Por que você não precisa abandonar o seu gato por medo da Toxoplasmose

Foto: Internet
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Os felinos, muitas vezes, são alvo de mitos e preconceitos, especialmente quando se trata do lado afetivo e da saúde. Em relação à saúde, a toxoplasmose é frequentemente associada aos gatos, resultando no abandono de animais, principalmente por gestantes seguindo recomendações médicas equivocadas. Contrariando este pensamento, a professora Juliana Arena Galhardo, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, destaca a importância de desmistificar essas crenças.

A toxoplasmose é causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, presente nas fezes de gatos, que, em sua maioria, jovens com hábito de caça ou que vivem em ambientes contaminados, se infectam apenas uma vez na vida. O Toxoplasma se multiplica nos felinos sendo eliminado nas fezes, resultando na conhecida “doença dos gatos”. O ambiente, contudo, precisa manter o parasita por no mínimo três dias para se tornar infectante. Gatos com acesso à rua são mais suscetíveis, colaborando na manutenção do Toxoplasma e ficando vulneráveis a outras doenças.

 

Foto: Juliana Arena Galhardo é Mestre em Ciência Animal pela Universidade Estadual de Londrina. Suas areas de Interesse são em Saúde Pública Veterinária, com ênfase em Epidemiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: geoepidemiologia aplicada à saúde pública e prevenção e controle de zoonoses/UFMS

“Felinos têm o hábito de enterrar as fezes, o que facilita com que o parasita permaneça no ambiente e se torne infectante e contamine solos e vegetais. Este hábito também diminui a probabilidade de o Toxoplasma ficar preso aos pelos do gato. Qualquer animal que ingerir solo ou alimentos contaminados pode ser infectado. Em pessoas e outros animais como cães, bovinos, suínos e aves, o Toxoplasma não completa seu ciclo e acaba permanecendo em outros tecidos como na musculatura ou até no sistema nervoso. Esta permanência se chama “cisto”- e se outro animal ingerir este cisto, também pode se infectar e desenvolver a toxoplasmose.” – Afirma a professora.

A fase aguda da infecção tem cura, mas o parasita persiste, podendo se manifestar ao longo da vida com diferentes sintomas.

“A maioria das pessoas infectadas tem doença leve ou mesmo sem sintomas. As principais manifestações são; febre, mal-estar, dor no corpo, às vezes com o aparecimento de íngua na região do pescoço. Algumas pessoas podem ter quadros mais complicados, como a toxoplasmose ocular ou no sistema nervoso, principalmente pessoas imunocomprometidas.” – Destaca ela

Transmissão

Os principais meios de transmissão são água e alimentos contaminados. Cuidados no preparo e consumo de alimentos, além da ingestão de água tratada, são cruciais para prevenir a toxoplasmose. A maioria das infecções em humanos é leve ou assintomática, manifestando-se com febre, mal-estar e ínguas no pescoço. Em casos complicados, gestantes correm riscos sérios, com possíveis consequências para o bebê. A professora esclarece que o contato com gatos não causa a doença; o risco reside no contato com fezes contaminadas, água ou alimentos mal higienizados.

“Dependendo da fase da gestação, o bebê pode ter hidrocefalia, microcefalia, problemas oculares e várias outras consequências. Por isso, é muito importante que as gestantes e os imunossuprimidos cuidem muito da alimentação e dos hábitos de higiene – e façam o acompanhamento com seu médico de confiança. Ressalto que não é necessário (e nem ético) descartar os gatos! Como expliquei, os hábitos básicos de higiene e guarda responsável são as chaves para a prevenção da toxoplasmose.”

Juliana reforça que não é ético nem necessário descartar os gatos. A higiene e a guarda responsável são as chaves para prevenir a toxoplasmose. Animais com toxoplasmose podem apresentar diversas complicações, enquanto a maioria dos gatos não exibe sintomas. Qualquer sinal em felinos deve ser avaliado por um médico-veterinário de confiança.

