Pesquisa promovida por professora desenvolveu marca de cosméticos naturais e visa trabalhar com nativos do cerrado
Com o projeto “Química dos Cosméticos”, a professora busca transformar a linha de cosméticos naturais, desenvolvida por alunos em uma escola da Reme, em um empreendimento que promove a biodiversidade local e fomenta a economia do Mato Grosso do Sul. O projeto ganhou vida a partir do Pictec (Programa de Iniciação Científica e Tecnológica do Estado de Mato Grosso do Sul), que desenvolve projetos de iniciação científica para alunos do ensino médio, com o intuito de despertar a curiosidade dos estudantes por conhecimento e transformar teoria em prática.
A partir de pesquisas realizadas na Escola Estadual Teotônio Vilela, no bairro Universitário, em Campo Grande, a professora e alunos desenvolveram uma marca de cosméticos naturais, denominada “Curie Cosmetologia”, que produziu produtos para cuidados com a pele e o cabelo. “Nós temos duas linhas: a linha capilar e a linha de cremes faciais, sendo os séruns, óleos, água micelar e tônico facial. Na linha capilar, nós desenvolvemos shampoo e condicionador, tanto líquido quanto sólido, que é uma novidade no mercado, assim como máscaras capilares, dentre outros”, cita Daniely Queiroz, e explica a importância de trabalhar com produtos naturais.
“A grande vantagem de trabalharmos com produtos naturais é que fugimos de qualquer tipo de reagente, como os derivados do petróleo, que chamamos de petrolatos. Esses produtos sintéticos, de forma geral, não fazem bem à nossa saúde e muito menos ao meio ambiente. A probabilidade de alergia é muito maior. Além disso, esses produtos não são biodegradáveis”, destaca a professora.
Biodegradáveis são produtos compostos que demoram anos para se degradar, como, por exemplo, o petróleo já citado e os seus derivados. Dessa forma, tais substâncias agridem e prejudicam o meio ambiente ao longo de sua degradação, tornando-se acúmulo de lixo em diversos locais e, além da absorção do material por alguns organismos, conforme explica a professora em relação ao uso. “Durante a lavagem, eles vão para o meio ambiente, na água, e isso interfere, prejudica o meio ambiente”, assegura.
Empreendendo com o cerrado
Embora a marca “Curie Cosmetologia” desenvolvida pela professora e alunos resultou em duas linhas cosméticas e os produtos estarem em fase de teste, Daniely afirma que a segunda etapa do projeto, neste ano, é trabalhar com nativos do cerrado e transformar pesquisa em empreendedorismo.
“O nosso cerrado é riquíssimo, o nosso pantanal é riquíssimo. E está tudo no interior do MS. A bocaiúva, que é aquele coquinho com propriedades proteicas e vitamínicas. Podemos extrair óleos essenciais da bocaiúva, que são muito bons tanto para a linha capilar quanto para a linha facial, pois possui antioxidantes, então retarda o envelhecimento”, explica a pesquisadora.
Segundo a Daniely, o futuro do projeto é transformar-se em uma empresa. Seguindo com o propósito de inovar por meio da biodiversidade local, de modo responsável. “O futuro é ter o corpo de uma empresa, sair da pesquisa e já começar a pensar em empreender, com qualidade de tecnologia. Estou sempre em busca de uma inovação, de uma nova tecnologia de desenvolvimento, prospectar novos ativos do nosso cerrado de uma forma que não seja prejudicial ao meio ambiente, utilizando, por exemplo, a biotecnologia”, comenta.
‘Frutos’ do projeto
O projeto “Química dos Cosméticos” iniciou suas atividades em 2022 e foi desenvolvido por meio do PIBTEC, programa da FUNDECT (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul), que contempla professores e estudantes do ensino médio de escolas públicas. Durante a orientação de Daniely, realizada na Escola Estadual Teotônio Vilela, quatro estudantes de 17 anos participaram, enquanto cursava o terceiro ano do ensino médio.
Os estudantes integrados à pesquisa foram contemplados com bolsas de R$ 400 por mês, e a orientadora recebeu R$ 800, por um período de 12 meses. Entre eles, Daniel Vitoriano Santos, que cursa Engenharia Química na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) foi um dos participantes que teve sua formação transformada. Por meio da pesquisa, o estudante encontrou sua vocação e o amor pela vida acadêmica.
“Tudo o que fiz no laboratório, com o projeto, serve e serviu muito para o meu desenvolvimento. E foi muito importante para o meu desenvolvimento pessoal também, descobrindo na prática como funciona a sustentabilidade e trabalhando com produtos naturais. Tive a experiência de trabalhar como cientista, desenvolver pesquisas e escrever artigos científicos”, disse. “Descobri o amor pela química, o amor pela ciência da terra e das exatas. Contribuiu muito para o meu desenvolvimento acadêmico, principalmente agora que estou na universidade”, revela o jovem.
Com o Pibtec os alunos, além de angariarem a oportunidade de usufruírem de um laboratório, Daniel, destaca a importância de aliar essa experiência da prática em escolas estaduais e periféricas.
“Quando falamos da importância da ciência em prática nas escolas, nós estamos falando da inserção de crianças e adolescentes, principalmente de escolas públicas periféricas de Campo Grande. Porque, mais do que algo bonito, é um direito que todos devem ter! E não só as ciências exatas, mas todas as ciências, como as ciências humanas, ciências biológicas. Trabalhar com ciência é fundamental para o desenvolvimento de qualquer indivíduo”, afirma o acadêmico.
A segunda etapa do projeto foi desenvolvida na Escola José Barbosa Rodrigues, sob orientação da pesquisadora Daniely Queiroz. Para mais informações sobre a marca “Curie Cosmetologia”, acompanhe o perfil no Instagram @curie.biocosmeticos
Por Ana Cavalcante