se precisar nós encaminhamos para outro lugar e ela continua fazendo um atendimento individual. É um trauma muito difícil de ser tratado, então a gente precisa dar esse prazo de tempo pois precisamos ter um fluxo de pessoas. Então quando a gente vê que já deu tempo aqui no projeto, mas ela precisa continuar, a gente faz o encaminhamento”, esclarece Viviane.
O projeto conta com diversos voluntários para manter o seu funcionamento, entre psicólogas, pedagogos, e pessoas que se disponibilizam para realização de atividades com as crianças e adolescentes, além da psicoterapia. Totalmente sem fins lucrativos, o Nova se sustenta a partir de apoiadores.
O trabalho realizado pelo projeto Nova transforma se torna ainda mais necessário tendo em vista a quantidade de registros de estupro de vulneráveis que acontecem aqui na Capital. De acordo com dados da DPCA (Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente), até o mês de maio, houve 155 registros de crimes como esse na delegacia, desses casos apenas 44 chegaram ao NUDECA (Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente), da Defensoria Pública.
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