Prevenção

Ações simples de guarda responsável, como castração, impedir acesso à rua e manter o ambiente limpo, são eficazes na prevenção. O hábito de enterrar as fezes dos felinos facilita a permanência do parasita, contaminando solos e vegetais. Outros animais, ao ingerir solo ou alimentos contaminados, podem se infectar, iniciando o ciclo da toxoplasmose.

“Os cuidados com o preparo e consumo de alimentos são fundamentais para a prevenção da toxoplasmose em pessoas, além do consumo de água tratada. Inclusive leite cru, vegetais crus e mal lavados ou carnes cruas e mal-passadas. Práticas como a lavagem adequada das mãos, lavagem e desinfecção de vegetais, o consumo de carnes bem cozidas ou bem passadas e leite pasteurizado ou fervido já colaboram muito na prevenção da doença em seres humanos.”

O Ministério da Saúde adverte também orientações para prevenções da doença, como;

  1. Cobrir as caixas de areia das crianças quando não estiverem jogando para evitar que os gatos as utilizem;
  2. Não alimente gatos com carne crua ou malpassada;
  3. Mude a caixa de areia dos gatos de estimação diariamente;
  4. Mulheres grávidas e indivíduos com baixa imunidade devem evitar manusear as caixas de areia;
  5. Ao trocar a areia de caixa ou realizar jardinagem, usar, quando possível, máscaras no rosto e luvas, além de lavar bem as mãos com sabão;
  6. A indústria de carne deve empregar boas práticas de produção, como manter gatos e roedores fora das áreas de produção de alimentos e usar fontes de água com qualidade e adequadamente tratadas para os animais;
  7. A indústria agrícola deve empregar boas práticas de produção para reduzir ou prevenir a contaminação.

Tratamento

Quando se trata de diagnosticar a toxoplasmose em gatos, a tarefa envolve uma cuidadosa análise da história do felino, exames laboratoriais e a avaliação dos níveis de anticorpos contra o protozoário. Contudo, uma prática comum, buscar ovos nas fezes do animal, revela-se ineficaz. A eliminação desses oocistos é intermitente, e sua semelhança com os de outros parasitas dificulta a identificação precisa. A Professora Juliana, destaca que a busca por ovos nas fezes não é uma estratégia valiosa, dada a natureza intermitente dessa eliminação e a semelhança com outros parasitas.

O tratamento da toxoplasmose felina geralmente abrange medicamentos direcionados tanto ao parasita quanto à inflamação que ele desencadeia. No entanto, a chance de recuperação do gato, ou de qualquer paciente, está intrinsecamente ligada à localização do cisto formado pelo parasita.

A complexidade da toxoplasmose felina destaca a importância de abordagens médicas especializadas, considerando não apenas o protozoário, mas também a resposta inflamatória do organismo. A pesquisa contínua nesse campo é fundamental para aprimorar métodos de diagnóstico e a eficácia dos tratamentos, visando garantir a saúde e o bem-estar dos felinos afetados por essa condição médica desafiadora.

Para os seres humanos, não se preconiza um tratamento específico, focando-se, em vez disso, na abordagem dos sintomas apresentados pelo paciente. Contudo, a complexidade da situação muda para aqueles com imunidade comprometida ou que tenham desenvolvido complicações, como cegueira ou diminuição auditiva.

Para esse grupo de pacientes, o encaminhamento para acompanhamento médico especializado torna-se crucial. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento e acompanhamento de forma integral e gratuita, assegurando que os indivíduos afetados recebam a atenção médica necessária para lidar com as nuances da toxoplasmose.

O cuidado estende-se também aos casos de toxoplasmose durante a gravidez. A importância do acompanhamento pré-natal ganha destaque, e as equipes de saúde desempenham um papel fundamental na transmissão de orientações essenciais. O pronto diagnóstico e intervenção adequada são vitais para garantir a saúde da gestante e prevenir possíveis complicações para o feto.

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